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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/01/2008 25/12/2007 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
94 minuto(s)

Aliens vs. Predador 2
Aliens vs. Predator - Requiem

Dirigido por Colin Strause, Greg Strause. Com: Reiko Aylesworth, Steven Pasquale, John Ortiz, Johnny Lewis, Ariel Gade, Kristen Hager, Robert Joy, Tom Woodruff Jr, Ian Whyte.

 

Será possível que, embora ainda estejamos no dia 11 de janeiro, eu já tenha assistido ao pior filme a ser lançado comercialmente no Brasil em 2008? Você pode achar que estou exagerando – e em alguns momentos irei expor os argumentos que justificarão minha opinião -, mas, para início de conversa, basta que você saiba que Paul W.S. Anderson, diretor do longa anterior e responsável por coisas como Mortal Kombat, O Enigma do Horizonte e O Soldado do Futuro, se recusou a comandar esta continuação por não aprovar o roteiro. Vou repetir: Paul W.S. Anderson, diretor do longa anterior e responsável por coisas como Mortal Kombat, O Enigma do Horizonte e O Soldado do Futuro, se recusou a comandar esta continuação por não aprovar o roteiro. É preciso dizer mais alguma coisa?

 

Ok, mas direi assim mesmo: preciso desabafar com alguém e você, caro(a) leitor(a), pagará o pato por esta terrível experiência cinematográfica que tive. Retomando a história a partir do desfecho do original, Aliens vs. Predador 2 tem início quando um Alien se liberta do corpo de um hospedeiro Predador e se vê à solta na nave do inimigo – que, provando ter um Q.I. de ameba, dispara uma de suas poderosas armas dentro do veículo, levando-o a despencar na Terra. Enquanto os Aliens passam a se reproduzir como coelhos nas vizinhanças de uma cidadezinha norte-americana, somos apresentados a vários residentes locais, entre eles a militar Kelly (Aylesworth), que acaba de chegar do Iraque; Dallas (Pasquale), recém-saído da prisão; e o irmão deste, Ricky (Lewis), que anda de paquera com a bela Jesse (Hager) – uma garota tão gente boa que sua primeira providência ao surgir em cena pela primeira vez é inclinar-se sem motivo aparente a fim de permitir que comprovemos sua invejável forma física.

 

Mas é claro que, como toda gostosa que adora sexo, ela não terá boas chances de sobreviver em um filme como este. Aliás, qualquer personagem com a menor fraqueza de caráter irá perecer sob a mandíbula dos Aliens ou as armas do Predador, o que não faz muita diferença, já que, apesar de provavelmente trazer o maior número de mortes em qualquer exemplar das duas séries, este longa não cria um único personagem interessante sequer – e o máximo de esforço que o roteiro de Shane Palerma Salerno faz para desenvolver a protagonista é criar um distanciamento entre esta e a filha, que se tornou mais próxima do pai enquanto a mãe se encontrava lutando no Iraque. Ou talvez a menina simplesmente tenha chegado à conclusão de que a mãe não batia muito bem, já que, para agradar a filha, Kelly presenteia a criança com... óculos infra-vermelhos! (“Uau, que bacana, mãe! Eles vão combinar direitinho com minha Sargento Barbie!”)

 

De todo modo, é uma pena que os irmãos Strause, técnicos de efeitos visuais que aqui estréiam na direção, não tenham presenteado os espectadores com óculos como aqueles, pois só assim conseguiríamos distinguir o que se passa na tela, já que a dupla parece acreditar que a escuridão quase absoluta, que não nos permite compreender o que está acontecendo, é a melhor maneira de criar suspense. Aliás, talvez seja em função da escuridão que uma habitante da cidadezinha distribui panfletos com as fotos do marido e do filho desaparecidos, já que, apesar de todos se conhecerem ali, a falta de iluminação provavelmente nunca permitiu que os vizinhos realmente se tornassem familiarizados com os rostos uns dos outros. Ou talvez ela aja desta maneira simplesmente porque todos em Aliens vs. Predador 2 são irremediavelmente estúpidos: basta dizer que, em certo instante, um coronel da Guarda Nacional, ao perder contato com seus comandados depois de ouvir gritos e tiros, coloca a cabeça para fora de seu veículo blindado sem pensar duas vezes no que está fazendo – e não creio que suas faculdades mentais tenham sido muito prejudicadas por sua decapitação quase imediata. Mas se você acha que apenas os terráqueos são idiotas, uma boa notícia: depois de derreter os corpos das vítimas dos Aliens para não deixar quaisquer vestígios do que está ocorrendo ali, o Predador não hesita em esfolar um policial e deixá-lo pendurado no alto de uma árvore. Talvez ele tenha julgado que esta era uma prática comum em nosso planeta.

 

Claramente incapaz de criar uma trama minimamente coerente, Salerno tampouco consegue escrever diálogos que não sejam óbvios ou estúpidos, incluindo desde frases-clichê (“Nós não vamos sobreviver, não é mesmo?” e “God help us all!”) até piadinhas imbecis e sem graça sobre terroristas ou que se julgam terrivelmente espertas e politicamente relevantes (“O Governo não mente para as pessoas!”). Mas o auge da cretinice de Salerno acontece na cena em que o grupo de sobreviventes decide se dividir, já que alguns acreditam que a salvação reside num helicóptero pousado no alto do hospital local enquanto os demais julgam que seguir as instruções dos militares e aguardar o resgate no centro da cidade é a melhor solução. Depois de debater com o heróico Dallas sobre a saída ideal, o xerife Morales (Ortiz) dispara: “Espero que ambos estejamos errados!” – o que, naquele contexto, significa que ele deseja que todos morram dolorosamente. Não sei se o mais incrível é que Salerno tenha escrito esta fala ou que ela tenha sido mantida até a versão final depois de ser ouvida pelos diretores, pelos atores e pelo montador sem que ninguém tenha levantado qualquer objeção à sua absoluta falta de sentido.

 

Mas eu talvez esteja querendo demais; afinal, os tais irmãos Strause parecem desconhecer até mesmo os mais básicos conceitos de direção, já que, para alongarem o tempo de projeção, chegam a incluir nada menos do que três longos travellings idênticos que percorrem o ambiente até revelarem a figura do Predador mexendo em seu equipamento (e, ainda assim, o filme não passa dos 86 minutos de duração, o que é uma benção). Para piorar, eles parecem seguir a escola Eli Roth de perversão e sadismo, já que não hesitam em encenar mortes de crianças, de mulheres prestes a darem à luz e até mesmo em insinuar o massacre de uma dúzia de recém-nascidos. Mas a falta de caráter não é exclusiva dos diretores: basta dizer que, minutos depois de testemunhar o marido sendo massacrado por uma criatura alienígena, Kelly não hesita em aceitar o flerte de Dallas (cujo nome, aliás, deve ter trazido imensa satisfação aos realizadores, que certamente se julgaram muito inteligentes por incluírem uma referência (óbvia) ao personagem de Tom Skerritt em Alien, o Oitavo Passageiro).

 

Encerrando sua narrativa seu troço com uma abertura para mais uma continuação, Aliens vs. Predador 2 me fez perceber que, de repente, estar no meio de uma guerra entre duas criaturas mortais pode não ser um destino tão horrível como eu imaginava. Ao menos, eu estaria livre de acompanhar esta série.

 

11 de Janeiro de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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