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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/04/2009 01/01/1970 4 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
105 minuto(s)

Eu Te Amo, Cara
I Love You, Man

Dirigido por John Hamburg. Com: Paul Rudd, Jason Segel, Rashida Jones, Jon Favreau, Jane Curtin, J.K. Simmons, Andy Samberg, Jaime Pressly, Sarah Burns, Rob Huebel, Aziz Ansari, Joe Lo Truglio, Thomas Lennon, Larry Wilmore, Lou Ferrigno.

 

Eu Te Amo, Cara é um exemplar perfeito da “comédia do constrangimento”: aquele filme cuja narrativa gira em torno de um protagonista que, não importa o que faça, acaba se envolvendo em situações construídas apenas para embaraçá-lo. De Um Convidado Bem Trapalhão à série The Office, estas produções têm, como apelo principal, nossa identificação com a vulnerabilidade de alguém que, de certa forma, representa o próprio espectador em sua inadequação (ou insegurança) diante do convívio social. Porém, aqui este subgênero também se cruza com outro que vem sendo defendido pelo cineasta/roteirista/produtor Judd Apatow nos últimos anos: o que traz homens na casa dos 30 a 40 anos tentando se ajustar à vida de adultos e que gerou obras como Ligeiramente Grávidos, O Virgem de 40 Anos e Quase Irmãos, entre outros.

           

Escrito por Larry Levin e pelo diretor John Hamburg, Eu Te Amo, Cara é uma comédia romântica que foge dos padrões habituais por dois motivos: já começa com o pedido de casamento feito pelo protagonista à amada (que aceita prontamente) e tem, como objeto do desejo deste personagem, não a bela mocinha, mas um amigo – encaixando-se, portanto, naquilo que os norte-americanos batizaram de “bromance” (romance entre bros, “brothers”). Sujeito simpático que só conseguiu estabelecer relações de amizade com mulheres ao longo da vida, Peter Klaven (Rudd) só percebe a falta de um amigo do mesmo sexo quando ouve por acidente as várias amigas de sua noiva comentando sua aparente falta de companheiros – e, assim, ele decide encontrar alguém que possa ser seu padrinho de casamento, partindo para vários encontros às cegas com possíveis candidatos até que, por acaso, conhece Sydney Fife (Segel), um boa-vida cuja casa conta até mesmo com um local específico para masturbação.

           

Tratando a homossexualidade com uma naturalidade reconfortante (o irmão de Peter, vivido por Andy Samberg, é gay assumido, é considerado por seu pai como seu “melhor amigo” e sua orientação sexual jamais é foco de piadas), o roteiro, claro, faz um certo mistério com relação à sexualidade do protagonista: embora claramente apaixonado pela noiva, Peter se encaixa perfeitamente em vários estereótipos do gay moderno: tem gosto impecável, se vira bem na cozinha, anda sempre bem arrumado, é cortês e também o centro das atenções de suas colegas de trabalho, com quem troca confidências – e, como se não bastasse, ao ser beijado por um possível candidato a amigo que confunde suas intenções, ele reage de forma curiosamente passiva, deixando que o outro termine o beijo antes de explicar que não é gay. Com isso, o filme ganha um subtexto curioso ao levar o espectador a questionar o que Peter busca de fato: um amigo ou um homem que o faça assumir a própria natureza homossexual. (Uma dúvida que ainda não sei responder, confesso.) Não é à toa que, em certo momento, ao enquadrar Peter e Sydney num forte abraço, o diretor John Hamburg coloca, ao fundo, várias fontes jorrando água com intensidade, numa referência divertida ao que talvez esteja acontecendo de fato entre os dois amigos.

           

Hamburg, aliás, se mostra bem mais maduro como realizador aqui do que em seu último trabalho, o fraco Quero Ficar com Polly – e talvez o fato de ter finalmente declarado independência (ao menos temporariamente) de Ben Stiller, seu velho parceiro de projetos, tenha sido o que o cineasta precisava para se firmar criativamente. Assim, em vários momentos do filme ele se nega a percorrer caminhos previsíveis, negando ao espectador os batidos desfechos que poderíamos esperar de gags como aquela em que Peter e Sydney gritam sob um cais: imediatamente esperamos ver a reação do protagonista ao perceber que os figurantes ouviram seus gritos, mas o diretor corta para a cena seguinte sem perder tempo com esta frágil piadinha. Além disso, Hamburg usa a subversão de convenções técnicas e narrativas para provocar o riso: em certo instante, por exemplo, vemos Peter e vários companheiros andando em câmera lenta, o que confere ao grupo um ar “cool”, mas logo a cena volta à velocidade normal, expondo o caminhar desajeitado daqueles indivíduos e quebrando a ilusão. Da mesma forma, quando Peter decide rodar uma música de sua banda favorita para a noiva, o som que sai das fracas caixas de seu notebook diverte pelo contraste, já que normalmente a música surgiria amplificada e contagiante na trilha sonora.

           

Mas a melhor surpresa oferecida por Eu Te Amo, Cara reside no tratamento de seus personagens: Sydney, por exemplo, poderia ter sido retratado como um indivíduo excêntrico cujas manias o transformariam numa piada unidimensional, mas, em vez disso, Jason Segel o encarna como um sujeito de carne-e-osso que, idiossincrasias à parte, surge como um homem normal que poderíamos ter como colega de trabalho ou vizinho sem que pensássemos em chamar a polícia (e é por isso que a tagline do filme é mentirosa ao tentar estabelecê-lo como... bom, como um mero personagem engraçadinho de comédia). Ainda assim, Segel é inteligente o bastante para permitir que jamais tenhamos completa segurança acerca de suas intenções no que diz respeito a Peter, criando um pequeno suspense perfeitamente orgânico que jamais trai a natureza do próprio personagem.

           

No entanto, o sucesso do filme se deve principalmente a Paul Rudd, um ator que passei a admirar há mais de 10 anos ao escrever sobre A Razão do Meu Afeto e que também fiz questão de destacar nas críticas de Ligeiramente Grávidos e O Virgem de 40 Anos: bonito, carismático e com um timing cômico invejável, Rudd poderia perfeitamente se estabelecer numa espécie de Cary Grant contemporâneo – e o fato de ainda não ter se transformado num astro como Tom Hanks ou Will Smith é, para mim, algo inexplicável. Adotando uma expressão corporal de constante desconforto ao longo desta produção, Rudd jamais exagera em busca do riso fácil: ao tentar criar coragem para ligar para Sydney, por exemplo, sua hesitação diverte justamente por surgir contida, sem tentar se transformar numa gag por si mesma. Da mesma maneira, as constantes tentativas de Peter em soar descolado e engraçado provocam o riso precisamente graças ao cuidado de Rudd em não tentar ser nem um nem outro – e, em vários momentos, a graça reside justamente nas tentativas de Peter de soltar respostas espirituosas de improviso, mas sem qualquer sucesso.

           

Enquanto isso, o elenco secundário investe pesadamente (e acertadamente) em atores oriundos da televisão, especialmente de séries de humor como Saturday Night Live (Samberg e Curtin), The Office (Jones) e The Daily Show (Wilmore) - além, claro, de trazer ainda a boa ponta de Lou Ferrigno, o Hulk da série “clássica” estrelada por Bill Bixby. Mas, por melhores que sejam estes profissionais em seus respectivos papéis, o destaque fica mesmo por conta de Jon Favreau, que, anos antes de se estabelecer como o diretor de O Homem de Ferro, já exibia seu talento cômico em filmes como Swingers e que aqui encarna um sujeito cujo mau humor crônico se revela sempre hilário.

           

Doce e engraçado, Eu Te Amo, Cara é uma grata surpresa em um gênero que cada vez menos oferece exemplares realmente dignos de nota.

 

Observação: há cenas adicionais durante os créditos finais.

 

24 de Abril de 2009

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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