Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
04/04/2008 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
122 minuto(s) |
Dirigido por Martin Scorsese. Com: Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Ron Wood.
Ao contrário de No Direction Home, extenso documentário que dirigiu sobre a vida de Bob Dylan, o cineasta Martin Scorsese não pretende, neste Shine a Light, destrinchar a carreira dos Rolling Stones ou mesmo compreender o que mantém o grupo unido depois de incríveis 46 anos de estrada. Tampouco é sua intenção transformar o filme num emblemático registro histórico – algo que já foi feito no inesquecível Gimme Shelter, de 1970. Em vez disso, o diretor transforma este projeto numa carinhosa homenagem à longevidade da banda e à energia que os quatro músicos ainda conferem às suas apresentações.
Rodado no final de 2006 durante dois shows realizados no Beacon Theatre,
Permitindo que o espectador tenha uma visão inigualável de tudo que está ocorrendo no palco, Scorsese e o montador David Tedeschi se certificam de incluir momentos reveladores que abrem pequenas janelas para o que se passa na mente dos músicos, como, por exemplo, o instante em que o baterista Charlie Watts, ainda na segunda canção do espetáculo, solta um claro suspiro de cansaço – e observem a expressão sempre sorridente de Keith Richards ao tocar e perceberão não apenas um guitarrista virtuoso que jamais perde o prazer de fazer música como também uma personalidade irreverente que parece estar sempre rindo de uma piada particular. E se presentear membros da platéia com as palhetas utilizadas ao longo do show se torna um ato claro de conexão entre Richards e o público, a inquebrável concentração de Ron Wood se torna, ao seu próprio modo, uma maneira igualmente eficaz de manter os fãs presos à apresentação. Ainda assim, é inegável que a grande estrela de Shine a Light acaba sendo mesmo Mick Jagger, que, aos 63 anos de idade (na época das filmagens), demonstra possuir uma energia de fazer inveja a muitos moleques, atravessando o palco continuamente enquanto dança, brinca com o público e, claro, canta com o mesmo ímpeto do início da carreira.
Servindo como uma referência indireta ao seu O Último Concerto de Rock, de 1978, Scorsese inicia Shine a Light com os preparativos para o show dos Stones, revelando sua preocupação com o posicionamento das câmeras e com a falta de definição do repertório do espetáculo, já que Jagger demora a selecionar as canções que a banda irá executar. Aliás, não deixa de ser curioso que este segmento do filme conte com a participação do ex-presidente Bill Clinton, de sua esposa (e aspirante a candidata à Presidência) Hillary e da mãe desta última, já que apenas estas presenças que representam o establishment norte-americano já servem para separar os Stones de 2006 daqueles de 1969, que contrataram figuras anárquicas como os Hell’s Angels para atuarem como seguranças de seus shows (com conseqüências obviamente trágicas). Em outras palavras: embora a energia se mantenha, o significado da banda para a cultura internacional se alterou radicalmente com o tempo, transformando os antigos bad boys em senhores que, mesmo se entregando ao rock’n roll (e mesmo às drogas, como assume Richards), se tornaram cidadãos do mundo respeitáveis.
Incluindo pequenos trechos de entrevistas feitas com os Stones no início da carreira, Scorsese (fã confesso da banda, como denuncia o uso da música Gimme Shelter em três de seus filmes) prefere se concentrar na apresentação dos músicos, o que não deixa de ser um pouco decepcionante, já que as imagens de arquivos utilizadas são fascinantes e despertam nossa curiosidade. E confesso que acharia infinitamente mais interessante acompanhar os depoimentos irreverentes de Richards e Jagger do que assistir a Christina Aguilera ou Jack White dividindo o palco com os veteranos roqueiros.
Prejudicado também pelo pequeno teatro no qual o espetáculo acontece (uma opção de Scorsese, que queria – compreensivelmente – ter mais controle sobre o ambiente), Shine a Light perde um pouco da energia que normalmente vem do público, já que o diretor praticamente ignora a platéia em sua versão final. Além disso, como já era de se esperar, o repertório do show inclui altos e baixos – e quais são estes, precisamente, dependerá do gosto particular de cada espectador. No fim das contas, porém, o que importa nem é tanto a música, mas sim o prazer inquestionável com que esta é criada e executada pelos envelhecidos, mas sempre contagiantes, Rolling Stones.
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