Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/05/2005 | 01/04/2005 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
118 minuto(s) |
Dirigido por Mike Binder. Com: Joan Allen, Kevin Costner, Evan Rachel Wood, Erika Christensen, Keri Russell, Alicia Witt, Mike Binder, Tom Harper.
Quando A Outra Face da Raiva tem início, encontramos três de seus personagens principais a caminho de um enterro: o ex-jogador de baseball Denny Davies (Costner; a jovem Popeye (Wood), que funcionará como narradora do filme; e a mãe desta última, a amargurada Terry Wolfmeyer (Allen), que, depois de ser abandonada pelo marido, entregou-se à bebida, à depressão e ao rancor, conturbando seu relacionamento com as quatro filhas.
Escrito pelo diretor Mike Binder especialmente como um veículo para o talento de Joan Allen, o roteiro tem o propósito principal de estabelecer o tumulto emocional pelo qual a protagonista está passando, o que é um objetivo nobre: são raras as produções hollywoodianas que se dedicam a estudar o universo feminino com seriedade – e, quando o fazem, concentram-se em mulheres jovens que enfrentam dúvidas sobre seus relacionamentos e sonhos, ignorando histórias que envolvam personagens acima dos 40 anos. É uma pena, portanto, que o próprio Binder comprometa seus esforços ao julgar necessário incluir uma série de subtramas envolvendo... os relacionamentos e sonhos das quatro jovens filhas de Terry: enquanto uma engravida do namorado, outra se encanta por um homem bem mais velho (vivido pelo cineasta-roteirista, diga-se de passagem), a terceira se apaixona por um garoto introspectivo e a última se preocupa com a carreira de bailarina. O resultado inevitável é a diluição dos problemas de Terry em meio aos dilemas de suas filhas.
Decepcionante, também, é testemunhar o suspense bobo que o filme tenta fazer com relação à identidade da pessoa que está sendo enterrada no início da projeção – algo que só é revelado no terceiro ato e, honestamente, representa mais uma decepção do que um clímax dramático minimamente satisfatório. Por que, em vez de se dedicar a joguinhos infantis, Binder não reduziu o número de personagens e concentrou-se com mais cuidado em sua complexa heroína? Era realmente necessária a existência de quatro filhas? Aliás, até mesmo a cronologia dos fatos torna-se obscura ao longo da narrativa: ao mesmo tempo em que uma das filhas tem tempo o bastante para conseguir um emprego e ser promovida, outra se dedica à aparentemente interminável produção de um vídeo para a escola.
Por sorte, A Outra Face da Raiva conta com um trunfo importante: a excelente química entre Joan Allen e Kevin Costner, cujos personagens são interessantes o bastante para manter a atenção do espectador. Ainda assim, é inevitável perceber que o relacionamento do casal é analisado de forma superficial pelo roteiro: é apenas natural concluir, por exemplo, que a atração inicial de Denny por Terry surge como conseqüência da fragilidade emocional desta última; alcoólatra e imaturo, o ex-atleta obviamente enxerga na mulher uma companheira ideal para seu cotidiano de bebidas e depressão. No entanto, além de jamais reconhecer este fato, o filme ainda comete o grave pecado de fazer pouco do vício dos personagens: para Binder, o alcoolismo é uma mera muleta narrativa, sendo descartada assim que deixa de ter utilidade para a trama. Assim, depois de meses de bebedeira, o casal abandona o hábito sem maiores problemas, como se aquela fosse uma decisão tão corriqueira quanto trocar de roupa.
Aliás, o único fator que impede que Terry se converta em um simples fantoche do roteiro, mudando de atitude de acordo com as necessidades imediatas da história, é a atuação envolvente de Joan Allen; uma atriz menos talentosa certamente se perderia na má construção da personagem, afundando o projeto. Allen consegue torná-la convincente, como se a inconstância fosse a característica principal da protagonista (mesmo assim, quando Popeye explica que sua mãe costumava ser uma mulher alegre e divertida, confesso que não consegui acreditar).
A maior ironia de A Outra Face da Raiva, no entanto, é constatar que, apesar de se propor a mergulhar no universo feminino, a figura mais carismática do filme é o ex-jogador vivido por Kevin Costner. Simpático e sempre relaxado, Denny é um sujeito inconseqüente e imaturo, é verdade, mas é também o único personagem a atravessar um arco dramático reconhecível, crescendo inegavelmente ao longo da projeção. Aliás, Costner (um ator que admiro) parece estar encontrando um novo rumo para sua carreira agora que finalmente compreendeu que seus tempos de galã ficaram para trás, o que é admirável.
Percebo que dei a impressão de ter detestado o filme, o que não é verdade: A Outra Face da Raiva é um longa simpático que merece aplausos principalmente pela sintonia da dupla principal. Mas, considerando-se o potencial desperdiçado, é impossível deixar de sentir-se frustrado com o resultado final.
08 de Maio de 2005
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