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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
31/03/2006 03/02/2006 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
87 minuto(s)

Quando um Estranho Chama
When a Stranger Calls

Dirigido por Simon West. Com: Camilla Belle, Tommy Flanagan, Katie Cassidy, Tessa Thompson, Derek de Lint, Kate Jennings Grant, Clark Gregg, Brian Geraghty, Rosine ‘Ace’ Hatem, Arthur Young, Madeline Carroll e a voz de Lance Henriksen.

 

Em 1979, o cineasta Fred Walton (que mais tarde dirigiria o interessante A Noite das Brincadeiras Mortais) comandou o bom terror Mensageiro da Morte, que trazia Carol Kane como uma jovem babá que, durante uma noite de trabalho, passa a receber várias ligações anônimas de um sujeito que insiste em perguntar se ela já verificou se as crianças estão bem. Assustada, ela liga para a polícia e recebe a apavorante informação de que as chamadas estão sendo feitas de dentro da casa em que ela se encontra. Tudo isto acontece ainda na primeira meia hora de projeção e é francamente inspirado numa popular lenda urbana norte-americana (como descreve o site Snopes, especializado no assunto). Infelizmente, o filme agora ganha uma nova versão que, por incrível que pareça, não percebe que a situação descrita acima é insuficiente para gerar um longa de 90 minutos de duração – e, conseqüentemente, o resultado deixa muito a desejar com relação ao esforço de 27 anos atrás.

           

Com o objetivo claro de tentar esticar a história, a primeira medida adotada pelo roteiro escrito pelo estreante Jake Wade Wall é criar uma fraca introdução durante a qual descobrimos que a protagonista, a babá Jill Johnson (Belle), está sendo punida por seus pais depois de exceder o limite de gastos de seu telefone celular: sem poder usar o telefone e o carro, ela é proibida de ir a uma festa de seu colégio e obrigada a tomar conta dos filhos do casal Mandrakis (“Mandrakis”. Hehehe.) a fim de poder ajudar a pagar a conta do celular. Brigada com o namorado (que, é claro, se chama “Bobby”) depois de flagrá-lo beijando sua melhor amiga, Jill logo começa a receber as tais chamadas anônimas e, a partir daí... bom... nada acontece.

           

Como não poderia deixar de ser, a casa dos Mandrakis (hehehe) é mais uma daquelas construções tão amadas pelo gênero terror: localizada “no meio do nada” (como um dos personagens se encarrega de esclarecer, provavelmente temendo que o espectador seja incapaz de perceber sozinho), a mansão situa-se entre um bosque e um lago, tem paredes de vidro e inclui um acessório inevitável: um gato preto que se encarregará de saltar sobre a mocinha duas ou três vezes ao longo do filme para provocar sustos falsos na platéia (se eu fosse o protagonista de uma produção destas, a primeira coisa que faria seria estrangular o gato). E se você imaginou uma leve neblina envolvendo a casa, parabéns: já conhece as regras e pode roteirizar seu próprio longa de terror.

           

Ou talvez não. Afinal, Wade Wall, apesar de certamente conhecer tais convenções (que utiliza fartamente, sem o menor pudor), parece acreditar que trazer uma garota bonita falando ao telefone é algo suficientemente assustador, pois é basicamente isto que acontece ao longo de todo o filme. A dinâmica é clara: o telefone toca, é atendido por Jill e duas opções se apresentam: 1) a voz do outro lado ameaça a mocinha; ou 2) descobrimos que a ligação é mais um susto falso, sendo feita por alguém inofensivo (a amiga, o namorado, a sra. Mandrakis (hehehe), um trote adolescente, etc). Em seguida, Jill ouve um barulho e caminha lentamente em direção à origem do som, enquanto a trilha sonora entrega-se a um crescendo padrão. Susto falso (era o gato ou a empregada latina ou um cubo de gelo derretendo ou um sapo africano voador com sete patas ou...). O telefone toca. Das duas, uma: o vilão ou alguém inofensivo. Mais um barulho. Jill caminha lentamente. O gato. A babá. O gelo. O sapo. O Tiririca. Repetir o procedimento ad infinitum. Uma seqüência de pesadelo (claro). Sustos falsos. Fim. Aguardar a continuação, Quando Dois ou Mais Estranhos Chamam.

           

Para provar para o público que o assunto é sério, no entanto, o roteiro trata de acrescentar alguns personagens descartáveis cujas mortes nos farão temer pelo destino da mocinha. Não vou dizer que personagens são esses, mas (mudando de assunto) a heroína tem uma amiga que adora beber e transar (“Eu sou uma vadia!”, ela explica, provavelmente temendo que o espectador seja incapaz de perceber sozinho), além de possuir um carro que, apesar de novo em folha, demora a ligar quando ela está sendo perseguida. Há, também, uma empregada latino-americana chamada Rosa – e, com este nome, esta profissão e esta origem, é um milagre que ela sobreviva aos dez primeiros minutos de filme.

           

Mas o roteiro também tem discrepâncias interessantes: quando o telefone da casa dos Mandrakis (hehehe) toca, por exemplo, o nome da amiga de Jill surge no identificador de chamadas – o que é curioso, já que a moça sequer sabia o endereço dos patrões da heroína (assim, por que eles teriam o número do celular da garota registrado na memória do aparelho?). Já em outro momento, quando a sra. Mandrakis (hehehe) liga para saber se está tudo bem, Jill – a pior babá da história da humanidade – pergunta se quer que ela dê uma olhada para ver se as crianças estão bem (algo que ela só faz depois de uma hora de projeção!) e recebe uma negativa como resposta. Pergunta: que mãe faria isso? “Não, não precisa olhar meus filhos. Eles estão dormindo desde 5 horas da tarde, estão gripados, sozinhos com uma estranha, o alarme de casa disparou, estou longe de casa, mas tudo bem. Estou certa de que eles estão bem.” Hum-hum. Bastante plausível. Ela não deveria se chamar Mandrakis (hehehe), mas Joan Crawford. Aliás, que raio de nome é esse, “Mandrakis”? Sim, também existia no original, mas todos sabemos que os anos 70 não representaram um dos momentos mais brilhantes da humanidade em termos de bom gosto (se você gosta de costeletas compridas e calça boca-de-sino, peço perdão). Seja como for, passei todo o filme esperando o surgimento de alguém chamado Lotharis, algo que, lamentavelmente, não se concretizou.

           

Felizmente, Quando um Estranho Chama conta com um grande atrativo: a atriz Camilla Belle (filha de uma brasileira, por sinal). Apesar de sua personagem não ser das mais inteligentes (depois que um policial a informa de que está segura dentro de casa, ela imediatamente abre a porta e vai correr pelo bosque), a moça é belíssima e, por mais que isso me faça parecer um velhinho pervertido, confesso que foi agradável ficar olhando para a garota enquanto esta caminhava pela casa – e o diretor Simon West (do clássico Lara Croft: Tomb Raider) não hesita em incluir uma cena na qual Belle surge chupando sugestivamente um picolé. Aliás, não sei como ele resistiu à tentação de adicionar também um beijo lésbico em algum instante da trama. (Ele devia estar muito ocupado controlando aquele que, julgo, é seu método particular de criar seqüências tensas: intercalar planos conjuntos com outros imediatamente em primeiro plano – um padrão que ele repete ao longo de toda a produção.)

           

Quando um Estranho Chama é um filme de terror que não tem sangue, nudez ou violência. Aliás, nem suspense tem. Por sorte, conta com uma protagonista muito linda – e acho que dei sorte, já que faço parte de uma comunidade do Orkut chamada “Amo Branquinha de Cabelo Preto”. Mas se você participa de alguma no estilo “Amo somente louras”, “Mulatas para sempre” ou “Só as ruivas me encantam”, lamento dizer que talvez este longa não seja para você.
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31 de Março de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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