Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/10/2007 | 31/08/2007 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
121 minuto(s) |
Dirigido por Takashi Miike. Com: Hideaki Ito, Kaori Momoi, Yusuke Iseya, Koichi Sato, Masanobu Ando, Renji Ishibashi, Masato Sakai, Yoshino Kimura, Teruyuki Kagawa, Quentin Tarantino.
Transformar-se em cult não é uma distinção que está ao alcance de qualquer filme – e certamente não é algo que acontece de um dia para outro; é preciso sobreviver ao teste do tempo e manter uma base leal de fãs durante anos para que o status seja “oficialmente” reconhecido (além de fracassar em alcançar um público grande, condição sine qua non). Dito isso, já é possível imaginar que nenhum projeto pode ser realizado com a intenção prévia de transformar-se em cult – e é justamente esta trapaça comercial que o cineasta Takashi Miike, auxiliado por seu fã Quentin Tarantino, tenta viabilizar em Sukiyaki Western Django.
Sem exibir qualquer intenção de ser um bom filme, o longa se resume a uma coleção de excentricidades que ora funcionam como mágica e ora caem como verdadeiras bombas sobre a platéia. Refilmagem japonesa não declarada de um clássico italiano (Por um Punhado de Dólares) que, por sua vez, era uma refilmagem de uma obra japonesa (Yojimbo, o Guarda-Costas), esta produção faz referências constantes a inúmeros outros longas – a maioria deles, westerns spaghetti (não é à toa que seu título é Sukiyaki Western, embora eu particularmente preferisse Western Sushi).
Protagonizado por um pistoleiro sem nome (exatamente como Clint Eastwood na trilogia de Sergio Leone), o filme traz Tarantino como seu narrador em um prólogo situado num cenário de velho oeste claramente pintado em estúdio, numa gag de artificialidade que se revela ainda mais elaborada quando descobrimos que todos os personagens são japoneses que se comunicam através de um inglês trôpego (que exige legendas até mesmo na versão original) e repleto de coloquialismos de época. Porém, se inicialmente é realmente engraçado acompanharmos o elenco nipônico brincando de cowboys, a piada se desgasta muito antes da marca de 120 minutos de projeção. E a sensação que fica é a de que Takashi Miike está consciente e maldosamente submetendo seu elenco ao ridículo, como um tio sacana que dá pinga para o sobrinho apenas para vê-lo engasgar-se e bater a cabeça na parede.
Dito isso, Sukiyaki Western Django é um filme que reflete bem a carreira de seu diretor: é cheio de altos e baixos. Por um lado, há todas as cenas envolvendo o prefeito e seu assistente que faz tradução simultânea; o cowboy esquisito vivido pelo ainda mais esquisito Tarantino; o vilão que sempre mantém um capanga atrás do qual possa se esconder o tempo inteiro; e, é claro, o treinamento jedi envolvendo uma espada e uma venda e que representa a maior gargalhada do filme. Por outro, há a velha piada da trilha dramática cuja origem, descobrimos, é algum personagem que a executa em cena; a falta de equilíbrio entre os momentos de humor e outros bem mais dramáticos (um boicota o outro; e, em particular, o irritante xerife com síndrome de Gollum/Smeagol, que ganha um interminável tempo na tela sem conseguir ser divertido uma única vez.
Fotografado com competência por Toyomichi Kurita, que recria o visual vibrante do western spaghetti sem perder a textura fantasiosa exigida pelo roteiro, o filme ganha vida especialmente em seu ato final graças a um intenso tiroteio coreografado com energia por Miike. É uma pena que, em vários outros momentos, o cineasta pareça fazer um trabalho burocrático por saber que, independente do resultado, sua base de fãs (e a de Tarantino) já entrará na sala considerando o filme uma obra-prima antes mesmo que o primeiro frame surja na tela.
“No fundo, eu sou um anime otaku”, confessa Tarantino, sob pesada maquiagem, em determinado instante da narrativa – uma fala consciente incluída para levar os fãs (“tarantino/miike otakus”?) à loucura num frenesi de reconhecimento. Ora, ser otaku não é problema (eu mesmo sou uma espécie de “Corleone otaku”; o triste é quando esta condição nos torna cegos para os defeitos óbvios daquilo que já decidimos previamente amar.
26 de Outubro de 2007