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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
25/11/2011 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora

Happy Feet 2: O Pinguim
Happy Feet Two

Dirigido por George Miller. Com as vozes de Elijah Wood, Robin Williams, Ava Acres, Pink, Common, Hugo Weaving, Brad Pitt, Matt Damon, Sofia Vergara, Hank Azaria, Richard Carter, Anthony LaPaglia.

Lançado em 2006, Happy Feet: O Pinguim foi uma grata surpresa: dirigido pelo veterano cineasta australiano George Miller, o filme contava uma história simples mas envolvente sobre um pinguinzinho adorável que, ao contrário de seus companheiros, não sabia cantar, exibindo porém um insuspeito dom para o sapateado. Tratava-se de uma animação tecnicamente competente que usava as ótimas músicas de maneira orgânica, incorporando-as à narrativa com talento mesmo sem jamais abandonar o espetáculo – e se as canções permanecem como ponto alto desta continuação, é decepcionante perceber que no restante do tempo Happy Feet 2 soa apenas como um caça-níqueis que jamais resgata o encantamento de seu antecessor, caminhando no piloto automático e investindo numa história frágil e por vezes entediante.

Escrito por Miller ao lado de Gary Eck, Warren Coleman e Paul Livingston, o roteiro desta vez se concentra no filhote Erik (Acres), filho do pinguim Mano (Wood), protagonista do filme anterior. Sem conseguir dançar (percebam como os roteiristas simplesmente invertem o conflito que criaram em Happy Feet), Erik sente vergonha por não ter “pés felizes” – uma insegurança que seu pai certamente deveria compreender, tornando sua incapacidade de lidar com o filho algo pouco natural e obviamente usado apenas para gerar algum drama familiar (“E eu que me achava um bom pai”, ele diz apenas). Chateado, o pequeno acaba fugindo ao lado de dois amigos, finalmente encontrando uma tribo de pinguins liderada pelo estranho Sven (Azaria), cuja habilidade de voo encanta os companheiros. Depois de buscar o filho, contudo, Mano descobre que sua própria tribo foi aprisionada em um vale de gelo depois que um iceberg fechou a única saída da região – e enquanto tentam encontrar uma forma de alimentar e libertar os companheiros, Mano e Erik lidam com suas diferenças e com a fascinação que este último desenvolve por Sven.

Clichê e tola, a trama concebida pelos quatro roteiristas ainda se revela tênue, praticamente investindo toda a projeção nas inúmeras tentativas feitas para salvar os pinguins-imperadores, tornando a experiência repetitiva e cansativa. Além disso, a dinâmica entre os personagens parece ignorar todo o desenvolvimento apresentado no longa anterior – e quando Ramon (Williams) decide partir por julgar-se indesejado pelas fêmeas da tribo, por exemplo, Mano não faz qualquer esforço para impedi-lo ou consolá-lo, apresentando-se também como um indivíduo vaidoso e rancoroso ao manifestar ressentimento diante de Sven, que, apesar de arrogante, obviamente busca ajudar os imperadores aprisionados (e é curioso que Mano não exiba qualquer ciúme diante da única atitude que realmente deveria irritá-lo: o flerte de Sven com sua esposa Gloria). Aliás, o descuido de Happy Feet 2 com a história é tamanho que, em certo momento, uma onda gigante derruba Ramon, embora os três filhotes que o seguiam jamais pareçam ser atingidos pela água. Como se não bastasse, o filme ainda busca criar sua própria versão do esquilo Scratch da série A Era do Gelo ao introduzir uma subtrama paralela completamente dispensável envolvendo dois krills que se afastam de seu grupo movidos por curiosidade e por um súbito desejo de individualidade.

Recheada de diálogos terrivelmente clichês (quando os roteiristas vão começar a se envergonhar de escrever a frase “Acredite em si mesmo”?), esta continuação difere ligeiramente do original ao enxergar os humanos com olhos mais otimistas, embora praticamente ignore-os depois de investir um longo tempo na sugestão de que desempenharão um papel importante na trama, o que mais uma vez denuncia a preguiça na concepção da narrativa. Em contrapartida, a ideia de usar atores reais nas sequências envolvendo a tripulação de um navio (e que já havia sido empregada no primeiro longa) é eficaz, criando um estranhamento interessante que reflete as diferenças entre os universos dos pinguins e dos “alienígenas”.

Tecnicamente, aliás, Happy Feet 2 é impecável: além dos movimentos detalhistas e convincentes dos personagens (alcançados através do motion capture), a equipe de Miller demonstra cuidado com os elementos mais sutis, como os pequenos reflexos brilhantes na neve e a pulsação dos órgãos luminescentes dos krills. Além disso, o tamanho diminuto destes últimos obriga (ou melhor: permite) os animadores a imaginarem aquele mundo também numa escala microscópica – e, assim, subitamente a câmera se aproxima da neve apenas para revelar cada cristal de gelo em seus menores detalhes, o que representa uma atração à parte. Para completar, o filme impressiona particularmente nos planos abertos (frequentemente aéreos) que expõem milhares de pinguins se movendo numa coreografia cuidadosa, mas que permite pequenas diferenças individuais que expõem a utilização de um software de simulação de massas poderoso em sua capacidade de conferir “personalidade” a cada figurante.

O que nos traz, claro, ao ponto mais forte de Happy Feet 2, seus números musicais, que aqui infelizmente acontecem em menor número e, embora eficazes, soam como interlúdios encaixados de maneira artificial na história (ao contrário do que ocorria no original, como já apontado anteriormente). Ainda assim, Miller concebe estas sequências com uma visão grandiosa que aposta em vários planos aéreos imponentes que percorrem a paisagem com rapidez, mergulhando na multidão de pinguins ou afastando-se destes com vigor enquanto os animais cantam e dançam canções escolhidas com perfeição pelo cineasta (e que geralmente representam surpresas divertidas para o espectador).

Assim, é lamentável que o diretor permita que percebamos tratar-se de um espetáculo vazio no qual o poder das imagens tenta despistar a falta de conteúdo - e Miller chega a visitar brevemente o espaço, num plano belo, mas sem o menor sentido ou propósito. Com isso, quando o filme chega ao fim, o público sente-se exaurido pelo excesso de luzes, cores e sons de uma produção que tem tudo, menos alma.

28 de Novembro de 2011

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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