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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/03/2009 01/01/1970 1 / 5 / 5
Distribuidora

Dia dos Namorados Macabro 3-D
My Bloody Valentine 3-D

Dirigido por Patrick Lussier. Com: Betsy Rue, Jensen Ackles, Jaime King, Kerr Smith, Edi Gathegi, Tom Atkins, Megan Boone, Kevin Tighe.

 

A parte mais importante do título de Dia dos Namorados Macabro 3D encontra-se na abreviação que o encerra: abandonando qualquer pretensão de funcionar como narrativa, o filme de Patrick Lussier coloca os efeitos tridimensionais como centro do projeto, contentando-se em ser uma experiência puramente sensorial – esperando, com isso, que o espectador, fascinado com o cano de espingarda e com a picareta que parecem sair da tela, não perceba a estupidez do que está testemunhando. É claro que, com isso, o diretor abre mão de qualquer pretensão de longevidade que seu trabalho poderia ter, já que o longa perderá o pouco de interesse que poderia despertar ao se ver relegado ao 2D do home vídeo e mesmo ao ser exibido nos cinemas que não contem com a tecnologia RealD.

 

Refilmagem da produção dirigida por George Mihalka (quem? Exato!) em 1981, esta nova versão roteirizada por Todd Farmer (Jason X, Os Mensageiros e que aqui surge como um caminhoneiro que - justiça! - leva uma picaretada na cabeça) e pelo estreante Zane Smith ao menos não perde tempo ao atender os desejos de seu público-alvo (os críticos de cinema), iniciando o massacre de adolescentes já nos primeiros minutos de projeção. A partir daí, a história (ou melhor: “história”) dá um salto de dez anos no tempo, reencontrando os sobreviventes exatamente com as mesmas caras, sem terem envelhecido um único dia sequer, enquanto o traumatizado herói Tom Hanniger (Ackles) retorna à sua cidade natal, palco da tragédia, com o objetivo de vender as minas nas quais o assassino Harry Warden eliminou vários jovens. Hostilizado pelos conterrâneos em função de sua decisão de se livrar das minas, já que estas são o ganha-pão da cidade (será que eles acham que os novos donos vão pagar pela propriedade apenas para fechá-la?), Tom logo se torna suspeito de Axel (Smith), seu antigo rival e agora xerife, quando novos ataques ocorrem após uma década de tranqüilidade. Casado com Sarah (King), ex-namorada do protagonista, Axel ainda mantém um caso com a jovem Megan (Boone) e...

 

... nada disso interessa de fato. Afinal, quem paga para assistir a Dia dos Namorados Macabro (em 3D!) não tem realmente interesse em conflitos entre personagens ou arcos dramáticos, mas sim num único elemento do projeto: o gore, a violência gráfica. Em outras palavras: em mortes absurdamente coreografadas e executadas que façam jus àquelas presentes na série Sexta-Feira 13 (cujo vilão, Jason, é homenageado aqui através do lento caminhar do Mineiro – do tipo que trabalha escavando, não do que come pão-de-queijo – e também no momento em que um personagem chama, assustado, pelo nome de um amigo homônimo daquela criatura). E Lussier não se intimida: ao longo dos 101 minutos de projeção, vemos globos oculares arrancados das órbitas, cavidades torácicas abertas e vazias, corações guardados em caixas de chocolates e por aí afora – tudo, claro, apresentado em efeitos 3D que ressaltam cada aspecto sangrento do que estamos testemunhando.

 

O próprio fato de girar em torno de um Mineiro (mais uma vez: nada a ver com o tipo come-quieto, mas sim com o mata-fazendo-barulho) é algo ideal para uma produção 3D, já que constantemente vemos os túneis estendendo-se para o “fundo” da tela – e quando estamos ao ar livre, o cineasta ainda assim explora a tecnologia através de momentos impactantes (modo ironia “on”) como o sujeito que dispara uma cusparada em uma fogueira ou a mandíbula que, arrancada por um golpe de picareta, voa na direção da câmera. Além disso, Lussier faz questão de constantemente incluir planos nos quais vemos um ou mais personagens através de grades, portas de vidro ou janelas, já que isto ressalta as características tridimensionais de suas composições – mesmo que, claro, nada contribuam para a narrativa. Da mesma maneira, ele constantemente emprega o rack focus (mudança súbita de foco entre objetos em primeiro e segundo planos) para brincar com o 3D, chegando, em certo instante, a usar até mesmo o contra zoom inventado por Hitchcock em Um Corpo que Cai para criar a impressão de que o fundo está se expandindo ao mesmo tempo em que o ator em cena permanece aparentemente imóvel. Em contrapartida, os planos aéreos que revelam a cidade e as minas acabam ganhando uma aparência artificial, como se estivéssemos vendo maquetes – o que certamente não foi a intenção do diretor.

 

Mas se as imagens dão a impressão de tridimensionalidade, o mesmo não pode ser dito sobre os personagens, que são rasos como uma letra de música de Kelly Key:  como o transtornado herói Tom Hannigan, Jensen Ackles se limita a morder os lábios e a franzir a testa, ao passo que Kerr Smith, como o xerife Axel, jamais se decide se quer encarnar o tipo durão ou o sujeito sensível. Enquanto isso, Jaime King, tão promissora em As Branquelas (modo ironia em “overdrive”), é encarregada de interpretar uma personagem tão estúpida que, ao se ver trancada em uma sala enquanto o assassino tenta arrombar a porta, só se lembra de apertar o imenso botão de alarme ostensivamente localizado na parede depois que o vilão já trucidou sua companheira – algo tão divertido quanto o momento em que Axel, ao ser estrangulado pelo Mineiro, aparentemente só se lembra de que pode usar as mãos para se defender depois de um longo tempo no qual se debate com os braços abertos enquanto o outro lhe aperta o pescoço. Mas o destaque no elenco fica mesmo por conta de Betsy Rue, que, apesar de aparecer por apenas alguns minutos na tela, mereceu ser listada em primeiro lugar na relação de atores que abre este texto por conferir uma nova dimensão à expressão “nudez gratuita”, já que praticamente toda a sua performance em Dia dos Namorados Macabro é oferecida sem qualquer peça de roupa enquanto ela corre de cá para lá aos berros. Aliás, arrisco-me a dizer que o filme teria sido bem melhor caso tivesse se limitado a acompanhar a moça pelos demais 90 minutos de sua duração.

 

Incompetente a ponto de não perceber que deveria envelhecer seus atores ao menos um pouquinho para indicar a passagem de dez anos na história, Patrick Lussier atinge o fundo do poço (do túnel?) já na seqüência inicial do filme, quando demonstra não compreender os conceitos básicos de mise en scène ao mostrar três jovens se escondendo do assassino atrás de uma estrutura metálica. Sem enxergar as vítimas, o vilão passa por elas e continua a caminhar por mais alguns metros até que um outro jovem, sem saber o que está acontecendo, surge às suas costas – e, nesse instante, o Mineiro se vira e volta correndo em direção ao rapaz, passando ao lado de seus três alvos iniciais que, portanto, agora deveriam estar completamente expostos ao seu olhar, mas sem notá-los. Ridículo? Sem dúvida, mas à altura dos péssimos diálogos que, além de mal escritos, ainda se dão ao luxo de serem repetitivos (em certo momento, o xerife Axel pergunta duas ou três vezes, em poucos segundos, se suas testemunhas tinham certeza de que o vilão havia morrido anos antes).

 

Como se não bastassem tantos equívocos, Dia dos Namorados Macabro ainda tem que ser assistido em sua versão dublada em função das exigências técnicas da legendagem em 3D – e se os diálogos já são ruins em sua natureza, espere até ouvir os dubladores brasileiros dizendo frases como “Meu Deus, Irene, ele tirou o seu coração!” ou “Harry, é você mesmo?!”. Nestes momentos, meu desejo era o de que o Mineiro (o do tipo ridículo visto neste filme idem, não aquele meu conterrâneo) realmente aproveitasse a tecnologia tridimensional e, acabando com meu sofrimento, rasgasse a tela com sua picareta, libertando-me da tortura de acompanhar suas aventuras.

 

Observação: há um efeito 3D final depois dos créditos que encerram a projeção, caso você queira desperdiçar mais alguns minutos de sua vida com o filme.

 

13 de Março de 2009

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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