Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
24/03/2006 | 09/09/2004 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
97 minuto(s) |
Dirigido por Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom. Com: Ananda Everingham, Natthaweeranuch Thongmee, Achita Sikamana, Unnop Chanpaibool, Abhijati ‘Meuk’ Jusakul, Kachormsak Naruepatr.
Não que as tramas destas produções asiáticas sejam especialmente originais. Ao contrário: geralmente trazem o espírito de uma jovem (sempre de cabelos pretos longos e escorridos) perseguindo aqueles que provocaram sua morte. Porém, filmes como os japoneses Honogurai mizu no soko kara (ou Dark Water) e Chakushin Ari (One Missed Call), o sul-coreano Ryeong (The Ghost) e o chinês Gin gwai (The Eye) compensam esta falta de originalidade através de seqüências absolutamente aterrorizantes que deixam o público sempre na beirada da poltrona. O mesmo, aliás, se aplica a este Espíritos, que tem início de uma maneira terrivelmente clichê: certa noite, o casal de protagonistas atropela uma moça em uma estrada escura e, julgando-a morta, foge sem prestar auxílio. Logo, contudo, os dois começam a perceber estranhos acontecimentos, como a aparição de fachos de luz e vultos em fotografias tiradas em vários ambientes – e concluem que estão sendo perseguidos... sim, pelo espírito vingativo da jovem atropelada.
A partir daí, a dupla de cineastas estreantes agarra o espectador e não o solta mais: cena após cena, os diretores criam um clima de suspense sustentado que jamais oferece trégua ao público. Utilizando espaços vazios em seus enquadramentos para sugerirem a presença constante de um ser invisível, Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom utilizam diversas e engenhosas técnicas para transformar Espíritos em uma experiência angustiante, desde animação (em certo momento, a mocinha passa rapidamente várias fotos tiradas em seqüência, revelando o movimento assustador de um vulto) até planos em sentido invertido (que conferem uma estranheza incômoda às ações mais corriqueiras, como o piscar dos olhos). Além disso, a fotografia de Niramon Ross, repleta de jogos com sombras, contraluz e mudanças de foco, torna-se fundamental para aumentar a força do filme.
Enquanto isso, o roteiro escrito pelos diretores (ao lado do também estreante Sopon Sukdapisit) procura explorar ao máximo sua premissa, utilizando retratos “de espíritos” e máquinas fotográficas de maneira sempre inteligente, como na cena em que Jane (Thongmee) investiga um laboratório de biologia e, portando uma câmera polaróide (daquelas em que a foto sai instantaneamente), tira vários retratos a fim de localizar o espírito que a persegue – e a decisão de utilizar a polaróide em vez de uma câmera digital é brilhante, pois o tempo necessário para que a primeira “revele” sua imagem é empregado de forma apavorante pelos cineastas. Da mesma forma, a cena que se passa no estúdio de Tun (Everingham) investe numa abordagem completamente diferente: mergulhada na escuridão total, ela utiliza apenas efeitos sonoros e flashes ocasionais de luz para atingir seu propósito (coincidentemente, este longa, assim como o eficiente Jogos Mortais, também usa o som de um flash recarregando para provocar tensão durante um blackout – e ambos foram produzidos no mesmo ano.).
É claro que, aqui e ali, Espíritos acaba recorrendo a sustos falsos (um deles resulta no momento mais engraçado da projeção) e a duas seqüências de pesadelo que, mesmo bem conduzidas, não deixam de soar como trapaças desnecessárias por parte dos diretores. Já a trilha sonora, mesmo excessiva em sua quase onipresença, evita o truque irritante dos acordes pontualmente altos, optando, em vez disso, por crescendos que acompanham a lógica interna de cada cena (em vez de determiná-la). Além disso, o filme se beneficia das boas atuações, já que os protagonistas, em vez de se comportarem como estereótipos do gênero, exibem atitudes racionais e verossímeis: quando percebe um vulto em uma de suas fotografias, por exemplo, Tun decide investigar os negativos, processando-os e ampliando-os a fim de verificar com mais cuidado o que viu. Aliás, o próprio roteiro não comete o erro de aceitar as fotos dos espíritos como algo inquestionavelmente sobrenatural, trazendo cenas em que fornece explicações naturais para imagens supostamente fantasmagóricas – fraude, inclusive: quando a dupla principal visita uma revista especializada em retratos deste tipo, o editor assume manipulá-los para aumentar suas vendas, justificando suas ações ao dizer que os leitores querem ver fotografias assustadoras.
Ora, isto se aplica também aos espectadores de filmes como Espíritos, que sabem que estão sendo enganados, mas não dão a mínima, já que querem sentir medo. E é exatamente isto que sentirão até, literalmente, o último momento de projeção, já que o plano que encerra o longa certamente enviará o público para fora do cinema com a sensação de que, talvez, tirar uma simples foto não seja algo tão seguro como imaginava.
23 de Março de 2006
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