Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
23/03/2007 | 01/01/1970 | 1 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
98 minuto(s) |
Criar um clima conspiratório eficiente a partir de um número ou de uma seqüência de números é algo perfeitamente possível para uma obra de ficção – e para constatar isso, basta verificar o belo trabalho feito na série de tevê Lost, que conseguiu intrigar milhões de fãs com sua estranha seqüência numérica (na qual, aliás, se encontra o “
Quando o filme tem início, somos apresentados ao apanhador de animais Walter Sparrow (Carrey), que é casado com uma bela confeiteira, Agatha (Madsen), e tem um filho adolescente que parece ser um garoto ajuizado, Robin (Lerman). Certa noite, sua esposa o presenteia com um livro de capa vermelha intitulado “Número
Ocupando boa parte do filme, que se encarrega de recriar para o espectador as passagens mais importantes de sua trama, o tal livro mais parece um exemplar dispensável de ficção barata cuja capa sem inspiração (isso para não mencionar o ridículo nome do autor) faz jus ao seu conteúdo. Não é à toa que aquela parece ser a única cópia da obra: com passagens como “A cegonha me deixou nesta cidade” e “Ela tinha um rosto feito para sorrir”, o livro é tolo como o nome de seu personagem principal, o detetive Fingerling – e ter que acompanhar as encenações daquela besteira é algo que ajuda a tornar o longa quase insuportável. Infelizmente, as seqüências ambientadas na “vida real” não se revelam muito melhores: as tais “coincidências” identificadas por Walter beiram o risível (“meu vizinho de infância também tinha um cachorro!”), assim como suas motivações presentes e passadas (o fato do tal cãozinho viver fugindo inspirou Walter a se tornar apanhador de animais, acreditem ou não). Para piorar, a paranóia do protagonista em relação ao número 23 surge de maneira súbita, sem um desenvolvimento narrativo que a torne plausível: em um instante, ele está lendo o livro com certo interesse; em outro, já é um maluco que transforma tudo ao seu redor em números e que acredita estar prestes a se tornar um assassino.
Enquanto isso, as seqüências que ilustram o conteúdo do livro jamais conseguem evocar o clima de tensão e sensualidade pretendido, surgindo como um embaraçoso pastiche de filme noir que, apesar de compreender (mesmo que superficialmente) o conceito de femme fatale, parece se confundir quanto a todo o resto. Aliás, na dúvida, o roteiro recorre desesperadamente aos clichês, mesmo que estes enfraqueçam ainda mais a já capenga narrativa: para constatar isso, basta observar a cena em que a esposa de Walter (uma confeiteira, pelo amor de Deus!) decide investigar sozinha um hospício abandonado em busca de mais pistas. Chega a ser um milagre que Virginia Madsen consiga dizer suas falas sem desmaiar de vergonha.
Já Jim Carrey, coitado, não tem a mesma sorte. Depois de oferecer performances dramáticas brilhantes
Tornando-se cada vez mais um sinônimo de “lixo”, o cineasta Joel Schumacher falha grotescamente ao não conseguir criar o clima conspiratório tão importante para a narrativa. Em vez disso, cria enquadramentos e movimentos de câmera constrangedoramente ruins – e devo destacar o contra-zoom no close de um cachorro que, confesso, me levou às risadas (se Hitchcock soubesse que o efeito ótico que criou foi utilizado desta maneira, certamente se reviraria no túmulo). Por outro lado, a fotografia concebida por Matthew Libatique surge como único ponto interessante da produção: embora o visual estilizado da infância de Fingerling peque por tentar evocar um conto de fadas, a contraposição entre a dessaturação, a granulação e a superexposição pontual empregadas na história do detetive e o aspecto realista das seqüências protagonizadas por Walter é algo digno de nota – especialmente quando os dois universos começam a se aproximar esteticamente um do outro, à medida que Walter mergulha cada vez mais em sua paranóia. Pena que esta lógica visual inteligente seja empregada em uma história tão imbecil.
Sem conseguir convencer o espectador do básico (a onipresença do número 23), o roteiro chega a apelar para absurdos para tentar provar sua lógica tortuosa – e o cúmulo do ridículo é alcançado quando o filme cita o número do uniforme de Al Capone na prisão. Desta maneira, o longa falha não apenas como exemplar do gênero suspense, mas até mesmo como mera curiosidade para os numerologistas. E não creio que seria necessário muito esforço para despertar o interesse daqueles que já acreditam que os homens são influenciados por dígitos, não é mesmo?
Observação: O porteiro grisalho (e com uma mancha no rosto) do hotel no qual o personagem de Jim Carrey se hospeda é interpretado por Bob Zmuda, antigo parceiro de Andy Kaufman e que,
24 de Março de 2007
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