Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
29/09/2006 | 09/08/2006 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
129 minuto(s) |
Dirigido por Oliver Stone. Com: Nicolas Cage, Michael Peña, Maria Bello, Maggie Gyllenhaal, Jay Hernandez, Jon Bernthal, Armando Riesco, Danny Nucci, Tom Wright, Brad William Henke, Nicky Katt, Michael Shannon, William Mapother, Frank Whaley, Stephen Dorff.
Depois de mais de uma década de excessos visuais e montagens alucinantes (que funcionaram em alguns casos, mas não em outros), Oliver Stone finalmente criou um longa-metragem esteticamente contido, mostrando-se até mesmo capaz de voltar a trabalhar com “apenas” dois montadores. Infelizmente, a auto-disciplina do cineasta não se traduziu em um retorno à boa forma (seu último trabalho realmente memorável foi Reviravolta, lançado há quase dez anos), já que, desta vez, Stone assumiu um projeto que exigia um diretor capaz de lidar com cenas mais intimistas – justamente um dos pontos fracos do realizador. Dramaticamente comprometido pelo fato de já sabermos como tudo irá terminar (afinal, até mesmo o cartaz anuncia se tratar de uma história de “sobrevivência”), As Torres Gêmeas empalidece ainda mais diante do realismo alcançado por Paul Greengrass em seu espetacular Vôo United 93 – e, quando comparado àquele filme, esta nova produção acaba soando mais como uma dramatização feita para a televisão.
Escrito por Andrea Berloff a partir de acontecimentos reais, o longa tem início na manhã de 11 de setembro de 2001, quando acompanhamos o despertar do policial John McLoughlin (Cage) e sua preparação para mais um dia de trabalho. Enquanto Nova York vai se tornando mais movimentada à medida que as horas avançam, testemunhamos conversas triviais sobre baseball, a sonolência das pessoas no metrô e o estilo de vida agitado de uma metrópole que nem sequer imagina como sua realidade está prestes a ser alterada. Finalmente, depois de vários minutos, vemos o horizonte de Manhattan e a presença imponente das torres gêmeas do World Trade Center – que, como numa imagem de um passado distante, imediatamente nos faz lembrar de uma época menos cínica e com bem menos ódio do que a que vivemos atualmente.
Esta introdução, aliás, representa o melhor momento de As Torres Gêmeas, já que, de maneira direta e correta, Stone evoca sensações fortes apenas por saber como conduzir as cenas até o instante em que revela o marco zero dos atentados terroristas de 11 de setembro. O cineasta, aliás, também demonstra seu imenso talento ao recriar o que acontece em seguida: em questão de minutos, o mundo se transforma para McLoughlin (para os norte-americanos, em geral) e seu subordinado Will Jimeno (Peña), que, depois de receberem um chamado para auxiliarem na retirada de feridos do World Trade Center, mergulham em uma situação que se desenrola com uma rapidez estonteante. Em um segundo, todos estão chocados com o caos provocado pela colisão dos aviões com as torres; em outro, estão cobertos por toneladas de escombros.
A chegada dos personagens ao local dos atentados, vale dizer, é encenada de maneira exemplar pelo diretor: inicialmente, vemos a imagem que se tornou símbolo daquele dia, com a fumaça saindo do WTC, mas, logo depois, Stone nos apresenta uma perspectiva nova através dos destroços caindo sobre os policiais, dos carros em chamas ao lado da entrada dos prédios e, é claro, dos tremores e explosões observados pelas pessoas que se encontravam nos saguões das torres. Desnorteados por informações desencontradas e pelo caos de uma situação com a qual jamais haviam lidado, os personagens cometem erros graves de julgamento, como, por exemplo, ao realizarem o atendimentos aos feridos ainda dentro do WTC, em vez de levá-los para um lugar mais seguro. Porém, naquele momento, fica óbvio que ninguém esperava que os edifícios desabassem – e quando isto ocorre, Stone encena a tragédia a partir do ponto de vista daqueles que se encontravam dentro das torres, numa cena impressionante, realista e impactante.
É uma pena, portanto, que o filme desabe junto com o World Trade Center. Se até então o longa oferecera um retrato intenso daquelas primeiras horas de 11 de setembro de
O cineasta até tenta, é verdade; porém, suas iniciativas são desajeitadas e trazem resultados ainda piores, como comprovam os vários flashbacks que jamais se encaixam de forma orgânica na narrativa e que servem apenas para deixar o filme com um ritmo ainda mais irregular. E se o roteiro acerta ao ilustrar a dimensão emocional que assumem objetos comuns deixados para trás pelos personagens (como os instrumentos de carpintaria de McLoughlin), volta a tropeçar ao incluir cenas que trazem os delírios de John com sua esposa, quando o longa chega a perder alguns longos minutos enfocando uma conversa imaginária e terrivelmente repetitiva entre o casal.
Da mesma forma, a estratégia visual adotada por Stone e pelo diretor de fotografia Seamus McGarvey é tristemente primária: enquanto Nicolas Cage e Michael Peña são sempre enquadrados em primeiríssimos planos e mergulhados na sombra, os tais flashbacks surgem superexpostos e com uma atmosfera praticamente de sonho. E se comparar a retirada dos policiais dos escombros a um quase literal retorno dos mortos resulta em um plano até interessante (transformando as ruínas nas paredes de um túmulo), não há como negar que a idéia também é óbvia em sua alegoria. Como se não bastasse, Stone se atrapalha completamente ao incluir vários ícones religiosos cristãos (as “visões” relacionadas a Jesus são patéticas), o que, para piorar, ainda acaba parecendo um contraponto ideológico/religioso à origem islâmica dos responsáveis pelo ataque – um descuido que, apesar de não ser intencional (Oliver Stone não faria isso), é perigoso e ofensivo.
Sem condições de criarem desempenhos memoráveis em função da própria limitação física na qual se encontram seus personagens, Cage e Peña se saem bem ao retratarem a situação de impotência dos policiais, que, imobilizados e expostos, são obrigados a escutar o sofrimento um do outro enquanto aguardam por um resgate ou pelo desabamento final que tomará suas vidas. Em contrapartida, até mesmo esta iminência de morte torna-se artificial e ineficaz justamente por sabermos, de antemão, como a história terminará: em condições normais, seria angustiante acompanhar as famílias dos personagens enquanto esperam por alguma notícia, mas, neste caso, a demora torna-se apenas entediante, já que temos consciência de que o tão aguardado telefonema acabará acontecendo. Este é o alto preço que As Torres Gêmeas acaba pagando por optar pela exceção, e não pela regra: seria muito mais eficaz, do ponto de vista dramático e narrativo, enfocar alguma das milhares de outras famílias que jamais experimentaram a felicidade de reencontrar os parentes vitimados pelos atentados – ou, no mínimo, de receber uma posição definitiva sobre os mesmos (o número das vítimas de 11 de setembro que jamais tiveram seus restos recuperados chega a quase 1.200).
Sem se focar nos aspectos políticos dos atentados ou em suas conseqüências (ao menos, intencionalmente), As Torres Gêmeas não é um filme sobre terrorismo, vingança ou o governo Bush; é, antes de qualquer coisa, uma história sobre solidariedade e vontade de viver – e isto, por si só, não seria algo desabonador caso o longa tivesse algo de novo, interessante ou relevante a dizer sobre o tema (e não tem). É claro que, por se tratar de um projeto de Oliver Stone, é inevitável uma certa decepção com o tom inofensivo, inócuo, da narrativa, o que torna óbvio o receio do polêmico cineasta em manifestar suas opiniões sobre o assunto. De todo modo, para aqueles que conhecem a faceta paranóica do diretor, as duas rápidas menções ao fato da queda do WTC ter parecido uma implosão premeditada certamente servirão como base para várias teorias conspiratórias amalucadas sobre o papel do governo norte-americano na tragédia. Particularmente, no entanto, confesso que achei mais curiosa a maneira com que Stone inclui uma montagem que ilustra o choque e a tristeza que os atentados despertaram em vários países – o que escancara, de maneira sutil, o sentimento de solidariedade global que a administração Bush conseguiu atirar no lixo graças à sua política genocida e belicista. (E, aí sim, posso dizer que Stone faria isso.)
Ainda assim, é preciso um grande esforço para encontrar,
28 de Setembro de 2006
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