Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
13/11/2009 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
120 minuto(s) |
Dirigido por Ang Lee. Com: Demetri Martin, Dan Fogler, Imelda Staunton, Henry Goodman, Emile Hirsch, Paul Dano, Kelli Garner, Jeffrey Dean Morgan, Jonathan Groff, Mamie Gummer, Eugene Levy e Live Schreiber.
Baseado no livro autobiográfico de Elliot Tiber (que não li), Aconteceu em Woodstock oferece um olhar periférico sobre o inesquecível evento que, durante três dias em 1969, celebrou a “paz e a música” ao atrair meio milhão de pessoas para uma enorme fazenda situada a quase 100 quilômetros da cidade que lhe emprestaria o nome. Provavelmente um dos principais responsáveis por fechar os acordos que viabilizariam a festa, Tiber era um decorador que, depois de tentar a sorte em Nova York, retorna à sua miserável cidadezinha de origem para ajudar os pais, imigrantes russos, a gerenciar um igualmente miserável hotel à beira da falência. Responsável pela Câmara de Comércio da cidade, o rapaz usou sua posição para trazer o festival para a região, sendo hostilizado pelos vizinhos que temiam uma verdadeira invasão hippie no lugarejo – o que de fato acabaria se concretizando. Porém, mais do que uma narrativa sobre os bastidores de Woodstock, o filme se propõe a examinar os efeitos benéficos, libertadores, que o evento teve sobre a vida do próprio Tiber – um homossexual enrustido que, oprimido pela mãe dominadora, encontrou ali forças para abraçar a própria identidade.
Infelizmente, este novo filme de Ang Lee (e escrito por seu velho parceiro James Schamus) não se revela particularmente interessante ou minimamente revelador no que diz respeito à natureza de Woodstock ou do próprio protagonista. Mais eficiente ao provocar risadinhas descompromissadas graças a algumas tiradas de seus personagens (especialmente a matrona vivida por Staunton), o longa é hábil também ao estabelecer a decadência da pequena cidade de Bethel já durante os créditos iniciais, ainda que esta economia narrativa logo ceda espaço a esforços bobos de fazer rir e a uma observação frouxa do comportamento de Elliot, vivido de maneira nada carismática por Demetri Martin – o que, sejamos justos, talvez tenha sido o propósito do ator/comediante (e no qual ele talvez tenha exagerado).
Saindo-se bem na recriação da época (os figurinos do normalmente desinteressante Joseph G. Aulisi surgindo como um destaque neste sentido), Aconteceu em Woodstock presta pouquíssima atenção ao festival em si – e quando o faz, ouvimos trechos de algumas canções à distância enquanto Lee, obviamente inspirado no clássico documentário Woodstock, de Michael Wadleigh, emprega a tela dividida e uma fotografia simulando o 16mm para retratar o público do evento sem jamais se concentrar no que ocorria sobre o palco, o que é compreensível (embora desapontador em certo sentido, já que, para um projeto que lida com aquele instante memorável, a trilha traz pouquíssimos atrativos). Da mesma forma, o cineasta resgata figuras centrais daquela história, como Michael Lang (Groff, exalando tranqüilidade) e o fazendeiro Max Yasgur (Levy, que realmente se parece com o original).
No entanto, como já dito, o filme se preocupa mesmo com Elliot Tiber e em sua jornada rumo à auto-aceitação – e é por esta razão que a maneira superficial com que o personagem é desenvolvido se torna um problema tão grande. Ou devemos simplesmente concluir que o LSD, a presença do travesti Vilma (Schreiber, eficaz por sua seriedade) e um confronto artificial com a mãe seriam o bastante para impulsionar o rapaz? Além disso, o roteiro de Schamus investe um bom tempo nos conflitos entre Tiber e seus conterrâneos apenas para eventualmente abandonar a questão sem qualquer resolução mais cuidadosa. E se Imelda Staunton se revela o grande atrativo do longa com o mau humor e a sovinice de sua personagem, não deixa de ser lamentável constatarmos que ela não só é uma caricatura como ainda acaba roubando o filme daquele que deveria ser seu fio condutor: Elliot.
Finalmente, Aconteceu em Woodstock comete seu pecado definitivo ao jamais capturar a essência do festival: sim, o longo e impressionante plano no qual vemos Elliot e um policial atravessando um interminável engarrafamento provocado por hippies é encenado por Lee como o momento-chave da narrativa, mas falha ao ilustrar o poder agregador do evento sem buscar explicar sua origem. Afinal, Woodstock foi uma celebração de quê? Supor que os espectadores já sabem a resposta é uma postura preguiçosa que não condiz com um diretor da estatura de Ang Lee, mas, infelizmente, é isto que ocorre aqui, já que o cineasta parece mais interessado em recriar as viagens psicodélicas dos personagens (como no belo plano em que vemos o campo ondulando como o mar) do que em investigar suas personalidades.
Como se não bastasse, o longa parece ignorar propositalmente o teor político de Woodstock, concentrando-se em seus aspectos financeiros e em alguns jovens tolos que, levados por suas viagens internas movidas por drogas, acreditavam estar pronunciando verdades profundas e reveladoras sobre o universo quando, na realidade, de suas bocas saíam palavras infantis, bobas e sem o menor sentido. Um pouco como o próprio filme, aliás.
13 de Novembro de 2009
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