Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
21/12/2007 | 20/10/2006 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
118 minuto(s) |
Dirigido por Giuseppe Tornatore. Com: Kseniya Rappoport, Michele Placido, Claudia Gerini, Pierfrancesco Favino, Piera Degli Esposti, Clara Dossena, Alessandro Haber, Angela Molina, Margherita Buy.
Marcando o retorno de Giuseppe Tornatore à cadeira de diretor depois de seis anos de ausência (seu último trabalho foi Malèna, de 2000), A Desconhecida é um suspense com claros toques noir que cria uma atmosfera tensa e envolvente durante a maior parte do tempo, mas que, lamentavelmente, se perde de maneira absurda em seus minutos finais, quando o cineasta parece perder a coragem de manter-se fiel ao tom cínico que adotara no restante da projeção.
Escrito pelo próprio Tornatore com a colaboração do prolífico (e, talvez por isso, irregular) Massimo De Rita, A Desconhecida conta com um prólogo misterioso durante o qual várias mulheres de lingerie são friamente examinadas por uma figura oculta, que escolhe uma delas para propósitos não revelados (embora estes pareçam óbvios). Logo em seguida, somos apresentados a Irena (Rappoport), uma imigrante ucraniana que agora vive na Itália e que procura emprego como faxineira de um prédio residencial. Aos poucos, percebemos que há algo estranho com relação à mulher: apesar de insistir por aquele trabalho, ela recusa outras ofertas talvez até mais interessantes para trabalhar em outros lugares, não parece estar precisando de dinheiro e faz questão de alugar um apartamento localizado bem em frente ao tal prédio no qual finalmente é contratada. Irena parece ter um interesse particular na família Adacher (um casal e uma filha pequena, além da babá desta última), mas por razões que tampouco são esclarecidas de imediato. E não demora muito para que ela consiga substituir a antiga babá, tornando-se bastante próxima da pequena Tea (Dossena, linda e expressiva), que sofre de uma rara doença que inibe seus reflexos defensivos durante uma queda ou ao queimar-se, por exemplo.
Como tantos thrillers convencionais, A Desconhecida logo adota uma estrutura bastante familiar aos fãs do gênero, investindo em flashbacks recorrentes (e que incluem flashes de sadomasoquismo) que revelam gradualmente os traumas que motivaram as ações atuais da protagonista. Infelizmente, este recurso batido acaba quebrando o ritmo da narrativa e comprometendo até mesmo a atmosfera noir buscada por Tornatore, já que estas “lembranças” surgem banhadas por uma fotografia brilhante e calorosa que dilui o tom sombrio das seqüências ambientadas no presente e que se tornam ainda mais carregadas graças à trilha densa do mestre Ennio Morricone.
Com exceção dos flashbacks, porém, os dois primeiros atos de A Desconhecida se mostram bastante eficazes graças às várias reviravoltas que mantém o espectador sempre incerto sobre o que virá a seguir, mesmo que algumas destas complicações sejam mais previsíveis do que o ideal. Ainda assim, reavaliando a trama depois de seu desfecho, algumas trapaças narrativas de Tornatore se tornam óbvias e diminuem o trabalho em retrospectiva, como, por exemplo, sua decisão de escalar uma atriz-mirim tão parecida com a protagonista. De todo modo, o cineasta ganha pontos por imprimir tensão ao filme em seqüências como aquela
E mais: se, por um lado, o excesso de sangue que jorra de uma ferida, em determinada cena, acaba beirando o ridículo, por outro o diretor demonstra bastante inteligência ao criar um quadro que gera grande suspense ao enfocar simultaneamente Irena (que tenta abrir um cofre) e Valeria (Gerini), que, localizada no extremo oposto da tela e separada da primeira por uma parede, caminha lentamente em direção à porta. Além disso, o longa traz uma transição particularmente eficaz (ou um raccord, como queiram) criada por Tornatore e pelo montador Massimo Quaglia: quando Irena se inclina em direção a Tea para beijá-la, um corte preciso conclui o movimento revelando que agora a protagonista se aproxima de um cofre, em mais um ótimo exemplo de economia narrativa.
Surgindo como destaque inquestionável do projeto, a atriz russa Kseniya Rappoport cria uma anti-heroína complexa e repleta de ambigüidades: se sua frieza ao orquestrar um acidente é capaz de espantar o público, seu carinho óbvio pela pequena Tea serve para redimi-la ao menos parcialmente, mesmo que seus métodos para ensinar a garota a se defender sejam estranhamente cruéis. E é claro que, ao conhecermos os detalhes sobre seu passado, a apavorante história que se apresenta acaba por atenuar muitas de suas ações.
É uma pena, portanto, que os 20 minutos finais de projeção sejam tão ridículos em sua artificialidade: lembrando um daqueles romances policiais baratos nos quais o detetive reúne todos os suspeitos para explicar o que houve de fato, o desfecho ainda investe num draminha água-com-açúcar quando, depois do longo monólogo expositivo, Tornatore encerra a projeção com uma cena ofensivamente maniqueísta, simplista e medíocre – e, neste ponto, o filme não apenas derrapa como ainda capota, quase matando todos os seus ocupantes. A sorte do cineasta é que o final (um dos piores do ano) foi precedido por 100 minutos de bom Cinema.
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