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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
03/08/2007 29/07/2006 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
115 minuto(s)

Contos de Terramar
Gedo senki ou Tales From Earthsea

Dirigido por Goro Miyazaki. Com as vozes de Junichi Okada, Aoi Teshima, Bunta Sugawara, Yûko Tanaka, Teruyuki Kagawa, Jun Fubuki.

 

Embora seja filho de Hayao Miyazaki, um dos grandes mestres da animação contemporânea, o japonês Goro Miyazaki nunca teve muita experiência com relação ao processo de criação de um longa-metragem animado – e, assim, sua estréia na direção com este Contos de Terramar inevitavelmente soa como resultado claro de um apadrinhamento que nada tem a ver com méritos ou impulso criativo.

 

E o filme sofre com isto. Inspirado numa série de livros publicada na década de 70 por Ursula K. Le Guin (e que já deu origem a algumas versões para a televisão), Contos de Terramar, ao menos em sua forma atual, apresenta uma trama boba que, claramente influenciada pela trilogia de Tolkien, acompanha um jovem príncipe que, depois de matar o próprio pai para tomar-lhe a espada mágica, conhece e passa a acompanhar o mago andarilho Sparrowhawk (uma mistura de Aragorn e Gandalf – ou Arandalf, como queiram). Preocupado com incidentes recentes que indicam uma força maligna em ação, o arquimago apresenta o príncipe Arren à jovem Theru, dona de insuspeitos poderes. Juntos, eles eventualmente entram em confronto com Sauron.... digo, com Cob, um mago travesti que pretende conquistar a vida eterna.

 

Produzido pelo já lendário Studio Ghibli co-criado por Miyazaki pai (ao lado de Isao Takahata), o filme se beneficia da experiência técnica de sua equipe de animadores – algo que pode ser constatado facilmente através de belíssimos detalhes como o cuidado de um personagem ao suspender levemente um portão de madeira para abri-lo e a quase queda do príncipe ao correr, quando recupera o equilíbrio rapidamente. Da mesma forma, o trabalho de sonoplastia da produção é fabuloso, desde os passos de pés descalços na terra ao barulho do mar violento. Em contrapartida, o design dos personagens é decepcionante, já que nenhum apresenta características particularmente marcantes (e é uma grande covardia transformar a ampla queimadura do rosto de Theru em uma mancha vermelha que em nada prejudica sua beleza). Finalmente, a trilha composta por Tamiya Terajima é estranhamente similar a vários trabalhos de James Horner, lembrando especialmente o tema principal de Coração Valente em diversos momentos.

 

Enquanto isso, o roteiro escrito pelos estreantes Goro Miyazaki e Keiko Niwa falha ao não despertar o interesse do público pelos personagens, que são mal desenvolvidos, transformando-se em simples tipos. Como se não bastasse, o herói surge como um jovenzinho aborrecido e sem caráter que, além de matar o próprio pai por motivos fúteis (ambição), não exibe traço algum de personalidade que possa redimi-lo junto ao espectador. Para piorar, sua dinâmica com Theru segue o velho clichê do “eles brigam porque se amam” – e a agressividade da moça para com o príncipe é exagerada e inexplicável justamente por ser uma mera exigência ditada pela convenção.

 

Trazendo diálogos ridículos em sua obviedade (“Você não tem medo da morte; tem medo da vida!”), Contos de Terramar sofre ainda com a falta de ritmo imposta pela inexperiência de seu diretor, só escapando do desastre absoluto graças ao esforço técnico de sua brava – e aqui desperdiçada – equipe.

 

29 de Outubro de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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