Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
19/01/2007 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Famoso por ser o longa mais caro já produzido em Taiwan (U$ 6,2 milhões) e por ter sido selecionado pelo Festival de Cannes do ano passado, o terror Silk – O Primeiro Espírito Capturado é um filme frustrante: depois de prender a atenção do público durante sua metade inicial graças a idéias e momentos interessantes, o roteiro se perde sem maiores avisos, transformando-se em uma bagunça capaz de levar até mesmo o mais paciente dos espectadores à loucura.
Quando a história tem início, somos apresentados a Hashimoto (Eguchi), um cientista que, depois de várias experiências frustradas envolvendo a esponja de Merger (uma figura matemática real) e a anti-gravidade (?), decide empregar suas descobertas em um campo inesperado: investigações sobrenaturais. Utilizando um colírio produzido à base da esponja de Merger, Hashimoto torna-se capaz de enxergar fantasmas e obtém sua grande vitória ao aprisionar o espírito de um garotinho. Porém, incapaz de ouvir o que o menino diz, ele solicita a ajuda do detetive Tung (Chang), especializado em leitura labial, encarregando-o também de descobrir como a criança morreu – uma tarefa que se torna ainda mais delicada para o policial em função da saúde precária de sua mãe, que se encontra à beira da morte.
Contendo algumas cenas chocantes em sua abordagem gráfica da violência (há uma autópsia particularmente perturbadora), Silk investe em uma fotografia com cores predominantemente frias que ressaltam a tristeza do universo de seus personagens e justifica seu alto orçamento através dos bons efeitos visuais (embora, aqui e ali, eles se tornem menos convincentes). Infelizmente, a qualidade técnica da produção não se reflete no roteiro escrito pelo diretor Su Chao-pin, que simplesmente se desintegra depois da primeira hora de projeção – uma característica também presente no falho Ilusão de Morte, de 2002, também roteirizado pelo sujeito. Os problemas, aliás, têm início no instante
Além disso, o roteiro não consegue definir as regras de seu próprio universo: em certo momento, somos informados de que o fantasma é incapaz de enxergar nosso mundo; em outro, o garoto não parece ter problema algum em visualizar pessoas e objetos de nossa “dimensão”. Como se não bastasse, ao oferecer uma explicação “científica” para a existência de espíritos, Silk dá margem a uma série de indagações que se mostra incapaz de responder: por que, por exemplo, a criança é levada a matar todos aqueles que a encaram? E por que deixa um “fio” como ligação com suas futuras vítimas? E por que este fio percorre caminhos que podem ser seguidos por um carro em vez de se estender simplesmente em linha reta, já que é capaz de atravessar paredes e outras estruturas sólidas? E por que o corpo do garoto encontra-se intacto depois de anos enterrado: falha da direção ou há alguma outra explicação para a ausência de sinais de decomposição?
Mas estas perguntas não representam os únicos furos do péssimo roteiro de Chao-pin, que também não se preocupa em esclarecer como Hashimoto torna-se capaz de andar pelas paredes ou de desaparecer sem deixar vestígios depois de conversar com Tung – habilidades que parecem surgir do nada. E como o metrô pode continuar operando normalmente depois que um tiroteio acontece em um dos vagões? Será que o cineasta realmente espera que ignoremos este absurdo? Como se não bastasse, Chao-pin também pesa a mão ao enfocar o romance nada convincente entre Tung e uma bela florista: quando os dois pombinhos conversam pelo telefone, o diretor imediatamente introduz um tema romântico tocado em piano, abandonando qualquer sinal de sutileza narrativa. Da mesma maneira, quando um segundo (e descartável) fantasma entra em cena, seus movimentos são retratados de maneira grotesca sem qualquer motivo aparente – a não ser, é claro, a intenção de chocar o espectador. E como o cineasta pode ter acreditado que seria uma boa idéia retratar um espírito saindo de um prato de comida? Em vez de assustar, a cena em questão torna-se acidentalmente engraçada, eliminando qualquer possibilidade de gerar tensão no público.
Finalmente, Silk – O Primeiro Espírito Capturado também é prejudicado por diálogos absolutamente ridículos: ao olhar para o próprio reflexo em uma vasilha de metal, por exemplo, Hashimoto comenta “Então é assim que vou parecer depois de morto!”, o que nos leva a questionar se o personagem já vira um espelho em algum instante de sua vida. Ainda assim, isto nem se compara à cena em que um raivoso Tung grita: “Não coloca minha mãe no meio disso!”, numa explosão que me fez lembrar dos tempos de ginásio.
E juro que nunca esperei ouvir algo assim em uma produção taiwanesa sobre fantasmas. Seis milhões de dólares poderiam, no mínimo, ter bancado um protesto menos colegial, não?
18 de Janeiro de 2007
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