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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/12/2006 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora

Adrenalina
Crank

Dirigido por Mark Neveldine e Brian Taylor. Com: Jason Statham, Amy Smart, José Pablo Cantillo, Carlos Sanz, Efren Ramirez e Dwight Yoakam.

Adrenalina é de uma idiotice contagiante. Parecendo ter saído diretamente dos anos 80 – algo que o filme faz questão de reconhecer em seu título estilizado com gráficos de Atari (e também na rápida brincadeira pós-créditos finais) -, esta produção poderia perfeitamente ter sido protagonizada por Stallone, Schwarzenegger ou mesmo Van Damme e dirigida por alguém como Walter Hill ou Mark Lester, já que não está muito distante de absurdos inconseqüentes (e divertidos) como Tango & Cash, Inferno Vermelho e O Grande Dragão Branco.

Escrito e dirigido por Mark Neveldine e Brian Taylor, Adrenalina traz Jason Statham como o matador profissional Chev Chelios, que certa amanhã acorda apenas para descobrir que foi envenenado por um de seus inimigos e que tem apenas mais uma hora de vida. Determinado a matar seus assassinos antes de morrer, o sujeito é informado por seu médico de que o veneno irá demorar mais a agir caso ele consiga manter o coração em ritmo sempre acelerado – e, assim, Chelios dá início a uma corrida enlouquecida enquanto investiga o paradeiro de suas vítimas, procurando evitar ao máximo atividades que possam acalmá-lo (acertar o relógio do microondas de sua namorada quase o leva a uma parada cardíaca).

Mistura de Morto ao Chegar, Velocidade Máxima e Corra, Lola, Corra (mas sem a mesma originalidade e controle de ritmo), este Adrenalina adota o exagero como mantra absoluto - tudo no filme é over: a câmera não pára de se movimentar por um segundo sequer; a trilha – que inclui batidas de coração – é estridente; e a lógica visual concebida pelos diretores é estonteante, alternando planos abertos com closes fechadíssimos, fotografia superexposta com sombras granuladas, e assim por diante. Além disso, a montagem é histérica e atira para todos os lados: cortes secos, freeze frames, telas divididas, legendas espalhadas por todos os cantos da tela, gráficos animados que ilustram informações importantes (corações batendo; seringas se enchendo) e até mesmo transições de cenas feitas com o auxílio do... Google Earth.

Sem jamais se levar a sério, o longa abraça a caricatura como maneira ideal de compor seus personagens (tanto mocinhos quanto bandidos) e, entre estes, o herói é obviamente a figura mais absurda: com a cara sempre fechada, Statham encarna o tipo brutamontes com intensidade, o que o torna ainda mais engraçado quando é obrigado a fazer besteiras como se entupir de bebidas energéticas, aspirar com violência vários tubos de descongestionantes nasais ou dançar no interior de um táxi. Aliás, se você não é fã de humor negro, Adrenalina não representa uma boa opção de divertimento (basta dizer que o periquito de Débi & Lóide deu até sorte se comparado ao que acontece com seu primo neste longa).

Ciente de que seu público-alvo é composto majoritariamente por jovens do sexo masculino, Adrenalina também não deixa de atender aos interesses imediatos do segmento: aqui, as mulheres existem apenas para estimular – visual e fisicamente – seus viris senhores. Conseqüentemente, o filme traz muita nudez gratuita e uma das cenas de sexo mais inesperadas (e engraçadas) dos últimos anos. Porém, não se enganem: ao contrário de fantasias misóginas como Velozes e Furiosos, este longa não apenas reconhece seu próprio machismo como ainda nos convida a ridicularizá-lo – e esta bem-vinda auto-depreciação pode ser constatada com facilidade na cena que traz várias mulheres nuas sendo “expostas” em grandes bolhas de plástico transparentes no alto de uma luxuosa cobertura.

Desta maneira, Adrenalina funciona até mesmo como teste de caráter: se você se deparar com alguém que encara o filme como um exemplar convencional do gênero ação e se mostra cego à ironia que atravessa a narrativa, chame imediatamente a polícia. Se o sujeito (sim, porque certamente será um homem) não for um serial killer, tem grande potencial para se transformar em um.

30 de Novembro de 2006

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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