Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/01/2006 | 28/06/2006 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
108 minuto(s) |
Dirigido por Daniel Filho. Com: Tony Ramos, Glória Pires, Thiago Lacerda, Ary Fontoura, Denis Carvalho, Maria Gladys, Danielle Winits, Lavínia Vlasak, Patrícia Pillar, Glória Menezes, Carla Daniel.
Se Eu Fosse Você contém boas piadas, é verdade – pena que estas são raras e encontram-se espalhadas ao longo de 96 minutos, transformando o filme em uma experiência irregular e decepcionante. Reaproveitando um conceito já utilizado à exaustão por uma penca de produções norte-americanas (Um Dia Muito Louco; Vice-Versa; De Volta aos 18; Tal Pai, Tal Filho; Sexta-feira Muito Louca), o longa dirigido por Daniel Filho mostra-se tão pouco inspirado que não consegue sequer encontrar (com exceção de um breve comentário sobre depilação) uma forma de explorar a característica física mais conhecida de seu protagonista: o corpo absurdamente cabeludo de Tony Ramos – e, numa comédia sobre troca de corpos, seria de se supor que alguma boa piada fosse feita neste sentido, não? Que tal se sua esposa, incomodada com tantos pelos, aproveitasse a oportunidade para raspar tudo?
Depois de uma introdução com fracos gráficos criados em computador, na qual o filme já começa a desenvolver seu tema `Homens são de Marte; Mulheres são de Vênus`, somos apresentados a Cláudio (Ramos) e Helena (Pires), um casal de classe média alta que não se encontra na melhor fase de seu casamento – e é justamente depois de uma briga que eles acordam com os corpos trocados. Presos a obrigações profissionais, eles devem assumir as tarefas um do outro: enquanto Helena (no corpo de Cláudio) assume a criação de uma campanha publicitária que pode render um novo e importante cliente para a agência do marido, este (no corpo da esposa) passa a dirigir um coral de garotas às vésperas de uma apresentação.
Escrito por nada menos do que quatro pessoas (sempre um sinal preocupante), o roteiro de Se Eu Fosse Você peca pela falta de originalidade não apenas em sua trama, mas também nas situações `cômicas` desenvolvidas pelos roteiristas: é preciso dizer que, em certo momento, Cláudio usa um fone de ouvido para que Helena possa guiá-lo secretamente durante uma conversa? A diferença é que, aqui, a cena é pessimamente desenvolvida e nada engraçada, o que me leva a dar a seguinte sugestão aos autores desta `obra`: da próxima vez, quando decidirem copiar alguma coisa, ao menos copiem direito. Além disso, não há nada de particularmente surpreendente no fato de que, ao trocarem de corpos, Cláudio e Helena percebem como a vida do companheiro é `complicada`: se você é advogado e, de repente, é obrigado a entrar na pele de um médico, também ficaria perdido – e vice-versa. Todos temos problemas; é incrível que estes dois tenham que trocar de corpos para descobrir isso.
Enquanto isso, Daniel Filho continua a dar indícios de que, apesar de ser um ator excepcional, não é um cineasta dos mais brilhantes: acostumado com a televisão, incorre no erro tão comum entre diretores especializados nesta mídia e inunda o filme de closes do início ao fim (aliás, há um plano da boca de Glória Pires, durante uma sessão com o psicólogo, que me pareceu particularmente despropositado e nada elegante, soando apenas como um improviso descuidado do diretor). Porém, a maior prova da falta de discernimento de Filho reside na pavorosa cena em que Tony Ramos e Patrícia Pillar se entregam a um número musical que, além de fugir completamente do tom e da proposta do filme, não possui charme ou graça que o justifiquem, sendo apenas embaraçoso, chegando a ponto de encerrar com o velho clichê dos personagens despencando, divertidos e entre risadas, em um sofá. Eu disse embaraçoso? Reformulo: terrivelmente embaraçoso.
Por outro lado, desta vez Daniel Filho (que faz uma ponta hitchcockiana em um banheiro) nos poupa de sua marca registrada: a aparição súbita de um balão da Goodyear, já que, em Se Eu Fosse Você, o merchandising é feito de maneira mais orgânica, embora não muito discreta (sendo publicitário, o protagonista exibe os logotipos de várias empresas estampados nas paredes de sua agência). Igualmente óbvia, diga-se de passagem, é a trilha de Guto Graça Mello, que procura salientar as gracinhas e os draminhas do roteiro com composições forçadas (observem o momento em que uma personagem diz `Todo mundo sabe que você é louco pela Helena!` e perceba os acordes dramáticos que vêm a seguir). Além disso, confesso que, em alguns instantes (especialmente na seqüência em que a família se encontra em um carro), a trilha me lembrou bastante alguns temas de Os Goonies, o que é preocupante.
Mas há algo que salva Se Eu Fosse Você do desastre completo: as atuações de Tony Ramos e Glória Pires, atores carismáticos e talentosos que, se não brilham, tampouco dão vexame. Ainda assim, eu não me espantaria caso descobrisse que eles não se consultaram muito durante a composição de seus personagens, o que seria fundamental neste caso: enquanto Ramos, na primeira parte do filme, cria uma figura marcada, agitada e bonachona, Pires investe em um tipo discreto, pouco revelador – o que certamente facilitaria o trabalho da atriz na segunda parte, já que teria mais `muletas` para encarnar a mudança de corpo, e dificultaria para Tony Ramos, pelo motivo inverso. Seja como for, isto acaba não fazendo diferença: quando Cláudio passa a ser vivido por Glória Pires, torna-se imediatamente menos elétrico; em contrapartida, Helena se torna bem mais afetada e `perua` ao cair na pele de Ramos. Porém, como eu disse antes, os atores são suficientemente carismáticos para compensar as caracterizações inconstantes. (Ao contrário de Thiago Lacerda, que surge apagado e artificial.)
Mastigando uma liçãozinha de moral ingênua para o espectador em seu desfecho, que chega a trazer os protagonistas explicando o que aprenderam ao longo de suas experiências, Se Eu Fosse Você já seria fraco o bastante para decepcionar como especial para a televisão. Como Cinema, então, acaba levando o espectador a desejar trocar de corpo com alguém que, preferencialmente, esteja bem longe da sala de projeção.
06 de Janeiro de 2006
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