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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
26/09/2008 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
118 minuto(s)

Controle Absoluto
Eagle Eye

Dirigido por D.J. Caruso. Com: Shia LaBeouf, Michelle Monaghan, Billy Bob Thornton, Rosario Dawson, Michael Chiklis, Anthony Mackie, Ethan Embry, William Sadler, Eric Christian Olsen.

 

“Que filminho estúpido. E divertido.”

 

Esta foi minha reação imediata quando vi os créditos finais de Controle Absoluto subindo na tela. Embora plenamente consciente de ter acompanhado uma história que trazia mais buracos que a BR-381 (e quem viaja por Minas Gerais sabe o que isto significa), eu deixei a sala com a sensação de ter visto um thriller satisfatório. Mas como isto pode ter acontecido? Será que “desliguei o cérebro” (uma expressão que abomino e que me leva a considerar qualquer crítico que a utilize como uma fraude)? Não, claro que não – mesmo porque, como digo sempre, meu cérebro não veio com chave de on e off. Na realidade, o mérito pelas boas duas horas que passei no cinema cabe ao diretor D.J. Caruso, que, ao longo de sua carreira, vem se destacando por conseguir transformar idéias falhas em filmes dignos, mesmo que não espetaculares (entre eles A Sombra de um Homem, Tudo por Dinheiro e Paranóia, mas não incluindo o terrível Roubando Vidas).

 

Escrito a oito mãos (nunca um bom sinal), Controle Absoluto tem início com uma operação militar que visa matar um terrorista claramente concebido como um dublê de Osama bin Laden. Trancados na sala de comando, os agentes da Inteligência explicam para o Secretário de Defesa (Chiklis) que há apenas 51% de chance de que o alvo seja o correto, mas, mesmo ao receber este dado, o presidente norte-americano ordena o ataque. Um ano depois, somos apresentados ao jovem Jerry Shaw (LaBeouf), funcionário de uma pequena copiadora que acaba de receber a notícia da morte de seu irmão gêmeo (para se certificar de que compreenderemos que os dois eram idênticos, o roteiro obriga LaBeouf a dizer para alguém, durante o velório: “Eu não sou ele”). Mantendo uma relação azeda com seu distante pai (que, para garantir a antipatia do público, é vivido por William Sadler), Jerry mal tem tempo para o luto, já que, momentos depois de enterrar o irmão, é preso e acusado de ser um terrorista, já que uma fortuna apareceu em sua conta bancária e uma tonelada de material suspeito foi enviado ao seu apartamento. É então que uma misteriosa voz feminina ouvida somente ao telefone ajuda Jerry a escapar e o coloca no mesmo carro que a assustada Rachel (Monaghan), que, também sem entender o que está acontecendo, é obrigada pela tal voz a ajudar o rapaz sob pena de ver o filho pequeno ser morto.

 

Buscando desesperadamente estabelecer uma similaridade com a ótima franquia Bourne protagonizada por Matt Damon, Controle Absoluto adota uma montagem frenética enquanto investe num clima conspiratório que mantém o protagonista sempre no escuro, temendo o desconhecido. Ciente de que o roteiro jamais sustentaria uma análise um pouco mais cuidadosa, Caruso tenta, então, evitar que nos concentremos na trama e, para isso, bombardeia nossos sentidos com cortes rápidos e informações irrelevantes que cruzam a tela sem permitir que os capturemos completamente – e enquanto nos preocupamos com o trivial, reviravoltas absurdas tentam passar despercebidas bem diante de nossos olhos. Além disso, Caruso usa o caos para solucionar problemas lógicos: em certo instante, por exemplo, a Voz* no telefone parece assumir o controle do carro no qual se encontra o casal principal, jogando-o à toda velocidade no meio de um cruzamento enquanto são perseguidos por vários policiais, provocando uma série de colisões que piscam na tela – e quando percebemos, os heróis se livraram de seus perseguidores sem que consigamos ter qualquer noção de que como isto se revelou possível (e eu poderia jurar que vi o carro da dupla ser atingido).

 

Apresentando-se como um inimigo interessante em função do mistério que o envolve, de sua aparente inteligência e dos poderes supostamente ilimitados que possui, a Voz* se mantém como um dos pontos fortes de Controle Absoluto até o exato momento em que finalmente descobrimos sua verdadeira identidade – e, a partir daí, o filme desaba não só por se apresentar como um atestado anacrônico de tecnofobia, mas também por escancarar sua total falta de lógica. É difícil compreender, por exemplo, como seria possível arrebentar fios específicos de alta tensão para eletrocutar alguém que se encontra logo abaixo destes e também difícil de aceitar os métodos usados para “ajudar” Jerry – que, sejamos honestos, deveria ter morrido logo no início da projeção depois de saltar de um prédio diante de um trem, de pular deste mesmo trem em movimento ou de ser jogado de uma altura descomunal (isto para não voltar à questão do carro em alta velocidade).  Como se não bastasse, o roteiro tenta se tornar politicamente relevante ao criticar a ação militar dos Estados Unidos em solo estrangeiro, mas tem o cuidado de apontar para o espectador que a ação se passa no fim de janeiro de 2009 – situando-a, portanto, numa gestão claramente diferente da de George “Dubya” Bush e evitando acusações de partidarismo. O que, é claro, representa imensa covardia e anula o propósito original.

 

Beneficiado também por um forte elenco que conta com o talentoso Shia LaBeouf, a subestimada Michelle Monaghan (fantástica em Medo da Verdade) e o sempre interessante Billy Bob Thornton, Controle Absoluto aposta nas atuações destes intérpretes para criar um sentimento de urgência que o roteiro, sozinho, falha em alcançar. Mas o mais importante é perceber como, revelada a natureza da Voz* (numa seqüência patética em uma loja de eletrônicos), é a seriedade com que LaBeouf e Monaghan a encaram que ajuda o espectador a aceitar o conceito verdadeiramente estúpido apresentado pelos roteiristas. Ainda assim, é praticamente impossível conter o riso quando (e a partir de agora deixo claro que abordarei alguns detalhes da trama) a versão feminina de HAL 9000 (eles até se parecem!) pede licença, durante uma conversa com a agente vivida por Rosario Dawson, para que possa se dedicar a outra tarefa, indicando que, ao contrário de meu velho PC 386, ela não tem a capacidade de multitasking.

 

No entanto, isto não chega aos pés dos dois grandes furos (na realidade, crateras) que os realizadores de Controle Absoluto certamente torceram desesperadamente para que o público ignorasse: em primeiro lugar, a base da trama reside no esforço da Voz* para levar Jerry até o centro de comando – e é então que descobrimos que (já avisei: veja o filme primeiro!) ela pretende usá-lo para “destravar” o bloqueio deixado pelo irmão deste, que a impede de levar seu “projeto Guilhotina” adiante. O problema é que ela levou o projeto adiante, despachando pacotes, preparando o instrumento do pequeno Sam e providenciando a confecção da jóia. Naquela altura do campeonato, mesmo que Jerry não a destravasse, tudo já havia sido encaminhado para provocar a morte do gabinete presidencial e praticamente nada poderia ser feito para impedir o atentado. Já o segundo grande furo diz respeito a Rachel: por que, em vez de enviar o cristal explosivo para alguém em outro Estado, a Voz* (supostamente tão inteligente) não obrigou alguém de Washington a usá-lo, evitando uma imensa trabalheira? E – principalmente – por que arriscar a vida da “portadora” da bomba ao colocá-la ao lado de Jerry em vez de designar outra pessoa para a tarefa?

 

Enfraquecendo-se também em função do final artificialmente feliz (a história praticamente exigia uma tragédia ao estilo O Suspeito da Rua Arlington), Controle Absoluto é um atestado da competência de D.J. Caruso, que mais uma vez disfarçou a má qualidade de um roteiro ao empregar com sabedoria (mesmo que deselegantemente) a montagem e uma decupagem cheia de energia. Agora imaginem só o que ele poderia fazer com um bom roteiro em mãos.

 

* Observação: a Voz pertence à atriz Julianne Moore, que não é creditada pelo filme.

26 de Setembro de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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