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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
14/04/2006 10/03/2006 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
97 minuto(s)

Armações do Amor
Failure to Launch

Dirigido por Tom Dey. Com: Matthew McConaughey, Sarah Jessica Parker, Zooey Deschanel, Justin Bartha, Bradley Cooper, Terry Bradshaw, Kathy Bates, Rob Corddry, Patton Oswalt, Stephen Tobolowsky.

 

Armações do Amor é um exercício de frustração: sempre que o filme parece prestes a engatar ou que nos surpreende com alguma cena mais inspirada, surge um diálogo, um incidente ou uma outra bobagem qualquer para nos lembrar de que não é muito prudente esperar uma boa surpresa de uma produção pertencente a um dos gêneros mais formulaicos de Hollywood: a comédia romântica. Se por um lado temos momentos bons como aquele em que Matthew McConaughey faz um discurso repleto de cinismo antes de um jantar para sua família, por outro temos idiotices irritantes como a cena em que uma conversa particular entre o casal principal é transmitida ao vivo para um telão e acompanhada por uma torcida delirante. Há um bom filme escondido aqui – pena que aparentemente ninguém teve paciência para fazer mais algumas revisões no roteiro a fim de eliminar todas as baboseiras que o boicotam.

           

Escrita por Tom J. Astle e Matt Ember, a história gira em torno de Tripp, um sujeito de 35 anos de idade que ainda vive com os pais, os abnegados Al (Bradshaw) e Sue (Bates). Acostumado às regalias proporcionadas por seu estilo de vida, ele jamais permite que seus relacionamentos amorosos durem muito tempo: sempre que percebe que um namoro está ficando sério, ele trata de levar a garota para sua casa, certo de que ela o abandonará assim que descobrir com quem ele mora – uma tática que parece infalível. O que Tripp não sabe é que seus pais querem desesperadamente que ele vá morar sozinho e, para isso, contratam Paula (Jessica Parker), uma especialista em convencer solteirões convictos a saírem de casa. Para isso, ela se envolve com Tripp e finge ser a namorada ideal, levando-o a se apaixonar e a desejar independência. O que vem a seguir é óbvio para qualquer pessoa que já assistiu a duas ou três produções do gênero (e não leia a frase a seguir caso não se encaixe nesta descrição): Paula se encantará por Tripp, este descobrirá a verdade sobre a garota, o casal se afastará, ela decidirá “ir embora da cidade” e, finalmente, os dois... bom, você já sabe.

           

Infelizmente, Armações do Amor já enfrenta um problema complicado logo de início: Tripp e Paula não formam um casal tão especial a ponto de levar o público a torcer loucamente para que fiquem juntos. Para começo de conversa, o rapaz parece estar absolutamente confortável com sua situação: feliz e bem sucedido profissionalmente, Tripp tem bons amigos com os quais está sempre praticando alguma atividade esportiva, denotando um óbvio equilíbrio emocional e psicológico – e McConaughey, como de costume, confere um carisma inegável ao personagem (embora seu hábito de surgir em cena sempre mastigando alguma coisa esteja se tornando uma muleta perigosa de interpretação). Por outro lado, Paula surge como uma mulher calculista cuja profissão se resume em provocar o sofrimento dos pobre-coitados que acreditam em suas farsas românticas. Além disso, depois de afirmar jamais transar com seus “clientes”, ela se entrega a Tripp assim que percebe que está prestes a “perdê-lo” – o que, tecnicamente, a transforma em uma prostituta de luxo (sexo por dinheiro). Aliás, o próprio filme parece assumir este fato ao mostrar o pai do protagonista justificando por que vai continuar a escutar a transa dos dois: “Estou pagando e olho o quanto quiser!”, numa tirada que o roteiro julga hilariante, mas que, na realidade, é profundamente doentia.

           

Povoado por uma galeria de figuras aborrecidas (Ace, um dos melhores de amigo de Tripp, é particularmente irritante em seus esforços para soar engraçadinho), Armações do Amor ainda traz Zooey Deschanel como confidente de Sarah Jessica Parker, resultando numa personagem que só existe para permitir que Paula explique seus sentimentos para o público (para piorar, Deschanel, apesar de linda, tem cacoetes irritantes como atriz, sendo o pior deles a dicção preguiçosa, sonolenta, com que sempre diz suas falas – algo que já comprometeu seu desempenho em outros projetos). E, enquanto Kathy Bates é mais uma vez desperdiçada em um papel que não faz jus aos seus talentos, o ex-jogador de futebol americano Terry Bradshaw só se destaca ao aparecer nu em cena.

           

O lamentável, como já dito, é que o roteiro tem boas idéias espalhadas pontualmente ao longo da história: quando Paula sugere que os pais de Tripp tornem a vida mais difícil para o rapaz, por exemplo, ficamos esperando as cenas nas quais ele finalmente será obrigado, contra a vontade, a assumir tarefas domésticas – mas isto nunca acontece, como se o filme simplesmente desistisse do conceito. Da mesma forma, somos levados a acreditar que a moça atende um cliente por vez (ela parece sempre disponível para Tripp e, nas horas vagas, permanece em casa com a amiga), mas, quando ela subitamente aparece com outro solteirão (uma boa ponta do sempre simpático Patton Oswalt), percebemos que trata-se apenas de mais uma jogada maniqueísta do roteiro para criar conflito. Finalmente, é incrível que o longa inclua um diálogo para explicar que o garotinho Jeffrey não é realmente sobrinho do personagem de McConaughey – e não digo isto apenas porque o menino é negro, mas porque Tripp é filho único. Ao que parece, os roteiristas julgam nossos Q.I.s a partir de seus próprios.

           

Apesar de todos os problemas do roteiro, no entanto, o principal responsável pelo fracasso de Armações do Amor é seu diretor, Tom Dey, que falha pela segunda vez consecutiva (depois de sua boa estréia no Cinema, com Bater ou Correr, ele comandou o irregular Showtime). Além de usar o cansativo e óbvio recurso de incluir músicas que comentam a ação, Dey comete erros básicos de marcação de cena e enquadramentos, como na cena em que Deschanel supostamente deveria surgir nua em sua sacada, mas durante a qual podemos ver perfeitamente a toalha que envolve seu corpo. Porém, o equívoco mais grotesco cometido pelo cineasta reside na decisão de incluir planos nos quais vemos as reações dos animais que, em vários pontos da projeção, mordem o protagonista: particularmente, creio que lagartos dando risadinhas são apropriados apenas para filmes infantis ou, no máximo, comédias nonsense como Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu!. Infelizmente, além deste deslize, Dey vai além e retrata um personagem fazendo respiração boca-a-boca... em um passarinho – algo que joga o espectador para fora da história.

           

Claramente influenciado pela ótima produção francesa Tanguy, de 2001, Armações do Amor falha até mesmo no campo ético, ao jamais reconhecer, em seus créditos, a origem de sua premissa. Pensando bem, é óbvio que queira ocultar sua fonte de inspiração; a comparação certamente lhe seria desfavorável.
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13 de Abril de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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