Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
05/10/2007 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
114 minuto(s)

Direção

Yimou Zhang

Elenco

Gong Li , Chow Yun-Fat , Jay Chou , Liu Ye , Chen Jin , Ni Dahong , Li Man , Qin Junjie

Roteiro

Yimou Zhang

Produção

Yimou Zhang

Fotografia

Xiaoding Zhao

Música

Shigeru Umebayashi

Montagem

Long Cheng

Design de Produção

Tingxiao Huo

Figurino

Chung Man Yee

Direção de Arte

Minxuan Zong

A Maldição da Flor Dourada
Man cheng jin dai huang jin jia

Dirigido por Zhang Yimou. Com: Gong Li, Chow Yun-Fat, Jay Chou, Liu Ye, Chen Jin, Ni Dahong, Li Man, Qin Junjie.

Encerrando a trilogia iniciada pelo fantástico Herói e um pouco prejudicada pelo mediano O Clã das Adagas Voadoras, o talentoso cineasta chinês Zhang Yimou constrói, em A Maldição da Flor Dourada, um épico que não apenas se encaixa no clima mítico e fantástico do gênero wuxia pian (assim como seus antecessores) como ainda traz toques claramente shakespeareanos em sua trama repleta de traições e lutas sangrentas por um trono real (ou, neste caso, imperial).

Combinando o tom político de Herói e o melodrama romântico de O Clã das Adagas Voadoras, este novo filme traz Chow Yun-Fat como o Imperador Ping, que, estudioso das ervas medicinais, vem envenenando gradualmente sua esposa com um cogumelo que a levará à loucura. Ao descobrir os planos do marido, porém, a Imperatriz Fênix (Gong Li, voltando a trabalhar com Yimou depois de 11 longos anos) dá início aos seus próprios arranjos para derrubá-lo e levar seu filho, o príncipe Jai (Chou), ao poder. Esta estratégia, no entanto, pode custar a vida do primeiro herdeiro do trono, o príncipe Wan (Ye), filho do primeiro casamento do Imperador e com quem Fênix mantém um caso secreto há três anos. Somam-se a estas subtramas vários outros personagens com motivações próprias (como a rancorosa sra. Jian, esposa do médico imperial) – e o resultado, sempre acompanhado de uma trilha sonora carregada e pouco sutil, é um banho de sangue na noite do aguardado Festival dos Crisântemos.

Seguindo a suntuosidade plástica de seus antecessores, A Maldição da Flor Dourada conta com uma direção de arte que impressiona desde o primeiro segundo de projeção: os corredores do palácio imperial, com seus maravilhosos vitrais, são explorados ao máximo por Yimou, que roda inúmeros planos concebidos apenas para exibi-los enquanto algum personagem caminha no centro do quadro. Da mesma maneira, os figurinos, sempre com cores intensas, revelam-se absolutamente fabulosos, esmerando-se inclusive nos menores adereços, como colares, broches e grampos de cabelo (e até mesmo as unhas da Imperatriz ganham um merecido plano-detalhe que revela um elaborado padrão). Porém, talvez o mais impressionante seja mesmo a dimensão da produção, já que o filme traz seqüências que envolvem centenas de figurantes – todos devidamente caracterizados.

Conhecido por sua predileção por cores marcantes, Yimou e seu brilhante diretor de fotografia Zhao Xiaoding brindam o espectador com um espetáculo visual que vai do grandioso (como o pátio gigantesco tomado por vasos de crisântemos) a momentos em que o mais importante são os detalhes, como nos planos com grande profundidade de campo que permitem que o público aprecie com calma os imensos cenários. Além disso, ao contrário de boa parte dos realizadores contemporâneos, que empregam a câmera lenta quase como tique nervoso, de tão freqüente e gratuita, o cineasta utiliza o recurso com parcimônia, reservando-o para os instantes em que este provocará o maior impacto.

Menos bem-sucedidos, por outro lado, são os efeitos visuais empregados na seqüência-clímax da batalha, já que os milhares de soldados criados em computador surgem artificiais, exatamente como bonecos virtuais. Mesmo assim, o confronto impressiona pela maneira distanciada com que é filmado por Yimou, que mantém suas câmeras (as reais e virtuais) em posições afastadas que privilegiam o conjunto dos movimentos dos dois exércitos, possibilitando que compreendamos suas respectivas estratégias. Já nas cenas que envolvem confrontos mais pessoais, o diretor se concentra nas coreografias elegantes criadas por Siu-Tung Ching (o mesmo dos longas anteriores), que as compõe como um quase balé – e, mais uma vez, a câmera lenta e os planos-detalhe (como aqueles que mostram as espadas roçando as armaduras de metal) são utilizados com precisão para enriquecer visual e dramaticamente a experiência.

Trabalhando pela primeira vez com Zhang Yimou, o ótimo Chow Yun-Fat opta por uma composição minimalista, salientando a natureza fria e introspectiva do Imperador Ping e guardando suas explosões para as cenas em que estas realmente podem chocar (e a idéia de uma “surra de cinto” aqui ganha contornos assustadores). Neste aspecto, aliás, a estratégia de Yun-Fat cria um belo contraste com a performance mais visceral da maravilhosa Gong Li, cuja Imperatriz encontra-se sempre dividida entre a intensidade de seus sentimentos e a necessidade de manter-se contida a fim de levar seu plano adiante. Por outro lado, Liu Ye, como o príncipe Wan, entrega-se ao mais artificial dos exageros, enquanto Jay Chou, bem mais discreto como o príncipe Jai, ganha força de maneira inteligente à medida que a narrativa caminha rumo ao seu desfecho.

E se O Clã das Adagas Voadoras permitia leituras alternativas ao espectador sobre sexismo e sexualidade (como aventei em meu texto sobre aquele filme), desta vez Zhang Yimou utiliza a impressionante seqüência em que os criados do palácio limpam o campo de batalha como uma referência inteligente – e importantíssima - ao massacre na Praça da Paz Celestial - e a ação rápida dos serviçais tem o mesmo propósito da atitude do governo chinês ao proibir, até os dias de hoje, que os protestos pela democracia no país e a sua conseqüente repressão sejam mencionados pela população e pela imprensa nacional: apagar da memória coletiva (e, esperam os governantes, da própria História) os acontecimentos que indicam que, apesar de tudo, os oprimidos sempre representam uma ameaça em potencial aos seus algozes. Isto é, desde que consigam se lembrar de que, juntos e organizados, têm o poder de criar uma realidade diferente.

05 de Outubro de 2007

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!