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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
18/11/2005 10/11/2005 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
111 minuto(s)

Direção

Dan Harris

Elenco

Sigourney Weaver , Jeff Daniels , Emile Hirsch , Michelle Williams , Kip Pardue , Deirdre O’Connell , Ryan Donowho

Roteiro

Dan Harris

Produção

Denise Shaw

Fotografia

Tim Orr

Música

Deborah Lurie

Montagem

James Lyons

Design de Produção

Rick Butler

Figurino

Michael Wilkinson

Direção de Arte

Mila Khalevich

Heróis Imaginários
Imaginary Heroes

Dirigido por Dan Harris. Com: Sigourney Weaver, Jeff Daniels, Emile Hirsch, Michelle Williams, Kip Pardue, Deirdre O’Connell, Ryan Donowho.

Confesso que tenho medo sempre que vou assistir a um filme `pessoal` realizado por algum cineasta independente norte-americano. Por quê? Simples: `pessoal`, para estes aspirantes a autores, geralmente significa contar uma história sobre jovens lidando com a transição para a vida adulta enquanto enfrentam problemas relativos ao `primeiro amor`, à `primeira transa`, às drogas, à perda de alguém próximo, e assim por diante. Quantos e quantos filmes já foram produzidos sobre estes temas – e, entre estes, quantos conseguiram acrescentar algo de relevante ou, no mínimo, propor uma discussão relativamente madura? Sim, vez por outra surge um Magnólia ou um Crash, mas, de modo geral, acabamos sendo bombardeados com idiotices como Prova de Amor, A Vida desta Garota, Vida que Segue ou... bem, Heróis Imaginários.

Escrito e dirigido por Dan Harris (um dos três roteiristas de X-Men 2), o filme conta mais uma daquelas histórias nas quais uma família aparentemente harmoniosa acaba desmoronando depois que um de seus integrantes morre tragicamente – neste caso, um suicídio. Enquanto Papai Travis entra num processo de negação, insistindo que o prato do filho morto continue a ser servido durante as refeições, Mamãe Travis (re)descobre a maconha (suspiros), a Filha-do-Meio Travis faz visitas cada vez mais raras ao lar e o Filho-Mais-Novo Travis sente-se abandonado e odiado por todos. Aliás, o foco da narrativa é justamente o caçula, um sujeito aborrecido interpretado pelo igualmente entediante Emile Hirsch (Show de Vizinha). Vivendo sempre à sombra do irmão mais velho, ele agora tem que lidar com a rejeição do Papai, as maluquices da Mamãe e com seus próprios `questionamentos` com relação ao `sentido da vida` ou algo do gênero.

O problema com este tipo de roteiro é que, para funcionar, seu autor deve ter algo realmente interessante a dizer – e, infelizmente, isto é raro entre os superficiais jovens norte-americanos, que parecem acreditar que referências pop são o bastante para lhes garantir uma aura de novo Tarantino ou Soderbergh. Assim, o que temos são diálogos tolos ditos por personagens que querem saber o que farão com `o resto de suas vidas`. Algumas sugestões que posso dar a eles (e aos tais cineastas): não leiam apenas livros que estejam entre os mais vendidos da semana (especialmente os de auto-ajuda, que devem ser ignorados totalmente), vejam outros filmes além dos blockbusters, ouçam outras músicas além daquelas cujas letras ensinam passos de dança, conversem com pessoas mais velhas e ouçam o que elas têm a dizer e, se possível, pensem muito antes de falar. Desta maneira, vocês, personagens das `produções-cabeça` norte-americanas, talvez se tornem realmente interessantes.

Este, no entanto, não é o caso de Dan Harris e de suas criações, que habitam um universo repleto de incidentes absolutamente artificiais (como a rixa entre Sandy, vivida por Sigourney Weaver, e sua vizinha) e de clichês risíveis – basta dizer que o protagonista, apesar de ter freqüentado aulas de piano por vários anos, se recusa a tocar o instrumento, embora fique paralisado sempre que vê um teclado nas proximidades. Quais são as probabilidades de que o fim de seus conflitos interiores seja ilustrado para o espectador através de seu retorno ao banquinho do piano? Em Heróis Imaginários, tudo é tão falso, tão infantil e tão bobo que a única forma que o cineasta encontra de retratar o distanciamento emocional entre Papai e Filho-Mais-Novo é através da velha cena em que o primeiro oferece dinheiro para o segundo em vez de um abraço ou de alguma outra demonstração de afeto.

Mas a coisa fica realmente feia quando o filme descamba para o nível da novela mexicana e `insinua` (com isso, quero dizer `praticamente escreve uma explicação na tela`) que algo pode não estar bem com Sandy ao mostrá-la tossindo constantemente entre um cigarro e outro - porém, mesmo neste aspecto o roteiro se acovarda, criando uma saída ridícula para o draminha que apresenta. E o que posso dizer sobre a festa de Natal que conta com um travesti cantando para os convidados? Por que um travesti, eu pergunto? Porque, para um cineasta independente metido a moderninho, esta é uma forma fácil de ilustrar sua `criatividade`. Ora, não há problema algum em trazer um travesti animando uma festa de Natal; o equívoco é tentar levar o espectador a acreditar que este seria convidado para participar de um evento organizado por uma família suburbana e visivelmente tradicionalista como aquela.

É lamentável que o roteiro de Heróis Imaginários seja tão rasteiro, já que os veteranos Jeff Daniels e Sigourney Weaver fazem o que podem para conferir verossimilhança aos seus personagens – e, de certo modo, conseguem, permitindo que o filme seja ao menos `assistível`. (Ainda assim, é doloroso ver um ator talentoso como Daniels ser obrigado a usar o velho recurso do `homem-com-a-barba-por-fazer x homem-bem-barbeado` para deixar claro o estado emocional de seu personagem.)

Em certo momento da projeção, a Filha-do-Meio pergunta para o Filho-Mais-Novo se `o coração humano existe` – e o garoto responde: `Se você ouvir com cuidado, vai ouvi-lo se partindo`. Naquele instante, desejei ardentemente que toda a Família Travis se matasse até o fim do filme. Aliás, continuo a desejar.
``

21 de Novembro de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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