Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/12/2006 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
104 minuto(s) |
Se você já assistiu a dois ou três romances, precisará ver apenas os dez minutos iniciais de Ela Dança, Eu Danço para saber exatamente como tudo irá acabar. Isto não é, porém, algo necessariamente ruim – afinal, o filme de gênero existe justamente porque sentimos uma espécie de conforto ao acompanharmos fórmulas claramente estabelecidas (imagine a decepção que teríamos se um desastre matasse o casal principal nos momentos finais da projeção). Não, o que realmente importa, em obras deste tipo, é o caminho que percorreremos até o desfecho: a experiência será divertida? Oferecerá uma ou outra surpresa? Os atores convencem em seus papéis? No caso de Ela Dança, Eu Danço, as respostas para estas perguntas são, respectivamente, “mais ou menos”, “não” e “sim” – e, infelizmente, isto não é o bastante.
Escrito por Duane Adler e Melissa Rosenberg, o filme nos apresenta a Tyler Gage (o carismático Channing Tatum, de Ela é o Cara), um rapaz sem perspectivas que passa seu tempo roubando carros e cometendo atos de vandalismo ao lado dos amigos Mac (Radcliff) e Skinny (Washington). Certa noite, os três invadem uma escola de artes e destroem vários cenários e adereços de cena, sendo surpreendidos por um vigia que consegue evitar a fuga de um deles: Tyler. Condenado a prestar 200 horas de serviços comunitários justamente na instituição que prejudicou, o sujeito logo se encanta com a bela dançarina Nora (Dewan), que está preparando uma apresentação para o show que marcará sua formatura – ocasião em que será julgada por diretores de várias companhias de dança, podendo assegurar uma vaga em uma delas. Quando o parceiro de Nora torce o tornozelo, porém, a garota é obrigada a procurar um substituto para os ensaios: Tyler, que, não por acaso, é um excelente dançarino de rua.
E é aí que o roteiro de Adler e Rosenberg começa a decepcionar: certamente a dupla poderia encontrar formas infinitamente mais plausíveis de levar Tyler e Nora a dançarem juntos, já que é inacreditável que a moça não consiga encontrar um único dançarino razoavelmente qualificado entre as dezenas de alunos da escola (quando a diretora interpretada por Rachel Griffiths manifesta sua incredulidade com a ausência de substitutos competentes, confesso que esperei que ela dissesse em seguida: “Desse jeito, vou ter que fechar a escola, pois estamos fazendo um péssimo serviço!”. Isto, no entanto, não aconteceu.). Para piorar, mais tarde os roteiristas simplesmente se esquecem deste problema e, quando Nora decide ampliar sua coreografia, vários outros alunos qualificados se materializam instantaneamente. Como se não bastasse, o único obstáculo que o roteiro consegue colocar no caminho de Nora e Tyler é a presença de um namorado esnobe que jamais chega a trocar um beijo sequer com a garota e que é prontamente despachado assim que o filme conclui não precisar mais dele.
Mas não é só, já que a dupla de roteiristas parece determinada a seguir todos os clichês do gênero: a mocinha tem um “lugar especial” que freqüenta desde a infância e que insiste em apresentar ao namorado; a mãe da garota é uma mulher fria que nunca comparece aos shows da filha e que insiste em convencê-la a fazer algo mais “produtivo”; e, finalmente, é preciso que ocorra uma tragédia (terrivelmente artificial e que, lamentavelmente, não provoca impacto algum no espectador) para que todas as peças se encaixem e o herói perceba com clareza o que deve fazer. Infelizmente, nada disso é, a rigor, necessário para que Ela Dança, Eu Danço conte sua historinha – e a única conseqüência da utilização destas convenções é o cansaço do público ao perceber que nada de novo ou interessante acontecerá ao longo da projeção.
Enquanto isso, a cineasta Anne Fletcher (coreógrafa veterana que aqui faz sua estréia na direção) apela sempre para o óbvio ao ilustrar cada aspecto da trama: para justificar as ações criminosas do protagonista, por exemplo, ela retrata o pai adotivo do rapaz como um alcoólatra que passa os dias sentado em uma poltrona diante da televisão e que só abre a boca para xingar a família ou pedir mais cerveja (isto é o bastante para atirar um adolescente no mundo do crime?). Isto, no entanto, nem se compara à maneira ridícula encontrada por Fletcher para mostrar para o espectador que Tyler agora está em uma escola de arte: enquanto caminha pela instituição, ele cruza com alunos dançando, tocando violino e ensaiando canções pelos corredores, o que me leva a acreditar que talvez o fracasso do colégio em produzir dançarinos competentes seja conseqüência da aparente falta de salas de aula.
Contudo, o grande tropeço (com o perdão do trocadilho) de Ela Dança, Eu Danço ocorre justamente em seu clímax – e talvez você prefira ler o restante deste parágrafo depois de assistir ao filme, embora, volto a repetir, ele não traga surpresa alguma para aqueles com mais de 10 anos de idade: é claro que sabemos desde o princípio que Tyler e Nora protagonizarão um número musical bem sucedido. E quando o rapaz abandona os ensaios depois de se desentender com a mocinha, já antecipamos o momento em que ele retornará arrependido. A questão é: este momento precisava acontecer segundos antes da apresentação mais importante da carreira de Nora? Será que deveríamos mesmo acreditar que a garota arriscaria seu futuro profissional ao mudar a coreografia no último instante? É razoável aceitar que a diretora da escola, depois de alardear o talento de sua aluna para os “olheiros”, aprovaria estas alterações com um sorriso de cumplicidade? E, finalmente, será que os demais dançarinos realmente comemorariam tal mudança quando já estavam prestes a subir no palco? É claro que não – e a falta absoluta de verossimilhança compromete o filme, mesmo que já esperássemos um desfecho parecido.
Lembrando o péssimo Breakdance – O Filme, lançado em 1984, Ela Dança, Eu Danço busca criar uma combinação inesperada entre a dança de rua e o balé clássico, mas com resultados muito mais satisfatórios que aquela bomba dos anos 80. E mesmo desapontando como diretora, Anne Fletcher comprova seu talento como coreógrafa ao criar um número musical eficaz e contagiante para fechar o filme. Assim, mesmo que falhe como historinha de amor, o longa consegue levar o espectador a sair da sala com a sensação de que ao menos em seu aspecto musical o projeto não decepcionou.
07 de Dezembro de 2006
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