Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
02/10/2005 | 14/04/2006 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
100 minuto(s) |
Dirigido por Luiz Alberto M. Pereira. Com: Matheus Nachtergaele, Gorete Milagres, Vinicius Miranda, Rosi Campos, Aílton Graça, Paulo Betti, Paulo Goulart, Jackson Antunes, Yassir Chediak, Cacá Rosset.
Vivendo Quinzinho, uma versão atual (mas não modernizada) do velho personagem de Mazzaropi, Nachtergaele logo conquista o público com sua caracterização impecável: da postura encurvada e com a barriga estufada ao sotaque interiorano, o ator prova ser capaz de dar origem à sua própria série de filmes protagonizada pelo “Jeca”, exibindo um timing cômico admirável (dom já comprovado em O Auto da Compadecida). Além de explorar com talento os equívocos verbais criados pelo roteiro (“O tempo ruja!”), Nachtergaele desperta o riso também através da simples reação de Quinzinho ao que o cerca, como na cena em que este (que tem um português limitadíssimo!) se delicia com o sotaque de um turco para o qual pede informações – e é principalmente graças à performance do ator que Tapete Vermelho se torna uma experiência razoavelmente bem-sucedida.
Mergulhando no rico universo do folclore popular, o roteiro escrito por Pereira ao lado de Rosa Nepomuceno recheia a trama de incidentes sobrenaturais e, assim como o excelente A Marvada Carne, resgata e homenageia algumas das crendices do nosso povo – algo que há algum tempo o Cinema brasileiro já não fazia (ao menos, não com o carinho visto aqui). Por outro lado, o filme não se sai tão bem ao tentar equilibrar estas superstições com elementos de religiosidade e da fé católica, o que resulta num momento desastrado em que Quinzinho pede informações ao dono de uma banca de revistas e, ao fundo, podemos ver destacada a imagem de Cristo – um ícone que não faz o menor sentido no contexto apresentado, soando mais como uma tentativa pobre de reconhecer a importância do catolicismo entre a população mais humilde.
Sem parecer ser o mesmo cineasta que realizou o excelente Hans Staden, há sete anos, Luiz Alberto Pereira demonstra um certo enferrujamento resultante do tempo que passou longe da cadeira de diretor. Lembrando mais um realizador acostumado à linguagem televisiva, ele abusa dos closes e de planos-detalhe terrivelmente deselegantes (como aquele que mostra alguém desligando um aparelho de tevê), insistindo, ainda, em travellings recorrentes que se concentram nos pés de seus atores – e também não sou particularmente fã da câmera subjetiva que ele emprega no momento em que Neco (o exagerado Vinícius Miranda) entra em um cinema pela primeira vez.
Porém, o grande problema de Tapete Vermelho reside mesmo em seu discurso político, que se revela carregado demais. Ora, Mazzaropi (e Chaplin, vale lembrar) sabia que a pregação escancarada afastaria o espectador e, por isso, sempre utilizou o humor e a sátira para transmitir suas mensagens e ideais. Aqui, no entanto, Pereira defende uma causa respeitável (a reforma agrária) de maneira tão agressiva que, como resultado, não apenas perde o espectador como ainda aniquila qualquer possibilidade de fazer comédia – o riso torna-se impossível depois que vemos um determinado personagem ser brutalmente assassinado pelas autoridades.
A partir dali, aliás, Tapete Vermelho abandona qualquer pretensão de divertir e parte para um protesto raivoso sobre a ocupação das salas de cinema por produções estrangeiras, transformando-se em uma espécie de propaganda política para o MST (Movimento dos Sem-Tela) – e o que é pior: faz uma crítica que, ainda que mais uma vez justa, torna-se simplesmente destrutiva por não propor quaisquer soluções minimamente racionais. E, assim, o tapete vermelho do título se configura não mais como uma homenagem a Mazzaropi, mas em um símbolo do esquerdismo desgastado de seus roteiristas.
13 de Abril de 2006
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