Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
24/11/2006 | 01/01/1970 | 1 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
100 minuto(s) |
Escrever este texto não me dá o menor prazer. Antigo admirador dos jornalistas José Emilio Rondeau e Ana Maria Bahiana (com a qual já troquei alguns emails no passado), eu havia decidido não publicar nada sobre o primeiro filme da dupla depois de constatar que não teria nada gentil a dizer – e não é à toa que este foi o último dos artigos publicados em um fim-de-semana repleto de estréias. Na realidade, ainda agora experimento o impulso de abandonar a tarefa; se não o faço, é porque sei que não deixaria de escrever esta crítica caso 1972 tivesse sido realizado por um Beto Brant, uma Tata Amaral ou um Karim Aïnouz – e se não pouparia cineastas como estes, seria, no mínimo, pouco ético (com meus leitores, inclusive) deixar que afinidades pessoais impedissem que eu realizasse meu trabalho adequadamente.
Pois o fato é que, apesar de roteirizado por dois profissionais obviamente inteligentes e maduros, 1972 parece fruto dos esforços de um adolescente sem imaginação. Ambientado numa época em que estudantes brasileiros ainda eram presos e barbaramente torturados pela Ditadura Militar, o filme se concentra em um grupo de jovens alienados cujas principais preocupações são a música e a paquera. Sonhando em transformar sua banda em sucesso, Snoopy (Rocha) se apaixona pela jornalista Julia (Guerra), que, por sua vez, decide não se envolver com ninguém a fim de se dedicar à carreira. A partir daí, o roteiro investe num daqueles tão batidos climas de “eles-se-odeiam-mas-na-verdade-se-amam”, tornando-se ainda mais irritante por permitir, em sua predileção por clichês, que o espectador antecipe exatamente como tudo irá acabar.
Transformando Julia em uma repórter de revista de música, 1972 parece tentar se estabelecer como uma espécie de Quase Famosos brasileiro, já que a moça logo se interessa em fazer uma extensa matéria sobre a banda de Snoopy. Porém, quando finalmente ouvimos o texto da garota, o resultado é dos mais decepcionantes, soando mais como uma redação escrita por uma menina deslumbrada da 5ª. série do que como uma reportagem produzida por uma profissional. Aliás, este espanto com a qualidade do texto também se reflete naquele que experimentei ao ouvir os terríveis diálogos de 1972: como pessoas sofisticadas como Rondeau e Bahiana (que, além de tudo, conhecem estes clichês) podem esperar que aceitemos obviedades como “Você se parece comigo quando eu tinha sua idade.” ou “Você acredita em Destino?”? Para piorar, a dupla faz questão absoluta de rechear quase todas as falas com gírias da época, como se temessem que, de outra maneira, não fôssemos capazes de acreditar que a história se passa nos anos 70. Curiosamente, a artificialidade com que termos como “às pampas”, “beleléu” e “broto” são empregados acabam justamente nos obrigando a lembrar de que, afinal de contas, estamos apenas assistindo a um filme.
Mas não é só: o festival de artificialidade continua na direção de Rondeau, que utiliza muletas como o rack focus e o contrafoco para ressaltar momentos mais dramáticos, esquecendo-se de que estes recursos têm a péssima característica de chamar grande atenção para si mesmos. Além disso, para manter a narrativa em movimento, os roteiristas empregam todo tipo de mal-entendidos e confusõezinhas, mas sem jamais levar o público a realmente acreditar na seriedade dos acontecimentos: em certo momento, por exemplo, Snoopy decide abandonar a banda, desiludido, e aceitar um entediante emprego no cartório do pai – mas é claro que sabemos que ele voltará para o grupo a tempo de participar de uma esperada competição. Aliás, vale dizer que a banda do rapaz, batizada de Vide Bula, jamais soa como um grupo realmente capaz de fazer sucesso, já que é pavorosamente ruim (e sua mediocridade torna-se ainda mais patente graças à insistência do filme em nos fazer lembrar dos Rolling Stones).
E já que usei a expressão “pavorosamente ruim”, permitam que eu a repita ao descrever o elenco de 1972: poucas vezes vi tantos atores sem talento em um mesmo projeto (para que tenham uma idéia, o irritante Lúcio Mauro Filho acaba sendo o destaque do longa!). Incapazes de dar o texto de forma natural e sem possuírem o mínimo de timing cômico necessário para aproveitar as poucas piadas realmente boas do roteiro, os jovens atores do filme criam caricaturas de seres humanos, o que torna ainda mais difícil que venhamos a torcer pelo casal principal (Rafael Rocha, em particular, é terrível). De todo modo, é possível que até mesmo atores mais experientes (ou talentosos) acabassem tropeçando em falas como “Você já encontrou alguém que merecesse tanto amor?”, já que seria preciso um verdadeiro Paulo Autran para dizer algo assim sem cair no riso.
No lugar de Paulo Autran, porém, 1972 conta com Tony Tornado, que, assim, acaba se embaraçando terrivelmente em cenas como aquela em que seu personagem explica a causa do próprio alcoolismo ou outra na qual aconselha Snoopy a “tirar Julia da cabeça e trazê-la para o coração”. Ainda assim, Tornado até que se sai bem se comparado ao vilãozinho do filme, um burguesinho estereotipado que inacreditavelmente diz para o mocinho: “Você acha que um suburbano tinha chance com uma garota da zona sul?”. Estereótipo maior, só mesmo aqueles relativos aos militares, que surgem quase tão risíveis quanto aqueles vistos no abominável Garrincha: A Estrela Solitária (e é claro que a trilha adota acordes sombrios sempre que um militar surge em cena).
Demonstrando, por contraste, o talento necessário para se fazer uma boa comédia romântica adolescente (algo que Jorge Furtado conseguiu em Houve uma Vez Dois Verões), 1972 tem, ao seu favor, apenas a boa fotografia de Marcelo Durst e a seleção de músicas que embalam a história. Fora isso, é um esforço que definitivamente não faz jus à capacidade e à inteligência de figuras experientes como José Emilio Rondeau e Ana Maria Bahiana.
24 de Novembro de 2006
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