Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
14/03/2008 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Enrique Fernández, César Charlone. Com: César Troncoso, Virgínia Méndez, Virginia Ruíz, Mario Silva.
Representante uruguaio na corrida pelo Oscar de Filme Estrangeiro em 2008, O Banheiro do Papa marca, também, a estréia do brilhante diretor de fotografia César Charlone (parceiro habitual de Fernando Meirelles) na condução de longas-metragens, crédito que aqui ele divide com o também estreante Enrique Fernández.
Ambientado na cidadezinha de Melo, situada na fronteira com o Brasil, o filme se passa nas semanas que antecedem a alardeada visita do papa João Paulo II ao lugarejo, num evento que poderá atrair a visita de até 80 mil pessoas – algo que imediatamente começa a movimentar a economia local, já que seus humildes habitantes vendem tudo o que possuem com o objetivo de montarem barraquinhas para explorar o grande influxo de turistas. Uma destas pessoas é Beto (Troncoso), que ganha a vida transportando mercadorias (geralmente, encomendas feitas pelos comerciantes de Melo) através da fronteira em sua bicicleta. Achacados por um dos fiscais da alfândega, Beto e seus companheiros de viagem vivem com dificuldade e, assim, a oportunidade de um grande lucro instantâneo com a visita do Papa se torna tentadora. Porém, ao contrário de praticamente todos os seus conterrâneos, Beto não pretende comercializar iguarias, mas sim explorar as necessidades fisiológicas dos visitantes ao construir um banheiro em seu quintal e alugá-lo para aqueles que precisarem de alívio rápido (ele cria dois pacotes de serviço: o “parcial” e o “completo”).
Orgulhando-se de sua inteligência (que, infelizmente, não é tão grande quanto ele imagina), Beto é vivido com imensa espontaneidade por César Troncoso, um dos únicos atores profissionais do elenco. Aliás, a dinâmica que ele estabelece com seus amadores companheiros de tela é espetacular, transformando-o em apenas mais um trabalhador pobre e sem instrução – e sua felicidade ao exibir para a esposa o que comprou com um dinheiro que recebeu é particularmente tocante em função da natureza humilde dos objetos. Enquanto isso, a também profissional Virginia Méndez confere à esposa de Beto um ar de dignidade igualmente comovente, destacando-se na cena em que, enquanto faz planos com o marido acerca da “fortuna” que receberão, é questionada sobre o que pretende comprar para si mesma e responde “Devemos a luz”.
Narrativamente enriquecido pela abordagem neo-realista adotada pelos diretores, O Banheiro do Papa ganha verossimilhança ao acompanhar os detalhes dos preparativos feitos pela população de Melo, chegando mesmo a assumir um tom documental ao colher depoimentos de seus personagens sobre suas expectativas comerciais. Além disso, as diversas imagens de arquivo incluídas ao longo da projeção (já que a história é baseada em fatos reais) conferem ainda mais peso ao que estamos vendo, tornando o filme ainda mais eficaz do ponto de vista dramático.
Equilibrando-se muito bem entre o drama e o humor, O Banheiro do Papa ainda torna-se incrivelmente tenso em seu terceiro ato, quando Beto enfrenta diversos obstáculos para concluir sua obra a tempo. Só lamento que, ao final, o longa não gaste um pouquinho mais de tempo ao abordar as conseqüências da visita de João Paulo II a Melo, já que os efeitos de todos aqueles sacrifícios certamente perduraram durante muito tempo, afetando a vida de toda a população.
Ainda assim, o longa é suficientemente envolvente e caloroso para se estabelecer como uma estréia mais do que promissora deste já veterano profissional.
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