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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
20/10/2007 05/04/2008 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
88 minuto(s)

Direção

Mark Brecke

Roteiro

Mark Brecke , Jason Mitchell

Produção

Mark Brecke , Jason Mitchell

Fotografia

Jason Mitchell

Música

Vivek Maddala

Montagem

Jason Mitchell

Transformaram Nosso Deserto em Fogo
They Turned Our Desert Into Fire

Dirigido por Mark Brecke.

 

Dividindo seu tema com o superior Screamers (que também abordava o genocídio em Darfur, apesar de se concentrar no massacre dos armênios pelos turcos, em 1915), Transformaram Nosso Deserto em Fogo traz até mesmo a articulada jornalista Samantha Power, especialista em Direitos Humanos e também presente naquele filme, como uma de suas principais entrevistadas.

 

Dirigido pelo estreante Mark Brecke, que esclarece sua falta de familiaridade com qualquer técnica cinematográfica já na narração inicial, o filme realmente exibe problemas graves em sua estrutura, como a repetição irritante de informações, entrevistas longas que deveriam ter sido encurtadas por uma edição mais criteriosa e pela utilização simultânea de gráficos, textos e narração, tornando difícil, para o espectador, assimilar todas aquelas informações apresentadas numa torrente quase incompreensível. Além disso, falta, ao documentário, imagens da tragédia no Sudão que confiram mais peso ao que está sendo discutindo, afastando a questão do âmbito teórico-político e aproximando-o daquilo que realmente é: uma tragédia humana.

 

Tudo isto contribui para que Transformaram Nosso Deserto em Fogo se torne excessivamente cansativo – algo particularmente grave em um documentário que pretende atrair a atenção do público para uma questão extremamente importante. Aliás, a decisão de Brecker de se colocar no filme é claramente equivocada, soando como um truque inspirado em Michael Moore e diluindo ainda mais a discussão. Surgindo em um trem enquanto apresenta as fotos que tirou em Darfur para os passageiros, Brecke talvez espere que a reação chocada de seus entrevistados seja significativa, mas o que poderíamos esperar a não ser o choque diante da imagem de cadáveres de crianças? Para piorar, a idéia de usar as perguntas feitas por aquelas pessoas como fio condutor do documentário soa forçada, sugerindo até mesmo um pouco ético ensaio prévio com os entrevistados.

 

Dito isso, o filme é inegavelmente importante por chamar nossa atenção, mesmo que pela enésima vez, para o que ocorre em Darfur. Discutindo a complexidade de uma situação que a ONU falha em atacar em função do comprometimento dos países que fazem parte do Conselho de Segurança (a Rússia vende armamentos para o Sudão e este vende petróleo para a China), o filme ainda resgata o porco acordo de paz patrocinado pelos Estados Unidos junto ao governo sudanês – que, como abordado em Screamers, foi uma maneira inteligente encontrada por este último para manipular os norte-americanos, mantendo-os afastados da questão.

 

Finalmente, o documentário também apresenta um argumento curioso e pouco discutido: freqüentemente, acusamos os Estados Unidos de engajarem-se com alegria em guerras que envolvam ganhos econômicos ao passo que se afastam de conflitos que tenham cunho predominantemente humanitário – e este é certamente o caso de Darfur. Porém, e o papel dos demais países na questão? E o nosso papel com relação ao genocídio no Sudão? Não seria importante que a pressão e o envolvimento internacionais partissem também de países como o Brasil? Infelizmente, parece que todos acreditam ser mais conveniente esperar que Tio Sam decida quem vale a pena salvar ou não.

 

29 de Outubro de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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