Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/08/2008 01/01/1970 2 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
112 minuto(s)

A Múmia: Tumba do Imperador Dragão
The Mummy: Tomb of the Dragon Emperor

Dirigido por Rob Cohen. Com: Brendan Fraser, Maria Bello, John Hannah, Luke Ford, Isabella Leong, Russell Wong, Liam Cunningham, Jessey Meng, Anthony Wong Chau-Sang, Michelle Yeoh e Jet Li.

 

A Múmia 3 é o tipo de filme concebido com uma calculadora em mãos. Em vez de tentarem responder a perguntas do tipo “esta história requer um novo capítulo?” ou “como continuar a desenvolver os personagens de forma interessante?”, os produtores desta continuação provavelmente só se interessaram em avaliar a oscilação de público entre um filme e outro, a diferença no preço dos ingressos e a porcentagem da arrecadação líquida exigida por Brendan Fraser. Quando os números (considerando, claro, o mercado internacional e receita em DVDs) bateram no azul, o projeto ganhou luz verde – e o fato dos dois primeiros filmes (e do spin-off estrelado por The Rock) já terem sido esquecidos, da atriz principal se recusar a voltar e do criador-diretor-roteirista Stephen Sommers estar mais interessado em Comandos em Ação não fez a menor diferença. Com relação à “história”, ora... se os anteriores já se mostravam claramente inspirados pela série Indiana Jones, por que não ir além e copiar elementos daquelas aventuras?

 

Escrito pelos parceiros Alfred Gough e Miles Millar, A Tumba do Imperador Dragão já começa com uma narração clichê sobre a “lendária luta” entre o Bem e o Mal, numa introdução excessivamente longa que busca explicar a origem do vilão principal deste novo capítulo: o Imperador Han (Jet Li). Cumprida (e “comprida”) esta tarefa, reencontramos nossos velhos amigos Rick (Fraser) e Evelyn (Bello) O’Connell, que agora levam uma existência entediada depois das aventuras anteriores – e quando digo “velhos amigos”, estou obviamente sendo irônico, já que, apesar dos roteiristas insistirem em tratar estes personagens como figuras icônicas do Cinema (“Lá vamos nós de novo!”, grita o herói, em certo momento, como se tivéssemos passado os últimos anos antecipando seu retorno), a verdade é que provavelmente ninguém sentiu muita falta do casal ou desta série. Seja como for, os O’Connell logo viajam para Xangai, onde se reúnem ao filho Alex (Ford), agora adulto, e ao irmão de Evelyn, Jonathan (Hannah). Minutos depois, adivinhem?, uma nova múmia está à solta.

 

O primeiro sinal do descaso com que a produção é tratada pelos realizadores, aliás, já surge ao descobrirmos que estes querem que aceitemos o ator Luke Ford, de 27 anos de idade, como o filho de Brendan Fraser (39 anos) e Maria Bello (41 anos) – algo que não soa plausível em momento algum do filme, já que Fraser parece, no máximo, irmão mais velho do rapaz (e vê-lo tentando bancar o pai experiente de um adulto é algo que nos atira para fora do filme). Além disso, o roteiro apela para a velha dinâmica do conflito de gerações, retratando Rick e Alex sempre discutindo enquanto a pobre Evelyn busca reaproximá-los (e, claro, uma aventura é o remédio que os dois precisam!). Para piorar, Ford parece não compreender que o (limitado) charme dos filmes anteriores residia no fato dos personagens não levarem a sério os perigos que corriam, como se estivessem cientes de se encontrarem num filme inspirado pelas antigas cinesséries -  o que o leva a transformar Alex numa figura aborrecida, desinteressante.

 

Aliás, A Múmia 3 abandona qualquer vestígio da auto-paródia que tornou seus antecessores suportáveis, já que Fraser e Hannah parecem ser os únicos a insistirem numa abordagem semi-cômica – num esforço sabotado pelo roteiro, pelos colegas de elenco e pela direção caótica de Rob Cohen, que, sem compreender muito bem o que sustenta uma comédia, usa a fraca trilha de Randy Edelman para embalar, com uma música engraçadinha, cenas cujos esforços cômicos já surgem fracassados (basta dizer que, em dois momentos separados um do outro por poucos minutos, Cohen e Edelman apelam até mesmo para a velha – e desgastada – piada da trilha romântica que é subitamente interrompida quando os esforços de sedução de um personagem são frustrados pelo parceiro). Vale dizer que o desespero dos roteiristas na concepção das piadas torna-se tão intenso que, em certo instante, eles chegam a jogar uma vaca no filme sem a menor explicação, colocando-a num avião com o simples propósito de incluírem uma gag escatológica; assim que cumpre esta função, ela é descartada sem que descubramos por que estava ali (minha conclusão: ela estava interessada em mudar de ares e pagou pela passagem com leite).

 

E se Fraser ao menos exibe certo carisma, Maria Bello surge em cena claramente ansiosa, esforçando-se ao máximo para ser engraçada – o que resulta numa caracterização exagerada e (ironicamente) sem a menor graça. Aliás, aqui mais uma vez o roteiro superestima a importância da série ao incluir uma piada que faz referência à mudança da atriz que interpreta a personagem, já que Rachel Weisz se recusou (sabiamente) a retornar: em certo momento, Evelyn, ao se referir ao seu passado, diz que aquela era “uma pessoa completamente diferente”, repetindo, sem o mesmo efeito, a piada feita por George Lazenby ao substituir Sean Connery como 007 em A Serviço Secreto de Sua Majestade (“Isso nunca aconteceu com o outro cara!”). Além disso, A Múmia 3 segue à risca a velha regra que domina as franquias de Hollywood e que prega que, a cada novo filme, mais e mais personagens devem ser adicionados. Assim, se antes tínhamos o filho pequeno dos O’Connell, agora este ganha um interesse amoroso – que, por sua vez, traz consigo uma mãe imortal. E o vilão, claro, é devidamente acompanhado por um general inescrupuloso (o veterano Anthony Wong, desperdiçadíssimo) e a bela oficial que acompanha este último.

 

Com um orçamento que se torna mais inchado a cada novo capítulo (outra regra de Hollywood), A Múmia 3 ao menos mostra, na tela, os dólares gastos em sua produção, já que a quantidade de efeitos visuais (e a ótima qualidade destes) chega a impressionar mesmo pelos padrões atuais. Particularmente eficazes são aqueles usados para conceber o vilão vivido por Jet Li e seus cavalos de pedra – e mesmo que a inclusão de uma tribo de Abomináveis Homens da Neve soe como mais uma medida desesperada do roteiro (não perguntem), é um consolo constatar que estes são tecnicamente impecáveis. Por outro lado, nem os melhores efeitos do mundo conseguem trazer ressonância emocional a uma narrativa mal desenvolvida – e ver dois exércitos gigantescos constituídos por anônimos gerados em computador se enfrentando numa vasta e igualmente virtual planície é uma experiência que enche os olhos, mas que não causa impacto dramático algum. Como se não bastasse, Cohen filma e monta as seqüências de luta de maneira caótica, desperdiçando até mesmo o que deveria ser um momento icônico: a luta entre Jet Li e Michelle Yeoh.

 

E como já dito anteriormente, a maneira descarada com que o roteiro copia elementos da série Indiana Jones chega a impressionar: de Caçadores da Arca Perdida, temos a relíquia usada para apontar a localização de um lugar “histórico” e o herói que passa por baixo de um veículo, sendo arrastado por este; de O Templo da Perdição, surge a ambientação em Xangai (onde até mesmo o terno branco e a gravata preta usada por Indy no início do filme são recriados como o figurino de Alex; e, claro, A Última Cruzada “empresta” o conflito entre pai e filho e a necessidade de encontrar um artefato místico para salvar a vida de um personagem ferido. Além disso, até os tons em sépia da fotografia de Douglas Slocombe são recriados por Simon Duggan, ao passo que a trilha de Edelman inclui acordes claramente inspirados na composição de John Williams. E por menos que tenha gostado de O Reino da Caveira de Cristal, ao menos este contava com o charme do Indiana original, o que representa uma clara vantagem com relação a esta cópia barata (e se tivesse sido produzido um ano depois, aposto que este A Múmia 3 teria um “fêmur de diamante” ou algo no gênero).

 

A propósito: eu já disse que, em 2003, a LucasArts lançou um videogame intitulado Indiana Jones e a Tumba do Imperador? Caso encerrado.

 

02 de Agosto de 2008

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!