Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
13/05/2005 | 18/03/2004 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
95 minuto(s) |
Dirigido por Oxide Pang Chun, Danny Pang. Com: Qi Shu, Eugenia Yuan, Jesdaporn Pholdee, Philip Kwok.
Posso compreender por que a distribuidora brasileira desta produção resolveu batizá-la com o título de Visões, sem fazer qualquer referência ao fato de que, na realidade, se trata de uma continuação do fenomenal O Olho, lançado em 2002: como o original foi pouquíssimo visto no Brasil, lançar esta continuação simplesmente como O Olho 2 seria condená-la ao fracasso. Além disso, verdade seja dita: a trama deste novo filme tem pouco a ver com a de seu antecessor. Sim, há uma garota que enxerga os mortos. E pronto: personagens e trama são completamente diferentes a partir daí.
Desta vez, a história inicia-se na Tailândia, onde a protagonista (chinesa) Joey Cheng (Shu) se encontra de passagem. Depois de se entregar às compras, a moça volta para o hotel e pede que o recepcionista a acorde às oito da noite, mesmo que, para isto, seja obrigado a entrar no quarto. Em seguida, ela escreve um bilhete, engole várias pílulas para dormir e se prepara para morrer. Ou melhor: prepara-se para ser salva, já que o tal suicídio é uma tentativa clara de chamar a atenção (basta dizer que o tal bilhete diz: `Por favor, levem-me para um hospital.`). O que Joey não esperava é que, depois de revivida pelos médicos, se tornaria capaz de enxergar os mortos. Como se não bastasse, a garota descobre estar grávida do namorado que acabou de abandoná-la (daí a `tentativa` de suicídio), o que complica ainda mais sua situação.
Como em vários exemplares orientais do gênero terror, Visões adota um ritmo calmo ao construir sua narrativa, preocupando-se principalmente em desenvolver seus personagens e as relações entre estes. Assim, acompanhamos as tentativas de Joey de reaproximar-se do namorado e também sua ligação cada vez maior com o bebê que carrega. Além disso, os irmãos Oxide e Danny Pang, que também dirigiram o original, buscam sempre situar os fenômenos sobrenaturais em um contexto religioso apropriado, discutindo, por exemplo, as implicações budistas do ato impensado de Joey no hotel. (E o conceito de `reencarnação` desempenha um papel importante ao longo da trama.)
Visando manter o público sempre tenso, os cineastas empregam vários recursos interessantes: durante o primeiro ato, por exemplo, a própria língua torna-se fonte de inquietação, já que o mandarim de Joey não é compreendido na Tailândia, obrigando-a a conversar em inglês e aumentando seu sentimento de isolamento. Já mais tarde, quando a protagonista ganha seu dom assustador, a técnica dos Pang torna-se ainda mais refinada e eles passam a compor os planos mantendo a garota sempre em um canto da tela, deixando exposto o restante do campo vazio– e, com isso, fazem com que o espectador fique atento ao fato de que provavelmente há algo ali que não pode enxergar. Aliás, empregar o vazio para provocar tensão é o tipo de técnica narrativa sutil que, infelizmente, os realizadores de Hollywood têm exercitado com raridade.
Por outro lado, é claro que a dupla de diretores se entrega a uma série de outros `truques` que já se tornaram lugar-comum do gênero, como o emprego exaustivo de superfícies refletoras, como espelhos, banheiras cheias de água ou mesmo azulejos bem lustrados: basta ver um destes elementos surgir na tela para saber que logo a imagem de um espírito aparecerá ali. Da mesma maneira, a trilha sonora conta com sua grande parcela de acordes altos e súbitos que assustariam até mesmo o espectador que estivesse dormindo inocentemente em sua cadeira – a diferença é que, sejamos justos, em nenhum instante os irmãos Pang usam a trilha para sustos `falsos` (um gato que pula sobre a protagonista, digamos): se você ouvir um `tcham!` pode se preparar para ver um fantasma ou uma outra ameaça (real) qualquer. Para finalizar, é bom constatar que o filme sabe alternar os momentos de tensão com outros mais leves – algo fundamental para que a experiência se torne ainda mais eficaz.
Infelizmente, ao contrário do que ocorria em O Olho (ou The Eye - A Herança, como foi lançado por aqui), cuja trama ia se tornando cada vez mais interessante, desta vez o longa vai se enfraquecendo durante a projeção, à medida que compreendemos a natureza do que Joey está enxergando. E, apesar da seqüência envolvendo um estuprador revelar-se ridícula e dispensável, o filme aciona mesmo o botão de auto-destruição durante o terceiro ato, quando (e vou tentar dizer isto sem revelar o que acontece) a protagonista toma uma atitude... duas vezes!... que, além de absurda, nos força a aceitar que um grande hospital como aquele tenha um sistema de segurança mais falho do que o da FEBEM.
Aliás, o grande equívoco de Visões reside nas ações cada vez menos compreensíveis da heroína: por melhor que seja a performance da bela Qi Shu (e, de fato, somente a ótima atuação da atriz impede que Joey se converta em uma piada de mau gosto), torna-se impossível, para o público, aceitar as decisões da personagem, que, se no início desperta nossa identificação com sua situação, aos poucos provoca apenas repulsa. Ora, se ela compreende o que está acontecendo, por que ainda insiste em protestar? Burrice ou psicopatia: o que a leva a lutar contra a `natureza`? O filme pode até desejar que eu torça pela moça, mas a verdade é que passei a me preocupar mesmo com o bebê, já que se torna óbvio que a protagonista não tem condições psicológicas de ser mãe.
Sim, de certa forma a trama de Visões se resolve, explicando o que aconteceu ao longo dos 90 minutos de projeção, mas estas justificativas não chegam aos pés das revelações de O Olho. E não há como negar que, depois de prometer horror absoluto, esta continuação surge inofensiva, quase benigna.
Ainda assim, preciso reconhecer que o último plano do filme é sensacional e vai te mandar para casa com um frio pavoroso na espinha.
12 de Maio de 2005
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