Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/04/2006 | 15/06/2005 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
125 minuto(s) |
Dirigido por Cédric Klapisch. Com: Romain Duris, Kelly Reilly, Audrey Tautou, Cécile De France, Kevin Bishop, Aïssa Maïga, Evguenya Obraztsova, Barnaby Metschurat, Cristina Brondo, Christian Pagh, Federico D’Anna.
Ambientado cinco anos após os acontecimentos retratados no primeiro filme, o roteiro de Cédric Klapisch (que também assina a direção) encontra Xavier (Duris) em um momento delicado de sua vida. Depois de abandonar a pretensão de trabalhar no mercado econômico, o jovem francês busca realizar o sonho de se tornar escritor, embora o livro que escreveu como resultado de suas experiências em Barcelona jamais tenha sido publicado. Para isso, ele assina matérias como jornalista freelancer sobre vários assuntos que não despertam seu interesse, passa a trabalhar como ghostwriter para celebridades vazias que querem lançar autobiografias (“Ela tem 24 anos e vai escrever um livro de memórias.”) e está envolvido na elaboração de um roteiro piegas para uma produção voltada para a televisão. Sem tempo para escrever seu tão sonhado romance (sim, o filme apela para o clichê do “escritor frustrado que não consegue completar sua obra-prima”), Xavier ainda procura encontrar um sentido para suas relações amorosas, já que não consegue manter um relacionamento sólido há anos.
Como já se pode observar, uma das principais diferenças entre Albergue Espanhol e Bonecas Russas é a mudança do foco narrativo: enquanto o primeiro se concentrava nas relações entre seus vários personagens (ainda que o francês fosse o protagonista inconteste), o segundo se dedica quase que com exclusividade aos problemas e incidentes relacionados diretamente a Xavier – o que se torna especialmente frustrante quando consideramos que a introdução do filme parece prometer resgatar a dinâmica entre todas aquelas figuras que haviam nos cativado em 2003. Na realidade, porém, o fato é que Bonecas Russas poderia perfeitamente ser estrelado por personagens completamente diferentes do original sem que isto fizesse qualquer diferença.
Abandonando qualquer discussão sobre globalização (a única – e breve - referência ao tema é uma viagem que Martine (Tautou) faz ao Brasil para participar do Fórum Social) ou amizade, esta continuação se volta para preocupações pessoais mais pertinentes a pessoas na faixa dos 30 anos: trabalho e romance. Infelizmente, os comentários feitos pelo roteiro de Klapisch jamais saem do lugar-comum, ressaltando como é difícil manter um relacionamento duradouro (oh, é mesmo? Que surpresa.). Para piorar, o filme traz uma série de diálogos fraquíssimos, o que resulta na maior decepção para os fãs do original. Em certo instante, por exemplo, Xavier frustra-se ao escrever seu roteiro e dispara: “Como posso escrever uma história de amor? Não sei nada sobre o amor!” – uma lógica que certamente surpreenderia inúmeros escritores (não creio que Dostoievski tenha matado alguém antes de escrever Crime e Castigo e duvido que Herman Melville tenha perseguido baleias gigantes antes de finalizar Moby Dick – mas posso estar enganado; afinal, é comumente aceito que Dante tenha de fato passeado pelo Inferno ao lado de Virgílio. Ou não?).
Ainda assim, Bonecas Russas traz boas idéias espalhadas aqui e ali ao longo de suas mais de duas horas de projeção: é interessante, por exemplo, ver a representação simbólica da satisfação de Xavier após ter passado a noite com uma mulher belíssima que considerava intocável (sua moto transforma-se em um cavalo, como se ele fosse um cavaleiro medieval que acabara de conquistar a princesa). Da mesma forma, a cena – imaginada por Xavier -que traz Martine explicando para o filho por que não se casou é tocante por fazer um irônico contraponto entre a idealização fantasiosa dos contos de fada e as constantes decepções dos relacionamentos na vida real. Além disso, Klapisch parece mais próximo de resgatar o espírito irreverente de Albergue Espanhol sempre que emprega um humor mais absurdo, como a brincadeira com os esforços de Xavier para dizer o que seus empregadores querem ouvir (como se procurasse distraí-los com uma flauta) e, é claro, a ótima cena em que ele segue a “mulher ideal” na “rua das proporções ideais” e reflete sobre a inutilidade de sua busca.
Embalado por uma trilha eclética que complementa bem cada momento, o filme conta também com a montagem inventiva de Francine Sandberg (a mesma do original), que emprega telas divididas, sobreposições, planos com velocidade acelerada, freeze frames e vários outros recursos que conferem dinamismo à história – o que é fundamental, já que a história concebida pelo cineasta é frouxa e arrastada. Ainda assim, Sandberg (provavelmente sob as instruções de Klapisch) exagera no número de planos que mostram o Eurostar entrando e saindo do Eurotúnel, numa metáfora visual óbvia e gasta das inúmeras e vazias experiências sexuais de Xavier.
Sem saber como reunir todos os personagens de Albergue Espanhol de maneira plausível, Bonecas Russas utiliza o também desgastado recurso do “casamento como ponto de encontro” – e, ainda assim, demonstra não ter muito o que fazer com todas aquelas figuras tão cativantes do original. As exceções ficam por conta dos irmãos Wendy (Reilly, linda como sempre) e William (Bishop), que mais uma vez responde pelos momentos mais divertidos do longa (pena que ele seja subutilizado).
Apesar de todos os problemas, Bonecas Russas tem seu charme – no mínimo, temos a chance de vislumbrar algumas das belezas de Londres, Paris e São Petersburgo. E de um elenco feminino de cair o queixo.
Observação: Há uma cena adicional durante os créditos finais que apresenta uma metáfora complementar àquela das “bonecas russas”, comparando a busca pelo parceiro ideal também a um quebra-cabeças. Bobinho, mas bonitinho.
07 de Abril de 2006
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