Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/12/2006 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
110 minuto(s) |
Dirigido por Neil Burger. Com: Edward Norton, Paul Giamatti, Jessica Biel, Rufus Sewell, Eddie Marsan, Aaron Johnson, Eleanor Tomlinson.
Em mais uma destas coincidências tão freqüentes em Hollywood, 2006 deu origem a dois filmes que, ambientados mais ou menos no mesmo período (final do século 19 e início do 20), trazem mágicos cujos truques podem ou não envolver fenômenos sobrenaturais e que enfrentam problemas com a Lei. A diferença é que, enquanto O Grande Truque contava com uma trama complexa e inteligente, O Ilusionista sacrifica suas ambições em prol de um romancezinho bobo que converte a história em um água-com-açúcar previsível e decepcionante.
Escrito por Neil Burger (que também assume a direção) a partir de um ótimo conto de Steven Millhauser, o filme gira em torno de Eisenheim (Norton), que, quando jovem, se apaixona por Sophie (Biel), uma garota pertencente à alta classe, sendo correspondido pela moça, mas obrigado pela família desta a se afastar. Depois de vários anos longe de seu país, Eisenheim retorna como mágico famoso e é convidado a apresentar seu espetáculo para o príncipe Leopold (Sewell), herdeiro da coroa austríaca. Porém, ao descobrir que Leopold pretende se casar com Sophie, o mágico acaba se tornando inimigo do príncipe, mergulhando em um clima conspiratório que pode lhe custar a carreira e a vida, já que passa a ser vigiado de perto pelo inspetor de polícia Uhl (Giamatti), praticamente um serviçal de seu oponente.
Comandando O Ilusionista sem demonstrar um pingo de originalidade, Neil Burger sacrifica a maior parte das idéias presentes no conto original (uma história sobre a obsessão de um homem pela magia e pela perfeição profissional) com o objetivo de tornar o filme mais “acessível” ao público médio – o que, em outras palavras, significa criar uma trama romântica que passa a dominar os acontecimentos. Assim, o cineasta logo trata de incluir um flashback açucarado que, através do anacrônico recurso visual da íris que se abre para um tempo passado, atira o espectador no meio de cenas em tom sépia que retratam a origem do caso entre Sophie e Eisenheim. Determinado a acentuar ainda mais a felicidade dos pombinhos, Burger perde o senso do ridículo, chegando a cercar seus enquadramentos com uma moldura enevoada, de “sonhos”, que, além de deselegante, é extremamente piegas. Além disso, o diretor não deixa sequer de incluir uma óbvia câmera lenta no instante
E isto é lamentável, pois Norton cria um personagem infinitamente mais interessante do que o filme no qual se encontra: elegante, inteligente e misterioso, Eisenheim é um homem de personalidade forte que não demonstra temer o que quer que seja – e a narrativa se beneficiaria imensamente caso se concentrasse em investigar a verdadeira natureza de suas mágicas. Em vez disso, Burger opta por sacrificar qualquer verossimilhança ao criar os números do protagonista com a ajuda de efeitos visuais rebuscados, tornando-os artificiais e implausíveis (basta compará-los com aqueles vistos
Como todo roteirista acometido pela preguiça de criar soluções mais dinâmicas, Burger utiliza a locução em off sempre que precisa fornecer algum tipo de informação ao público – e a trama criada por ele para substituir aquela do conto original revela-se óbvia, implausível e mesmo ofensiva ao sugerir que o espectador poderia aceitá-la como algo inteligente (por incrível que pareça, o roteirista nem sequer se preocupa em explicar como o principal número de Eisenheim era realizado, o que é imperdoável e acaba por confirmar nossas suspeitas de que Burger realmente não fazia a menor idéia de como amarrar as pontas soltas da história). Para tentar enganar o público, o filme inclui um daqueles desfechos que, através de uma montagem rápida (chupada de Os Suspeitos, O Sexto Sentido, Clube da Luta e tantos outros), fingem montar o quebra-cabeça apresentado ao longo da projeção, culminando no sorriso de um personagem ao perceber o significado de tudo. Infelizmente, basta pensarmos dois segundos para concluirmos que nada faz muito sentido e que os furos são inúmeros e incontornáveis.
Depois de passarmos quase duas horas esperando por um sinal de inteligência que O Ilusionista se recusa a fornecer, somos atirados para fora do cinema com a sensação de termos visto um espetáculo apresentado por um mágico incompetente que, sem perceber que podíamos enxergar as cartas em sua manga e as orelhas do coelho saindo da cartola, sai de cena com a certeza absoluta de que enganou a todos.
Pena que ele não conheça o truque do desaparecimento, pois este é o único número que eu gostaria de vê-lo fazer.
07 de Dezembro de 2006
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