Dirigido por Paul Feig. Com: Dyllan Christopher, Quinn Shephard, Tyler James Williams, Brett Kelly, Gina Mantegna, Lewis Black, Wilmer Valderrama, Paget Brewster, Rob Corddry, Dominique Saldana, David Koechner, Rob Riggle, Teri Garr.

Querido Papai Noel,

creio que tenho sido um bom menino. Sempre que vejo uma atrocidade como Uma Comédia Nada Romântica ou Muito Gelo e Dois Dedos D’Água, procuro me lembrar de que em algum momento acabarei assistindo a algo inspirador como Filhos da Esperança ou A Máquina e, portanto, evito tornar-me amargo. Da mesma forma, cuido muito bem de meus brinquedos e jamais permitiria que meu DVD player rodasse discos piratas ou qualquer tipo de mídia (legal ou não) que trouxesse filmes como Garrincha ou Escuridão.

Mas estou preocupado, Papai Noel. O senhor viu algum dos longas “natalinos” deste ano? (Feliz Natal foi lançado em 2005 e, portanto, não conta.) Provavelmente, está muito ocupado liderando os elfos que constroem os brinquedos, mas deixe-me dizer apenas que certos realizadores de Hollywood foram muito, muito levados e não merecem ganhar presentes. Eu já escrevi artigos sobre Um Natal Brilhante e O Amor Não Tira Férias, mas achei que Menores Desacompanhados merecia ser discutido diretamente com o senhor: alguma providência deve ser tomada com relação ao diretor Paul Feig e aos roteiristas Jacob Meszaros e Mya Stark – e acredito que colocar um pedaço de carvão ou mesmo plutônio em suas meias seria um bom começo. Ou um escorpião, não sei.

Sabe aqueles filmes que começam com uma montagem que apresenta todos os personagens principais rapidamente? Pois é, Menores Desacompanhados é um deles. O problema é que logo de saída já percebemos que todos os personagens em questão são crianças insuportáveis e mal-criadas que deveriam estar na FEBEM, não numa comédia natalina. Para piorar, os roteiristas parecem acreditar que retratá-las correndo por um aeroporto depois de ficarem presas em função do mau tempo é algo suficientemente interessante para originar um filme – e, Papai Noel, eu garanto para o senhor que não é. Para que tenha uma idéia, os garotos em questão passam toda a projeção sendo perseguidos pela equipe de segurança do aeroporto, já que, se forem capturados... hum... nada acontecerá. Eles apenas terão que continuar esperando que o tempo melhore para que possam continuar suas viagens. Ah, sim: para gerar algum tipo de... digamos... “tensão”, as crianças devem levar um presente para a irmãzinha do herói a fim de que ela continue a acreditar que o senhor existe. Não, não estou inventando isso; é a pura verdade.

E o senhor sabia, Papai Noel, que crianças são criaturas animalescas que, quando afastadas dos pais, imediatamente começam a correr de um lado para o outro gritando alucinadamente, promovem competições de arroto, atiram papel e lixo umas nas outras, jogam pôquer por dinheiro e derrubam qualquer adulto que tente controlá-las? É, eu também não sabia, mas é isto que aprendi com Menores Desacompanhados. Aliás, aprendi também que sempre que um personagem diz algo como “Eu gosto de evitar clichês” é porque provavelmente está preso em um filme repleto deles – a começar pelas inúmeras montagens que trazem o elenco fazendo gracinhas sem graça para a câmera. (Paradoxo? Não; Hollywood.)

Aproveito para sugerir, São Nicolau (posso me referir à sua identidade secreta? Ou prefere que continue a chamá-lo por seu nome de guerra?), que o senhor também evite presentear os integrantes do elenco desta produção, desde o aborrecido garotinho que insiste em imitar Eddie Murphy (aliás, ele também imita Chris Rock numa série de televisão) até seus inexpressivos colegas de vandalismo (o que inclui Brett Kelly, que esteve tão comovente em Papai Noel às Avessas, um filme que o senhor certamente iria adorar). E já que comentei a participação de um ator-mirim em uma série de tevê, é curioso observar que o cineasta Paul Feig, que ocasionalmente dirige a ótima série The Office, foi buscar na telinha boa parte de seu elenco, mas com péssimos resultados: da já citada The Office ele trouxe B.J. Novak e Mindy Kalling, que parecem constrangidos quando surgem rapidamente em cena; do Daily Show com Jon Stewart vieram Lewis Black (um comediante talentoso cuja marca registrada é o mau humor, mas que está longe de ser um Joe Pesci ideal para os aspirantes a Macaulay Culkins desta produção) e Rob Corddry; de That 70’s Show veio Wilmer Valderrama, que parece só saber fazer graça quando pode usar um sotaque exagerado; e, finalmente, de The Kids in the Hall vieram Kevin McDonald, Mark McKinney e Bruce McCulloch, que se saem relativamente bem em sua única cena.

Mas eu teria ficado realmente feliz caso o monstro de fumaça de Lost também tivesse sido escalado e imediatamente trucidasse todos os demais personagens do filme.

Produzido para funcionar como comédia leve e divertida, Menores Desacompanhados só conseguiu me deixar de mau humor. E é por isso, Papai Noel, que escrevo esta cartinha. Sei que o senhor é um mito ocupado, mas será que poderia fazer um imenso favor para crianças e adultos de todo o mundo ao transformar os rolos de filme que trazem esta porcaria em cópias de O Expresso Polar ou A Felicidade Não se Compra? Se realizar esta mágica for algo muito difícil, também ficarei satisfeito caso consiga simplesmente incendiá-los antes que sejam carregados nos projetores.

Em último caso, apenas apague de minha memória quaisquer vestígios de ter visto este filme. E já que vai estar com a mão na massa (encefálica), elimine também as lembranças relativas a qualquer coisa estrelada por Rob Schneider – mas, por favor, não toque no registro de Garrincha. Este pelo menos me faz rir.

Abraços,
Pablo

21 de Dezembro de 2006