Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/06/2012 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Warner Bros. | |||
Duração do filme | |||
113 minuto(s) |
Dirigido por Tim Burton. Com: Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Helena Bonham Carter, Chloë Grace Moretz, Bella Heathcote, Jackie Earle Haley, Gulliver McGrath, Jonny Lee Miller, Alice Cooper, Eva Green e Christopher Lee.
É difícil assistir a Sombras da Noite e não retornar à velha constatação de que Tim Burton parece cada vez mais interessado no estilo de seus filmes e menos na história e nos personagens que habitam seus universos. Apresentado em uma embalagem gótica típica do cineasta, o design de produção do longa é eficiente e impressionante como de costume, contrapondo-se bem à ambientação da história na década de 70 – e, assim, é uma pena perceber que logo o diretor se perde até mesmo no tom que pretende conferir à narrativa, oscilando desajeitadamente entre o terror e a comédia e falhando em ambos os gêneros.
Adaptação de uma série de tevê exibida nos Estados Unidos entre 1966 e 1971 (e que desconheço completamente), o roteiro de Seth Grahame-Smith (inspirado em argumento de John August) tem início de maneira eficiente ao nos apresentar ao protagonista Barnabas Collins (Depp) em uma sequência impactante que retrata a morte de sua amada Josette (Heathcote) e a transformação do sujeito em vampiro graças a um feitiço da enciumada Angelique (Green). Trata-se de uma introdução forte, trágica e sombria que, no entanto, é imediatamente substituída por tentativas de humor quando o rapaz desperta em 1972 depois de permanecer aprisionado por dois séculos em um caixão. A partir daí, o longa investe na velha história do “peixe-fora-d’água” enquanto acompanha os choques experimentados por Barnabas diante de tantas mudanças – que incluem, claro, a decadência de sua antes abastada família, que agora vive à beira da falência na velha mansão Collins. Determinado a recuperar o status de seu sobrenome, o vampiro conta com a ajuda da descendente Elizabeth (Pfeiffer) para enfrentar sua velha inimiga Angelique, que continua decidida a destruí-lo.
Parecendo acreditar que provocará o riso apenas por enfocar os absurdos estilísticos da década de 70, com suas roupas extravagantes e gírias típicas, Burton ao menos se beneficia da excelente trilha da época, que confere atmosfera a um filme desesperadamente em busca de uma. Desperdiçando dúzias de oportunidades de provocar o riso ao criar situações que jamais oferecem um desfecho condizente, Sombras da Noite é um contínuo exercício de frustração: em um momento, vemos Barnabas, mestre em hipnotismo, sendo hipnotizado pela doutora Julia (Carter), mas jamais testemunhamos o que ocorre; em outro, o sujeito surge em meio a um grupo de hippies que filosofam à base de maconha, mas parece não ocorrer a ninguém que vê-lo dopado poderia render resultados curiosos, já que ele jamais experimenta o baseado – e se em certo instante testemunhamos o encontro sexual de duas criaturas fantásticas, o cineasta se limita a mostrá-las girando no ar e arranhando móveis repetidas vezes, demonstrando no mínimo uma terrível falta de imaginação. Para piorar, a produção traz um ritmo bastante irregular, parando em diversos momentos apenas para que acompanhemos Barnabas comentando em voz alta suas impressões sobre o que o cerca.
Por sorte, Johnny Depp é geralmente um ator sempre interessante de observar, criando aqui mais um de seus tipos caracteristicamente bizarros – e se em Alice no País das Maravilhas ele parecia se inspirar em Madonna para criar o Chapeleiro, aqui ele claramente modela Barnabas no Michael Jackson de fim de carreira, fazendo graça também com seus modos vitorianos e vocabulário rebuscado. Enquanto isso, Jackie Earle Haley encarna o mordomo Willie como uma versão do Riff Raff de Rocky Horror Picture Show (que, por sua vez, já era uma paródia de dezenas de ajudantes/mordomos do gênero “terror”), ao passo que Michelle Pfeiffer pouco pode fazer com uma personagem que jamais diz a que veio. E se a jovem Chloë Grace Moretz aposta numa caracterização estilizada e divertida em seu extremo, Helena Bonham Carter surge mais contida do que de costume, o que não deixa de ser uma surpresa. Mas o destaque feminino fica por conta, claro, de Eva Green, que parece disposta a roubar o filme de Depp através de uma composição caricatural de vilã enlouquecida que se encaixa perfeitamente na proposta da personagem – e sua expressão corporal no terceiro ato do filme se transforma quase num balé de excessos.
Trazendo referências sutis e apropriadas a obras como O Mensageiro do Diabo (a imagem de Shelley Winters no fundo do lago), Nosferatu (o despertar de Barnabas) e A Espinha do Diabo (o fantasma de Josette), o filme ainda se dá ao luxo de empregar o Drácula clássico da Hammer, Christopher Lee, numa ponta rápida, mas curiosa. E se o design de produção de Rick Heinrichs merece todos os aplausos do ponto de vista técnico, créditos também devem ser atribuídos à inteligência dos figurinos de Colleen Atwood, que sugere a natureza particular de Victoria (a apagada Heathcote) ao contrapor suas roupas cinza às cores alegres da época e que também se destaca ao sugerir sutilmente as mudanças vividas pela dra. Julia ao gradualmente transformar suas roupas escuras em outras de tons laranja e vermelho.
Soando tolo e clichê ao investir na mais do que batida subtrama da “antiga paixão que ressurge no rosto de uma nova mulher”, Sombras da Noite é divertido o bastante para distrair por duas horas – uma descrição que, infelizmente, pode ser usada para descrever com frequência cada vez maior a obra de um cineasta que costumava saber rechear com emoção seus filmes visualmente espetaculares.
29 de Junho de 2012