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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
08/12/2006 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
110 minuto(s)

Direção

Neil Burger

Elenco

Edward Norton , Paul Giamatti , Jessica Biel , Rufus Sewell , Eddie Marsan , Aaron Taylor-Johnson , Eleanor Tomlinson

Roteiro

Neil Burger

Produção

David Levien

Fotografia

Dick Pope

Música

Philip Glass

Montagem

Naomi Geraghty

Design de Produção

Ondrej Nekvasil

Figurino

Ngila Dickson

Direção de Arte

Vlasta Svoboda

O Ilusionista
The Illusionist

Dirigido por Neil Burger. Com: Edward Norton, Paul Giamatti, Jessica Biel, Rufus Sewell, Eddie Marsan, Aaron Johnson, Eleanor Tomlinson.

Em mais uma destas coincidências tão freqüentes em Hollywood, 2006 deu origem a dois filmes que, ambientados mais ou menos no mesmo período (final do século 19 e início do 20), trazem mágicos cujos truques podem ou não envolver fenômenos sobrenaturais e que enfrentam problemas com a Lei. A diferença é que, enquanto O Grande Truque contava com uma trama complexa e inteligente, O Ilusionista sacrifica suas ambições em prol de um romancezinho bobo que converte a história em um água-com-açúcar previsível e decepcionante.

Escrito por Neil Burger (que também assume a direção) a partir de um ótimo conto de Steven Millhauser, o filme gira em torno de Eisenheim (Norton), que, quando jovem, se apaixona por Sophie (Biel), uma garota pertencente à alta classe, sendo correspondido pela moça, mas obrigado pela família desta a se afastar. Depois de vários anos longe de seu país, Eisenheim retorna como mágico famoso e é convidado a apresentar seu espetáculo para o príncipe Leopold (Sewell), herdeiro da coroa austríaca. Porém, ao descobrir que Leopold pretende se casar com Sophie, o mágico acaba se tornando inimigo do príncipe, mergulhando em um clima conspiratório que pode lhe custar a carreira e a vida, já que passa a ser vigiado de perto pelo inspetor de polícia Uhl (Giamatti), praticamente um serviçal de seu oponente.

Comandando O Ilusionista sem demonstrar um pingo de originalidade, Neil Burger sacrifica a maior parte das idéias presentes no conto original (uma história sobre a obsessão de um homem pela magia e pela perfeição profissional) com o objetivo de tornar o filme mais “acessível” ao público médio – o que, em outras palavras, significa criar uma trama romântica que passa a dominar os acontecimentos. Assim, o cineasta logo trata de incluir um flashback açucarado que, através do anacrônico recurso visual da íris que se abre para um tempo passado, atira o espectador no meio de cenas em tom sépia que retratam a origem do caso entre Sophie e Eisenheim. Determinado a acentuar ainda mais a felicidade dos pombinhos, Burger perde o senso do ridículo, chegando a cercar seus enquadramentos com uma moldura enevoada, de “sonhos”, que, além de deselegante, é extremamente piegas. Além disso, o diretor não deixa sequer de incluir uma óbvia câmera lenta no instante em que Jessica Biel surge em cena – e é claro que, ao mostrar a separação do casal, ele não hesita em incluir um dos planos mais batidos do gênero: aquele que mostra as mãos dos dois amantes sendo separadas à força. Não satisfeito com tanta cafonice, o diretor-roteirista finalmente obriga o talentoso Edward Norton a proferir a frase “Eu vi muitos mistérios, mas o único que não solucionei foi por que meu coração não a esquecia”, o que acaba por representar um dos momentos mais constrangedores da carreira do ator.

E isto é lamentável, pois Norton cria um personagem infinitamente mais interessante do que o filme no qual se encontra: elegante, inteligente e misterioso, Eisenheim é um homem de personalidade forte que não demonstra temer o que quer que seja – e a narrativa se beneficiaria imensamente caso se concentrasse em investigar a verdadeira natureza de suas mágicas. Em vez disso, Burger opta por sacrificar qualquer verossimilhança ao criar os números do protagonista com a ajuda de efeitos visuais rebuscados, tornando-os artificiais e implausíveis (basta compará-los com aqueles vistos em O Grande Truque). Enquanto isso, Paul Giamatti oferece, pela segunda vez no mesmo ano, uma performance indigna de seu talento, já que se limita ao piloto automático ao encarnar Uhl como um sujeito de fala sussurrada e personalidade apagada. E se Rufus Sewell encarna o mesmo tipo antipático e perigoso que já viveu inúmeras vezes em sua carreira, Jessica Biel tampouco desafia nossa percepção sobre seu talento, surgindo como um enfeite atraente, mas pouco expressivo.

Como todo roteirista acometido pela preguiça de criar soluções mais dinâmicas, Burger utiliza a locução em off sempre que precisa fornecer algum tipo de informação ao público – e a trama criada por ele para substituir aquela do conto original revela-se óbvia, implausível e mesmo ofensiva ao sugerir que o espectador poderia aceitá-la como algo inteligente (por incrível que pareça, o roteirista nem sequer se preocupa em explicar como o principal número de Eisenheim era realizado, o que é imperdoável e acaba por confirmar nossas suspeitas de que Burger realmente não fazia a menor idéia de como amarrar as pontas soltas da história). Para tentar enganar o público, o filme inclui um daqueles desfechos que, através de uma montagem rápida (chupada de Os Suspeitos, O Sexto Sentido, Clube da Luta e tantos outros), fingem montar o quebra-cabeça apresentado ao longo da projeção, culminando no sorriso de um personagem ao perceber o significado de tudo. Infelizmente, basta pensarmos dois segundos para concluirmos que nada faz muito sentido e que os furos são inúmeros e incontornáveis.

Depois de passarmos quase duas horas esperando por um sinal de inteligência que O Ilusionista se recusa a fornecer, somos atirados para fora do cinema com a sensação de termos visto um espetáculo apresentado por um mágico incompetente que, sem perceber que podíamos enxergar as cartas em sua manga e as orelhas do coelho saindo da cartola, sai de cena com a certeza absoluta de que enganou a todos.

Pena que ele não conheça o truque do desaparecimento, pois este é o único número que eu gostaria de vê-lo fazer.

07 de Dezembro de 2006

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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