Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
08/12/2006 01/01/1970 1 / 5 / 5
Distribuidora

DOA: Vivo ou Morto
DOA: Dead or Alive

Dirigido por Corey Yuen. Com: Jaime Pressly, Holly Valance, Sarah Carter, Devon Aoki, Natassia Malthe, Matthew Marsden, Collin Chou, Kane Kosugi, Brian J. White, Steve Howey e Eric Roberts.

Deixemos de hipocrisia: ninguém vai assistir a DOA: Vivo ou Morto com o objetivo de apreciar uma boa narrativa ou para avaliar a qualidade da direção. Se você decidiu pagar o ingresso para ver uma adaptação de videogame que traz cinco atrizes jovens e bonitas protagonizando cenas e mais cenas de luta, você quer ver basicamente peitos, bundas, coxas e pancadaria. Se houver sugestão de sexo, saímos lucrando. E é com base nestes quesitos que devemos avaliar o filme.

Que é uma porcaria. Engessado pela necessidade comercial de obter uma classificação que permita a entrada de adolescentes de até 13 anos de idade, Vivo ou Morto é uma “Playboy” na qual as modelos aparecem vestidas. Em vários momentos, podemos ver as costas nuas de uma ou outra atriz, mas não permita que isto te leve a criar expectativas: assim que elas se viram para a câmera, um objeto imediatamente se coloca estrategicamente diante de qualquer parte mais interessante do corpo, num exercício de fazer inveja à série Austin Powers. Aliás, até mesmo a inevitável cena da “garota molhada”, obrigatória em “filmes para machos”, é boicotada pelo fato de suas protagonistas estarem usando biquínis por baixo das blusas. E se você julga que ver mulheres esculturais vestindo apenas lingerie já é o bastante, lembre-se de que as norte-americanas (e o filme é uma co-produção de Hollywood) adoram calcinhas gigantes, capazes de impulsionar um veleiro, se necessário. Eu ainda poderia citar que todas as cinco “lutadoras” são encarnadas por atrizes absolutamente medíocres (com destaque para a falta de talento de Devon Aoki, a pior de todas), mas - sejamos sinceros - isto não importa, não é mesmo?

Produzido por Paul W.S. Anderson (sempre um sinal de que o fim do mundo está próximo), DOA: Vivo ou Morto tampouco faz jus à nossa expectativa por sangue: trazendo lutas pessimamente coreografadas e que fazem uma utilização amadora dos cabos que suspendem os atores em seus movimentos que desafiam a gravidade, o filme é tão inofensivo no quesito “pancadaria” quanto no de “nudez” – e pela mesma razão: a censura. Assim, os golpes jamais deixam marcas nos combatentes e, para uma história centrada em duelos corporais, é absurdo que jamais vejamos uma única gota de sangue ou mesmo um pequeno hematoma (para salientar a força dos chutes e socos, o péssimo diretor Corey Yuen se limita a incluir um efeito de tremor na câmera aqui e ali, mas sem sucesso). Para piorar, os realizadores cometem a estupidez de situar uma luta em um bambuzal, como se fizessem questão de ressaltar a própria incompetência ao levar o público a se lembrar do infinitamente superior O Clã das Adagas Voadoras.

Falhando, portanto, ao não atender aos anseios básicos (ou seja: peitos, bundas, coxas e pancadaria) de seu público-alvo, Vivo ou Morto se encarrega também de ofender aqueles desavisados que entraram na sala de projeção por engano, julgando, pelo título, que iriam assistir a um neo-noir ou a algo parecido: mesmo contando com três montadores, o filme é repleto de erros básicos de continuidade, evidenciando o descaso flagrante daqueles profissionais. Incapazes até mesmo de estabelecer corretamente a posição de cada personagem em um cenário fisicamente limitado como o interior de um avião, os montadores permitem que os atores saltem inexplicavelmente de um ponto a outro do ambiente – e, no restante da projeção, é comum vermos coisas como um abraço que se transforma em beijo depois de um corte mal realizado e assim por diante. Como se não bastasse, os efeitos visuais também se revelam de uma pobreza constrangedora – algo atestado por uma das piores utilizações de greenscreen de 2006.

Sem saber como encher lingüiça entre uma luta e outra, o trio de roteiristas (sim, foram necessárias três pessoas para escrever esta coisa) atira na história todo tipo de imbecilidade que possamos imaginar, desde mecanismos de auto-destruição a piratas que sempre se dão mal (e que representam um plágio descarado dos azarados saqueadores de Asterix), passando por um inacreditável momento em que uma tela gigante de computador anuncia para o vilão que a “CIA FOI ALERTADA”. Aliás, há uma cena em que um personagem tenta descobrir o segredo por trás de uma tatuagem e percebe que ela traz números escritos ao contrário, o que o leva a admirar a “inteligência” do código – que, aposto, poderia ser facilmente “desvendado” por uma criança cega, bêbada e disléxica.

Encenando cada luta com o auxílio de gráficos que mostram até mesmo a energia restante de cada combatente (como eles calculam isto???), DOA: Vivo ou Morto se contenta em tentar recriar a dinâmica de uma briga entre personagens de videogame – o que se revela tão divertido quanto acompanhar, por 90 minutos, duas pessoas jogando sem jamais podermos participar da brincadeira.

 07 de Dezembro de 2006

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!