Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
15/11/2007 | 12/10/2007 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
117 minuto(s) |
Dirigido por James Gray. Com: Joaquin Phoenix, Mark Wahlberg, Robert Duvall, Eva Mendes, Alex Veadov, Oleg Taktarov, Moni Moshonov, Danny Hoch.
Há uma forte atmosfera de desilusão cercando os personagens de Os Donos da Noite. Desilusão e cansaço, como se todos estivessem fartos daquele universo e continuassem a viver por pura obrigação – e se isto não se aplica totalmente a Bobby Green (Phoenix) na primeira metade da projeção, certamente se torna realidade durante a segunda. Aliás, a certeza do desastre iminente é tamanha que, quando percebe a chegada de vários colegas policiais com expressões solenes nos rostos, o veterano Burt Grusinsky (Duvall) nem sequer pergunta se algo aconteceu, mas sim “qual filho” foi vitimado.
Ambientado na Nova York dos anos 80, quando o departamento de polícia exibia o slogan “Somos os donos da noite” como forma de tentar convencer a população de que mantinha o controle de uma cidade cada vez mais dominada pelas drogas, o roteiro escrito pelo diretor James Gray se concentra nas relações entre os três homens da família Grusinsky: policial admirado pela carreira impecável, Burt se orgulha particularmente do filho Joseph (Wahlberg), que acaba de receber a tarefa de chefiar uma grande operação contra o tráfico. Por outro lado, o caçula Bobby transformou-se em ovelha negra ao assumir o sobrenome da mãe para evitar qualquer associação com o pai e o irmão, já que vem ganhando fama como gerente de uma grande boate da cidade e sabe que seria visto com desconfiança caso sua relação próxima com tantos policiais viesse à tona. Porém, quando um traficante russo resolve utilizar a boate de Bobby para fazer seus negócios, o rapaz se vê em meio a um confronto entre os dois mundos.
Voltando à direção depois de sete anos desde o lançamento de seu subestimado Caminho Sem Volta, James Gray retoma a parceria com a dupla principal daquele longa, Wahlberg e Phoenix, explorando com inteligência as personas cinematográficas de cada um: o jeito durão e sem compromissos do primeiro e a fragilidade emocional do segundo. E se Robert Duvall, sempre intenso, cria um personagem complexo em seus sentimentos ambíguos com relação ao filho caçula, o restante do elenco, infelizmente, se divide claramente entre os “mocinhos” e “vilões”, numa simplificação que não existia no trabalho anterior de Gray e que enfraquece este seu novo esforço.
Ainda assim, Os Donos da Noite traz vários bons momentos que o transformam em um exemplar de gênero acima da média, a começar por alguns excelentes diálogos que não apenas merecem aplausos pela construção como ainda servem para ilustrar a mentalidade dos personagens que os dizem. Ao insistir para que o irmão carregue uma arma, por exemplo, Joseph dispara: “É melhor ser julgado por doze do que carregado por seis” – enquanto seu pai, num jeito mais despachado da velha guarda, manifesta seu desagrado com relação a medidas meramente paliativas na forma de lidar com o tráfico através de um ditado pitoresco: “Mijar nas calças só te mantém aquecido por pouco tempo”.
É uma pena, portanto, que o roteiro também se mostre irregular a ponto de incluir vários diálogos terrivelmente expositivos (como a fala que explica a forma com que a droga é transportada) e “reviravoltas” simplesmente absurdas, como a decisão de Bobby em unir-se à polícia – algo que não combina com o temperamento do personagem (e o conceito de “policial honorário” é ridículo). Em contrapartida, Gray exibe seu talento como diretor nas seqüências de ação, destacando-se no violento tiroteio que ocorre na “fábrica” dos traficantes e, principalmente, na brilhante perseguição sob a chuva, quando o cineasta mantém sua câmera no carro ocupado por Bobby, prendendo-nos ao seu angustiante ponto de vista, e descartando uma trilha sonora convencional a fim de utilizar ruídos orgânicos à cena para aumentar a tensão, como o som do limpador de pára-brisa.
Refletindo o universo machista de seus personagens (as figuras femininas têm pouca importância e a “traição” de Bobby ao se afastar da família é representada por sua decisão de usar o sobrenome da mãe), Os Donos da Noite divide, com nosso Tropa de Elite, a mentalidade da execução sumária da “justiça” – infelizmente, não como um reflexo social relevante, como no filme de José Padilha, mas sim entregando uma mentalidade brutalizada no pior estilo Desejo de Matar. Neste sentido, o personagem de Joaquin Phoenix acaba assumindo contornos de Capitão Nascimento (um Captain Birth, portanto), mas sem a complexidade psicológica que mantém a criação de Wagner Moura distanciada do retrato unidimensional do arquiteto encarnado por Charles Bronson naquela série repulsiva iniciada em 1974.
E é aí, em seu ato final no meio de uma plantação, que Os Donos da Noite quase se destrói, recuperando-se apenas ao perceber que, muito mais eficaz que a lógica “olho por olho”, seu centro dramático encontra-se mesmo na dinâmica entre dois irmãos que, apesar de todas as diferenças e da dificuldade em expressarem seus sentimentos, se amam profundamente.
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