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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
28/07/2006 10/03/2006 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
107 minuto(s)

Viagem Maldita
The Hills Have Eyes

Dirigido por Alexandre Aja. Com: Ted Levine, Kathleen Quinlan, Aaron Stanford, Emilie de Ravin, Vinessa Shaw, Dan Byrd, Robert Joy, Laura Ortiz, Tom Bower, Michael Bailey Smith, Ezra Buzzington, Billy Drago.

Assistir a Viagem Maldita, refilmagem de Quadrilha de Sádicos (que Wes Craven dirigiu em 1977), é um exercício frustrante: em vários momentos, surpreendi-me com a intensidade do longa e com sua capacidade de construir com eficiência um bom clima de tensão; em outros, no entanto, desejei poder segurar o diretor Alexandre Aja pelos ombros e gritar “Por quê??? Por quê???”. Normalmente, um filme ofende ou reconhece a inteligência do espectador de forma consistente em toda sua duração; aqui, porém, está um exemplo de produção que oscila assustadoramente entre o estúpido e o quase brilhante de cena para cena.


Na coluna dos itens estúpidos, encontra-se a história, que, como em tantos exemplares “B” do gênero, gira em torno de um bando de mutantes deformados que, é claro, adoram carne humana – e, embora sejam capazes de falar quando isto se revela necessário (para revelar pontos da trama, por exemplo), na maior parte do tempo eles preferem rosnar ameaçadoramente. E, como sempre, a gula dos vilões é atiçada pela presença de um grupo de turistas que, guiados pelas informações mal-intencionadas de um estranho frentista de um posto de gasolina decadente no meio do nada, vão parar na armadilha montada pelos canibais. Eventualmente, como não poderia deixar de ser, uma das vítimas descobre um cemitério de carros pertencentes a todos aqueles que já foram devorados pelos monstros – uma cena que, com maior ou menor sucesso, já apareceu em filmes como Pânico na Floresta e População 436, para citar apenas dois exemplos recentes.

Demonstrando uma fraqueza ocasional pelas piores convenções narrativas do gênero, o francês Alexandre Aja não hesita em atirar, ao longo da projeção, clichês como o da mocinha que se assusta com o cachorro ou do vulto que cruza a tela em primeiro plano acompanhado por um alto efeito sonoro. Da mesma forma, há instantes nos quais ele (e o montador Baxter) cede ao histerismo dos cortes rápidos e intercalados com flashes irritantes, como na cena em que determinado personagem descobre uma série de recortes de jornais grudados em uma parede. Por outro lado, em outros instantes, a montagem torna-se infinitamente mais contemplativa, utilizando o tempo com cuidado para estabelecer, em inteligentes planos gerais, o isolamento que cerca os protagonistas, expondo-os ao ataque dos vilões – algo que se torna ainda mais sufocante graças à fotografia de Maxime Alexandre, que explora as locações com o objetivo de ressaltar o clima seco, quente e poeirento do ambiente. 

Enquanto isso, o roteiro de Grégory Levasseur e do próprio Alexandre Aja se preocupa em estabelecer uma boa dinâmica entre os membros da família Carter, tornando-os mais reais para o espectador através de suas conversas, brincadeiras e também de seus conflitos e desentendimentos. Com isso, quando as mortes começam a tomar conta da história, aquelas pessoas já deixaram de ser vítimas sem rosto e se transformaram em pessoas com as quais nos importamos (mesmo que em maior ou menor grau) – algo que, somado à brutalidade e à violência com que os ataques ocorrem, leva o público a sentir o impacto dos crimes (e num elenco homogeneamente competente, confesso que fiquei particularmente impressionado com Aaron Stanford, que surge completamente diferente e parecendo vários anos mais velho do que Pyro, seu personagem na série X-Men).

Outra boa surpresa é perceber que, ao contrário do que ocorre na maior parte dos filmes do gênero, aqui as vítimas não se limitam à passividade, como se simplesmente esperassem sua vez de morrer: depois do primeiro (e inesperado) ataque, os membros restantes da família Carter se organizam para uma revanche – e é realmente uma pena que, a partir daí, se revelem tão estúpidos. Para início de conversa, eles deixam de trocar várias informações importantíssimas, como o fato de um cachorro ter sido estripado e da estrada terminar em um misterioso cemitério de carros. E como eles podem permitir que determinado personagem parta em uma missão de resgate portando apenas um taco de baseball quando havia uma arma de fogo à sua disposição? (E por que ninguém permanece ao lado do rádio-comunicador, esperando notícias?) Na realidade, a única criatura que demonstra algum grau de inteligência é o cão de estimação da família – seus donos, em contrapartida, têm um Q.I. que não deveria sequer permitir que eles fossem capazes de respirar e andar ao mesmo tempo.

Para completar, Viagem Maldita revela uma ideologia perigosa e reprovável por trás de sua história simplória: inicialmente apresentado como um democrata e pacifista, o personagem de Stanford responde às suas experiências traumáticas transformando-se em um sujeito que parece brandir sua arma quase em êxtase – um sentimento reforçado pela trilha grandiosa e pelos ângulos baixos que Aja utiliza para retratar o rapaz em uma dimensão heróica (e é difícil evitar a ânsia de vômito com o patriotismo bélico contido na cena em que o herói mata um inimigo com – adivinhem! – uma bandeira dos Estados Unidos). Assim, Alexandre Aja certamente se tornou um raro exemplo de cidadão francês que os republicanos não hesitarão em elogiar.

Tropeços ideológicos à parte, Viagem Maldita é um filme tenso e gráfico que não desapontará os fãs do gênero.

29 de Julho de 2006

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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