Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
16/04/2010 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Paul Greengrass. Com: Matt Damon, Brendan Gleeson, Greg Kinnear, Amy Ryan, Jason Isaacs, Khalid Abdalla, Yigal Naor.
Qualquer um que tenha acompanhado o noticiário internacional na última década tem plena consciência do imenso embaraço que a mais recente investida norte-americana no Iraque representou. Aliás, “embaraço” é mais do que um eufemismo, mas uma ofensa às memórias dos milhares de iraquianos e norte-americanos mortos graças às decisões repugnantes do governo Bush, que, usando de forma imoral os atentados de 11 de Setembro, não hesitou em invadir um país que nada teve a ver com aqueles atos terroristas apenas para ter acesso ao petróleo do país e para depor um antigo inimigo que tentara matar o papai do Presidente (e que era cruel, sim, mas não pior do que tantos outros psicopatas que administram países miseráveis ignorados pelos EUA por não terem jazidas de ouro negro). Ignorando relatórios que acusavam a inexistência de armas de destruição em massa no país de Saddam Hussein, o Pentágono insistia em enviar soldados em missões arriscadas em busca de bombas que sabia de antemão não existirem, num descaso assustador para com as vidas dos jovens militares e dos iraquianos que certamente morreriam em confrontos absolutamente desnecessários.
Baseado em livro jornalístico de Rajiv Chandrasekaran (“Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq’s Green Zone”), o roteiro do veterano Brian Helgeland (Los Angeles – Cidade Proibida, Sobre Meninos e Lobos) busca justamente refletir sobre essa atitude assassina do Pentágono ao se concentrar no competente Roy Miller (Damon), líder de uma equipe especializada em buscar as tais armas invisíveis e que se torna cada vez mais frustrado ao arriscar a vida de seus homens em missões sem resultado. Desconfiado de que seus líderes estão escondendo algo, ele busca o auxílio de um analista da CIA igualmente cético, Martin Brown (Gleeson), que vem se opondo aos planos do representante do Pentágono, Clark Poundstone (Kinnear), de alçar ao poder um ex-exilado iraquiano sem qualquer representatividade no país com o claro objetivo de transformá-lo num testa-de-ferro norte-americano. Determinado ainda em dissolver o exército do Iraque (algo que traria resultados catastróficos, diga-se de passagem), Poundstone passa a ser pressionado pela jornalista Lawrie Dayne (Ryan), que, manipulada pelo sujeito, no passado publicou uma série de artigos que acabaram sendo utilizados para justificar a guerra.
Como é fácil perceber pelo parágrafo acima, Zona Verde é mais do que um filme de ação; é um thriller político carregado em tons conspiratórios e repleto de personagens inteligentes que estão constantemente tentando passar à frente dos demais. Assim, é natural que o projeto traga na direção o excelente Paul Greengrass, que, afinal, vem se especializando em narrativas do tipo, que trazem toques documentais em histórias envolventes e trágicas - desde seu excepcional Domingo Sangrento até o devastador Vôo United 93 (e não nos esqueçamos dos dois últimos capítulos da trilogia Bourne, que confirmaram seu talento para lidar com seqüências de ação em uma trama complexa e inteligente). Trabalhando com o mesmo diretor de fotografia de Guerra ao Terror, Barry Ackroyd, Greengrass é hábil ao retratar o caos natural de ações como aquelas comandadas pelo herói, empregando a câmera na mão com o claro objetivo de mergulhar o espectador no calor do confronto e acertando também no belíssimo design de som, que investe nos detalhes importantes das cápsulas ejetadas das armas rebatendo no chão, nos gritos constantes e nos disparos ensurdecedores que nos fazem questionar como aquelas pessoas conseguem pensar no meio de tanto barulho. Ainda assim, Greengrass acaba exagerando nesta abordagem durante o terceiro ato do filme, quando a câmera excessivamente instável, os cortes rapidíssimos e a escuridão acabam tornando a ação praticamente incompreensível para o público.
Retomando a parceria da série Bourne, Greengrass também acerta ao escalar Matt Damon como o determinado protagonista do projeto: ator que sempre traz uma clara aura de inteligência aos personagens que interpreta, Damon também é especialista em viver tipos sérios que jamais parecem sorrir e que trazem o peso do mundo nas costas – uma abordagem perfeita para um sujeito que, preso entre a sujeira da política e as conseqüências reais da guerra, deve usar aquilo que sabe fazer bem (empregar estratégias militares para alcançar objetivos distantes) para contornar os obstáculos criados por burocratas e políticos poderosos, ambiciosos e inescrupulosos (uma mistura sempre perigosa). Empregando um tom de voz mais rouco e desgastado, Damon consegue mais uma vez a proeza de levar o espectador a ignorar sua aparência juvenil, embora, claro, sua aparência estabeleça um claro contraste com o rosto apropriadamente cansado e tenso do ótimo Brendan Gleeson.
E se Amy Ryan pouco pode fazer ao encarnar uma clara versão da jornalista Judith Miller (com a diferença que sua personagem parece ter princípios, ao passo que Miller é uma reacionária sem caráter), Greg Kinnear, ator sempre (e injustamente) subestimado, mais uma vez faz um ótimo trabalho ao encarnar Poundstone como um homem que, claramente convencido de estar agindo corretamente, se transforma num vilão perfeitamente verossímil e detestável. Fechando o elenco, o escocês Khalid Abdalla (que interpretou um dos terroristas em Vôo United 93) merece destaque por criar um homem que, tentando ajudar seu país, se sente terrivelmente frustrado ao perceber que, por mais que prove seu valor, é sempre visto com desconfiança pelos norte-americanos – e a dignidade revoltada que Abdalla deixa transparecer é um espetáculo à parte.
Empregando os efeitos visuais de forma abundante para recriar um Iraque destruído pelas bombas (não que estes sejam óbvios; o grande mérito de Zona Verde é justamente usar os efeitos de maneira orgânica e quase imperceptível), o filme merece créditos por se preocupar em usar sua embalagem de “longa de ação” para abordar um assunto sério que deveria ganhar mais destaque na imprensa mundial. Ao menos, até que Bush, Cheney & Cia. sejam finalmente julgados por crimes contra a Humanidade.
Ei, um homem pode sonhar, não pode?
15 de Abril de 2010
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