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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/09/2006 21/07/2006 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
95 minuto(s)

Direção

Ivan Reitman

Elenco

Luke Wilson , Uma Thurman , Anna Faris , Eddie Izzard , Rainn Wilson , Wanda Sykes

Roteiro

Don Payne

Produção

Bill Carraro

Fotografia

Don Burgess

Música

Teddy Castellucci

Montagem

Wendy Greene Bricmont , Sheldon Kahn

Design de Produção

Jane Musky

Figurino

Laura Jean Shannon

Direção de Arte

Patricia Woodbridge

Minha Super Ex-Namorada
My Super Ex-Girlfriend

Dirigido por Ivan Reitman. Com: Luke Wilson, Uma Thurman, Anna Faris, Eddie Izzard, Rainn Wilson, Wanda Sykes.

 

Ao longo dos 95 minutos de Minha Super Ex-Namorada, eu quase ri várias vezes. A idéia que movia a história era curiosa; os atores, simpáticos e os personagens, interessantes. No entanto, embora o filme seja agradável, o fato é que eu quase ri – e isto é fatal em uma comédia. O mais lamentável é que há, ali, a essência para um longa realmente divertido, mas que acaba sendo desperdiçada pela preguiça do roteirista Don Payne em aperfeiçoar suas idéias, já que o filme certamente se beneficiaria caso passasse por mais dois ou três tratamentos para refinar as piadas e criar situações que explorassem melhor a premissa.

           

Interpretado por Luke Wilson, Matt é um arquiteto cujos relacionamentos costumam acabar de forma traumática, já que, aparentemente, ele tem propensão a atrair mulheres neuróticas e carentes. Assim, é com certa hesitação que ele se aproxima de Jenny Johnson (Thurman) depois de vê-la no metrô, convidando-a para sair. Logo, os dois estão na cama e tudo parece correr bem até que o sujeito é seqüestrado pelo maligno professor Bedlam (Izzard), um supervilão disposto a tudo para eliminar a poderosa Garota-G, heroína que protege a cidade – e  cuja identidade secreta é (adivinhem?) justamente a da tímida Jenny. Porém, depois da excitação inicial de descobrir com quem está transando na verdade, Matt constata que está apaixonado por Hannah (Faris), com quem trabalha em uma grande empresa. Mas romper o namoro com uma mulher neurótica, carente e superpoderosa é algo mais difícil do que ele poderia imaginar.

           

Sem confiar na capacidade do espectador em perceber suas referências engraçadinhas, o roteiro de Don Payne faz sempre questão de explicar suas piadinhas, o que é irritante: assim, logo alguém aponta a aliteração no nome de Jenny Johnson (um diálogo absolutamente artificial) e, em outro momento, o “G” da heroína é escancarado como uma referência à sua força sexual (“ponto G”, entenderam? Hein? Hein? Hein?). Pena que Payne (vejam! Outra aliteração!) não emprega esforços semelhantes para desenvolver suas gags: quando Matt e sua namorada poderosa arrebentam uma parede durante a transa e invadem o apartamento ao lado, o roteirista poderia criar inúmeras tiradas divertidas, mas o máximo que consegue é levar o vizinho a perguntar “O que vocês estão fazendo?” – o que não é uma conclusão (ou punch line) das mais inspiradas para a piada.

 

Mas não é só: de que adianta incluir uma cena como a do tubarão se o filme não permite que o espectador veja aquela que certamente seria a parte mais engraçada da gag: a reação dos motoristas e pedestres a um bicho como aqueles aparentemente caindo do céu? Para completar, o segundo ato da história, que deveria explorar a guerra de nervos entre a Garota-G e Matt, passa voando – e a rapidez dos acontecimentos impede que acompanhemos a decadência experimentada pelo protagonista (no único instante em que o filme realmente se detém para explorar melhor uma cena, o resultado é hilário, como é possível perceber na cena que se passa em um bar e envolve a relutância da heroína em deixar o namorado sozinho com a rival, mesmo que isto comprometa a segurança de milhões de pessoas).

 

Com sua atitude despachada e tranqüila (que divide com o irmão Owen), Luke Wilson transforma Matt em um sujeito comum e simpático que, apesar de íntegro, não resiste à tentação de se entregar a um orgulho machista por estar transando com uma mulher como a Garota-G – e seus impulsos chauvinistas são ainda mais incentivados por seu amigo Vaughn (Rainn Wilson), responsável por algumas das melhores falas do filme. Enquanto isso, Eddie Izzard parece ter decidido interpretar o vilão como se estivesse encarnando Christopher Walken, já que seus trejeitos e pausas remetem diretamente ao estilo característico de atuação deste (e, de fato, Bedlam é um personagem que ficaria perfeitamente à vontade entre os tipos vividos por Walken) – e esta é a escolha mais acertada para uma criatura tão absurda quanto o “professor”.

 

O elenco feminino, por sua vez, se mostra igualmente eficiente, com exceção da geralmente insuportável Wanda Sykes, que, com sua voz esganiçada e tipo vulgar, assume um papel completamente dispensável, servindo apenas para alongar o tempo de projeção. Conferindo complexidade à Jenny/Garota-G, Uma Thurman é hábil ao retratar os aspectos negativos de sua personagem sem, com isso, torná-la detestável: apesar de sua falta de bom senso e de seu lado Glenn Close (em Atração Fatal, claro), Jenny desperta nossa simpatia e, até certo ponto, nossa torcida – isto é, até ser comparada à encantadora Hannah, que, vivida por Anna Faris, rouba a cena da Garota-G sem grandes esforços.

 

Em última análise, Minha Super Ex-Namorada nada mais é do que uma grande fantasia masculina: a de que, por mais poderosa e independente que uma mulher seja, ela sempre se derreterá e se tornará vulnerável nas mãos de um homem. Matt nada tem de especial, de particularmente interessante – e, ainda assim, duas espetaculares representantes do sexo feminino não hesitam em se rebaixar por ele, chegando mesmo ao embate corporal (ah, “briga de mulheres”... outro fetiche machista). E se elas usam roupas mínimas e provocantes, tanto melhor, não é mesmo? Ou, ao menos, é o que claramente pensa o diretor Ivan Reitman.

 

Aliás, sem conseguir realizar um bom filme do gênero há 13 anos (Junior é engraçadinho, mas Dave – Presidente por um Dia e Os Caça-Fantasmas continuam a representar o auge da carreira do cineasta), Reitman – prejudicado pelo fraco roteiro - transforma Minha Super Ex-Namorada em uma comédia simpática, mas nada mais, o que é um triste desperdício.

 

Observação: Há uma cena adicional durante os créditos finais.
``

 

31 de Agosto de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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