Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Michael Winterbottom. Com: Casey Affleck, Jessica Alba, Kate Hudson, Ned Beatty, Elias Koteas, Tom Bower, Simon Baker, Bill Pullman, Brent Briscoe, Liam Aiken, Jay R. Ferguson.
Mesmo que nem sempre acerte em suas escolhas como diretor, uma coisa é inegável acerca de Michael Winterbottom: o cineasta britânico parece disposto a fazer experimentos narrativos em todos os gêneros que lhe caírem em mãos. Depois de comandar cinebiografias com atmosfera quase nonsense (A Festa Nunca Termina), ficções científicas erotizadas (Código 46) e de encenar documentários (Caminho para Guantánamo), o diretor agora volta seu olhar para o filme noir, criando um longa com atmosfera sufocante e um protagonista surpreendente.
Inspirado no livro pulp de Jim Thompson, o roteiro de John Curran se passa numa cidadezinha do Texas na qual o assistente de xerife Lou Ford (Affleck) é conhecido por todos como sendo um rapaz educado e gentil. Depois de receber do chefe a tarefa de abordar uma prostituta local (Alba) e solicitar que ela pare de atuar por ali, o sujeito acaba se envolvendo com a moça ao revelar uma personalidade sádica que encontra reflexo no masoquismo da garota. Eventualmente, porém, um milionário da cidade descobre que o próprio filho também está se encontrando com a prostituta e decide suborná-la para abandonar o lugar – o que dá início a uma série de incidentes trágicos planejados com crueldade pelo insuspeito Lou.
Com uma femme fatale que se revela doce e ingênua e um protagonista que, descobrimos, é um sociopata digno de Patrick Bateman (o personagem de Christian Bale em Psicopata Americano), The Killer Inside Me traz uma narrativa que surpreende à medida que somos apresentados à natureza cada vez mais sombria de Ford. Ocupando um casarão cuja biblioteca traz obras de Freud cercando uma solitária Bíblia, o rapaz não parece dividido ou atormentado com relação à própria psicopatia – e não é à toa que ele mal consegue conter um sorriso de prazer ao espancar uma vítima ou ao antecipar o sofrimento que causará em um jovem que mal desconfia do que está prestes a acontecer. Sempre frio e raramente exibindo algum remorso (na realidade, mais uma espécie de lamento por “ter” que matar alguém de quem sentirá falta), Lou se mostra inabalável mesmo quando percebe que suas ações estão atraindo a desconfiança de um promotor, demonstrando um cinismo assustador ao ser confrontado por este.
Contando com um belíssimo trabalho de recriação de época no que diz respeito às ruas, aos edifícios, aos veículos e aos figurinos vistos ao longo da projeção, The Killer Inside Me também investe em curiosos desvios narrativos nos momentos em que uma personagem fantasia com certos acontecimentos ou em que Lou lê uma carta – quando, então, os devaneios e suposições expressados são retratados na tela como se estivessem realmente acontecendo. Além disso, Winterbottom não hesita em ilustrar as ações do protagonista de maneira intensamente gráfica, demonstrando, por exemplo, a dificuldade de se matar uma pessoa usando apenas as próprias mãos (algo como Hitchcock fez em Cortina Rasgada e Ang Lee repetiu em Desejo e Perigo).
Pecando apenas por alguns diálogos excessivamente expositivos e por perder o ritmo em determinados momentos, o filme ainda traz uma trilha instrumental curiosa que, talvez buscando refletir a natureza psicótica de Ford, freqüentemente espanta ao adotar tons bem mais leves – mesmo alegres - do que poderíamos esperar em função da gravidade do que está ocorrendo em cena.
Estrelado por um Casey Affleck cujo rosto jovial e simpático e cuja voz frágil e gentil contrastam eficientemente com a personalidade doentia do personagem, The Killer Inside Me é um filme cruel que surpreende o espectador. Exatamente como seu protagonista.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.
08 de Outubro de 2010
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