Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/04/2007 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Um dos principais motivos por trás da longevidade do personagem Mr. Bean, criado pelo comediante britânico Rowan Atkinson, sempre residiu em seus esforços para escapar de situações embaraçosas nas quais ele mesmo se meteu. Preparando-se para conhecer a Rainha ou lutando contra o sono em uma missa, Mr. Bean freqüentemente protagoniza um dos maiores pesadelos de qualquer ser humano: o constrangimento público – e seu sucesso se deve não apenas à nossa identificação com sua vergonha (e nossa torcida para que consiga evitá-la) como também ao nosso espanto divertido diante de sua total falta de bom senso, já que suas decisões se revelam quase sempre absurdas.
Infelizmente, há pouco destes elementos
Fazendo uma clara referência ao clássico As Férias do Sr. Hulot, o título do filme também peca por elevar nossas expectativas a um nível impossível de ser alcançado, já que a fantástica comédia de Jacques Tati permanece como um dos longas mais eficazes do gênero ainda hoje (curiosamente, algumas das gags vistas
Sem conseguir amarrar o roteiro de forma a criar uma narrativa que pareça bem estruturada e fluida, As Férias de Mr. Bean soa mais como uma sucessão de esquetes unidos apenas pela onipresente trilha sonora, que pelo menos acerta (na maior parte das vezes) na escolha das músicas que acompanham cada segmento. Ainda assim, mesmo analisadas individualmente, as cenas (leia-se: esquetes) vistas ao longo do filme freqüentemente falham graças à má direção de Steve Bendelack, que permite que o espectador antecipe o que irá acontecer (quando ele inclui um plano-detalhe da carteira e do passaporte de Mr. Bean sobre um telefone público, imediatamente concluímos que os objetos serão esquecidos, o que anula a reação que poderia ser provocada pelo choque do personagem). Além disso, as cenas são geralmente mal resolvidas, negando ao público o prazer da tirada final que fecharia o esquete de maneira eficaz. Por outro lado, o terceiro ato, que se passa durante o Festival de Cannes, dá um pouco de fôlego ao longa graças à sua agilidade e também por finalmente justificar o excesso de planos subjetivos durante a projeção. Para finalizar, preciso reconhecer que a referência feita a Lawrence da Arábia (o motoqueiro que surge como um pontinho no horizonte e se aproxima com divertida lentidão) representa um raro momento de inspiração em um projeto que freqüentemente se entrega a piadas fáceis e óbvias.
Mas o que realmente evita que o filme se transforme em um desastre total é o carisma de seu protagonista: descendente contemporâneo dos grandes comediantes do Cinema Mudo, Rowan Atkinson procura criar um humor essencialmente físico, limitando ao máximo os diálogos de Mr. Bean (para justificar o silêncio do personagem no longa, o roteiro explica que ele só conhece três palavras em francês: “oui”, “non” e... “gracias”). Na realidade, a maior parte dos sons emitidos pelo protagonista tem uma natureza gutural, como se ele se visse compelido a soltar murmúrios e gemidos em reação a tudo que vê. E há, também, um fator adicional que contribui para o charme de Mr. Bean: sua natureza infantil. Comportando-se como uma criança empolgada que mal consegue conter a felicidade diante de uma pilha de presentes, Bean bate palmas, salta e delira de alegria quando vê algo que lhe agrada – e quando consegue algum dinheiro, a primeira coisa que faz, claro, é se encher de doces. Com isso, Atkinson justifica (ou pelo menos minimiza) a aparente estupidez do personagem através de sua imaturidade, o que é uma decisão inteligente.
Criticando, através do engraçado personagem de Willem Dafoe, a risível pretensão artística de obras vazias criadas por cineastas egocêntricos (David Gordon Green – para citar apenas um exemplo – me vem à mente), As Férias de Mr. Bean tenta se estabelecer como o oposto daquilo, usando o entretenimento puro como desculpa para sua falta de refinamento. O que o filme parece não entender é que há um vasto território entre estes dois extremos a ser explorado; bastaria um pouco mais de ambição artística para transformar esta besteira sem graça em uma comédia divertida e competente. Aliás, Mr. Bean merecia isso.
06 de Abril de 2007
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