Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
12/01/2007 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
100 minuto(s) |
Em seu longa de estréia, Bufo & Spallanzani (2001), o diretor Flávio R. Tambellini se apresentava como uma boa promessa: apesar dos clichês e do final decepcionante, o filme contava com atuações eficazes, uma montagem ambiciosa e com uma fotografia mais do que apropriada. Infelizmente, pouco mais de cinco anos depois, o cineasta tropeça em seu segundo trabalho, que, além de falhar nos quesitos técnicos, cria uma narrativa frouxa que parece não levar a lugar algum.
Escrito por Cesário Mello Franco a partir de seu próprio livro, o roteiro gira em torno de Antônio (Marinho), filho adolescente de um casal rico que, desafiando os desejos do pai, dá aulas para jovens carentes e deseja cursar Cinema. Tímido e introspectivo, o garoto revolta-se ao saber que o pai (Calloni) está sendo acusado de corrupção e sente vergonha por ter uma mãe alienada (Gam) que se entrega aos livros de auto-ajuda. É então que uma tragédia leva o rapaz a sentir necessidade de investigar o passado do pai, o que o leva a conhecer a fotógrafa Carmem (Ferraz), que talvez possa revelar o que ele deseja saber.
O primeiro problema de O Passageiro diz respeito aos seus personagens, que são uniformemente aborrecidos – a começar por Antônio, um adolescente cuja revolta mais parece coisa de menino mimado: ao brigar com o pai, por exemplo, ele atira um aparelho celular no chão, quebrando-o, e, mais tarde, ao encontrar a mãe em meio a uma crise depressiva, a primeira coisa que faz é perguntar por que esta arrumou seu quarto (ao que parece, mantê-lo bagunçado era uma maneira de manifestar sua veia artística). Enquanto isso, Ângela (a mãe) revela-se uma dondoca com propensão ao alcoolismo que evita qualquer tipo de confronto; Mauro (o pai) surge como um sujeito machista, corrompido e agressivo; e Carmem (a amante) é basicamente uma mulher instável, covarde e inconseqüente. Passar quase duas horas ao lado destas pessoas, como podem imaginar, não é experiência das mais agradáveis – especialmente se considerarmos que o elenco oferece performances monocórdias, como se fosse um pecado incluir qualquer corzinha nas falas e em suas inflexões. Ainda assim, é possível perceber, em alguns momentos, o potencial do jovem protagonista Bernardo Marinho e da bela Luiza Mariani, que talvez venham a se sobressair quando tiverem personagens melhores em mãos.
Já Tambellini decepciona ao criar quadros feios e estáticos e ao empregar uma fotografia sem personalidade (criada pelo geralmente competente Pedro Farkas) que em nada contribui para envolver o espectador ou mesmo estabelecer o clima de melancolia tão necessário para a narrativa. Além disso, confesso já estar farto de planos rodados em público nos quais os “figurantes” (leia-se: transeuntes comuns) se mostram surpresos com a presença da câmera – algo que denota certa preguiça dos realizadores, que poderiam perfeitamente realizar as filmagens em horários nos quais as vias públicas estivessem mais vazias (como nas manhãs de domingo, por exemplo). Finalmente, a montagem de Sérgio Mekler (outro que também costuma se sair bem melhor) peca pela falta de foco e pela desatenção: por que se esforçar tanto para estabelecer que um dos amigos de Antônio é o responsável por organizar jogos de perguntas e respostas para as amigas da mãe do garoto se isto jamais terá importância para a história? Da mesma maneira, os flashbacks envolvendo as conversas entre o protagonista e o pai são intrusivos, interrompendo a narrativa de maneira geralmente desajeitada.
É irritante, também, perceber a mão pesada dos realizadores ao lidarem com aquelas que parecem considerar como as “mensagens” do filme: depois de dar esmola a alguns garotos, Ângela imediatamente pede que seu motorista particular passe por outro caminho a fim de evitar a proximidade com os “pivetes”, num comentário pouco sutil sobre a hipocrisia e o descaso das classes dominantes para com a tragédia social brasileira. Mais tarde, é a vez da jovem Cristina (Mariani) fazer um discurso frágil sobre a suspensão de bolsas de pesquisa nas universidades federais – o que, por incrível que pareça, acaba se revelando mais sutil do que a “subtrama” (na realidade, duas menções) envolvendo uma adolescente grávida, num outro exemplo de cenas que poderiam ter ficado no chão da sala de montagem (ou na lixeira do computador).
Mas o mais inacreditável é perceber como O Passageiro faz questão absoluta de retratar todos os personagens endinheirados como figuras infelizes ao mesmo tempo em que os mais humildes surgem sempre mais espontâneos e alegres – aliás, a única cena no apartamento de Antônio em que alguém surge rindo é aquela que mostra a empregada da família se agarrando ao namorado no quartinho dos fundos. Romantizando de maneira imatura a juventude pobre do pai (uma visão ingênua compartilhada pelo próprio filme), Antônio é o porta-voz da principal mensagem de Tambellini e Cesário Mello – e esta, acreditem ou não, é a de que “o dinheiro não traz felicidade”. Uau. Só faltou dizer que “panela velha é que faz comida boa”.
Ou melhor... de certa forma, O Passageiro não fica longe disso – embora Carolina Ferraz esteja a anos-luz de ser considerada “velha”, é óbvio que a atriz é, sim, “madura” demais para o jovem Bernardo Marinho. Infelizmente, os tais “segredos de adulto” mencionados no subtítulo parecem se limitar basicamente à perda da virgindade – e se transar é o que basta para passar à vida adulta, é fácil compreender por que os personagens desta produção são tão imbecis.
12 de Janeiro de 2007
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