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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/07/2008 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Viagem ao Centro da Terra - O Filme
Journey to the Center of the Earth 3D

Dirigido por Eric Brevig. Com: Brendan Fraser, Josh Hutcherson, Anita Briem, Seth Meyers, Jean Michel Paré.

 

Anunciado como o primeiro longa-metragem com atores de carne-e-osso a ser rodado inteiramente a partir da nova tecnologia digital em 3D (supostamente bastante superior àquela que se tornou tão popular no início da década de 50), Viagem ao Centro da Terra chega ao Brasil prejudicado pela escassez de cinemas equipados para projetá-lo apropriadamente – são apenas nove salas de exibição com esta tecnologia em todo o país (nenhuma delas em Belo Horizonte, onde resido). Por outro lado, não há como negar que, depois de sua breve passagem pelas telonas, já que dificilmente ficará em cartaz por mais de dois ou três meses, o filme passará a ser visto de maneira tradicional em sua sobrevida no DVD – e, assim, analisá-lo como uma produção convencional não deixa de ser pertinente.

 

E, neste aspecto, o projeto infelizmente não se revela particularmente memorável: escrito por Mark Levin, Jennifer Flackett e Michael D. Weiss a partir do célebre livro de Júlio Verne, o roteiro tenta fugir do rótulo de adaptação tradicional ao nos apresentar a personagens que conhecem e são fãs da obra original – o que não os impede de repetir inconscientemente os passos dos heróis criados por Verne (como no instante em que o sobrinho do protagonista desvenda um código que intrigara o tio). De modo geral, porém, os aventureiros interpretados por Brendan Fraser, Josh Hutcherson e Anita Briem não apenas sabem que estão percorrendo o mesmo caminho descrito no livro como ainda desconfiam de que este seja baseado em relatos obtidos pelo escritor a partir de uma fonte que realmente visitou o centro da Terra – possivelmente o próprio Lidenbrock.

 

Mergulhado em tons fantasiosos que desafiam o bom senso e a Ciência (ao contrário de outros trabalhos de Verne, Viagem ao Centro da Terra não busca um embasamento científico para sua narrativa, optando pelo divertido que reside no absurdo), o filme se mostra naturalmente eficaz em seus aspectos técnicos, recriando de maneira grandiosa as paisagens imaginadas pelo autor e que ganharam, em 1959, uma versão até eficiente dirigida por Henry Levin. Ainda assim, os roteiristas buscam modernizar alguns aspectos da história, incluindo uma personagem feminina forte (mas que, como não poderia deixar de ser, vai gradualmente se tornando mais indefesa, obrigando o herói a salvá-la) e até mesmo uma piada envolvendo a disputa entre tio adulto e sobrinho adolescente pelo afeto da moça. E se Hutcherson e Briem surgem até convincentes, é Fraser quem mais se diverte com a empreitada, encarnando Trevor com o mesmo jeitão abobado e o sorriso idiota com que protagoniza a série A Múmia.

 

O grande problema, no entanto, é mesmo a direção do estreante Eric Brevig: veterano técnico de efeitos visuais (ele trabalhou durante anos na Industrial Light & Magic de George Lucas), o sujeito parece se preocupar apenas com os aspectos tecnológicos de seu filme, deixando a narrativa e o desenvolvimento dos personagens de lado. Assim, a cada cinco minutos ele cria um plano no qual alguém atira algo em direção à câmera (e, conseqüentemente, no espectador) a fim de explorar os efeitos 3D que alavancam a produção, não se acanhando nem mesmo ao incluir a seqüência mais clichê no que diz respeito ao cinema 3D: o passeio por uma montanha-russa.

 

O mais lamentável, porém, é que Brevig não demonstra o mínimo interesse em conceber, também, quadros que ajudem simplesmente a contar a história de maneira inventiva - ao contrário: freqüentemente, ele investe em planos cujo único propósito é permitir a inclusão de mais um efeito tridimensional, como as recorrentes tomadas em que vemos os personagens no centro do quadro e com um fundo desfocado que os projeta para “fora” da tela. Aliás, Viagem ao Centro da Terra abusa das cenas que se prolongam bem mais do que o necessário apenas para que possamos tomar mais um susto dispensável provocado pelo 3D – e nem preciso dizer que, na ausência dos óculos especiais, estas opções estéticas do diretor se tornam embaraçosamente deselegantes.

 

Da mesma forma, não é surpresa que Brevig não exiba o menor talento para extrair emoção da história que pretende contar e, assim, jamais tememos pelo destino dos heróis, já que não há um segundo de tensão em toda a projeção – mesmo que esta traga ataques de dinossauros e plantas carnívoras e longas quedas em poços aparentemente sem fundo. Vale observar, aliás, que os personagens nem mesmo parecem suar, ainda que o aumento rápido da temperatura seja o motivo que supostamente deveria ameaçar suas vidas. Mas esta é uma reclamação que perde ainda mais o sentido se considerarmos que Trevor e seus companheiros são aparentemente indestrutíveis.

 

Evitando ao menos tornar-se entediante ao longo de seus 92 minutos, Viagem ao Centro da Terra ainda assim comete o pecado de desperdiçar o livro de um dos pais da ficção científica ao julgar, equivocada e ironicamente, que este não deveria ter muita importância diante do brilho fugaz da tecnologia.

 

12 de Julho de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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