Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
16/09/2005 | 12/08/2005 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
109 minuto(s) |
Dirigido por John Singleton. Com: Mark Wahlberg, André Benjamin, Tyrese Gibson, Garrett Hedlund, Terrence Howard, Josh Charles, Sofia Vergara, Chiwetel Ejiofor, Jernard Burks, Barry Shabaka Henley, Fionnula Flanagan.
Durante boa parte de Quatro Irmãos, julguei que a história se passava na década de 70 – e foi somente quando um laptop e uma câmera digital surgiram em cena que percebi meu erro. Porém, estou certo de que minha confusão não foi acidental; o cineasta John Singleton obviamente se esforçou bastante para conferir ao seu filme um forte tom daquele período: além da trilha sonora e da direção repleta de zooms e outros `tiques` da época, o longa conta com um design de produção saído diretamente dos anos 70, o que pode ser constatado nos figurinos, na maquiagem (observem os personagens com grandes costeletas e bigodes) e até mesmo nos carros vistos ao longo da projeção.
E temos, também, o tema do filme, que remete às histórias de vingança tão comuns no Cinema da época – principalmente no que diz respeito à maneira sem concessões com que os personagens lidam com sua raiva; aqui, não há lugar para a piedade e o politicamente correto. Abalados e revoltados com o assassinato de sua mãe adotiva, os quatro irmãos do título não confiam na eficiência da polícia e decidem punir os matadores por conta própria – e estão prontos para fazê-lo, já que, sem exceção, foram delinqüentes juvenis que não melhoraram totalmente depois de adultos. Neste sentido, o roteiro escrito por David Elliot e Paul Lovett acerta em cheio, já que, aos poucos, permite que o espectador perceba que os protagonistas (anti-heróis por definição) são tão perigosos e cruéis quanto os criminosos que perseguem (ao entrar no velho edifício comprado por seu irmão, o personagem de Mark Wahlberg logo sugere – mesmo que em tom de brincadeira – que incendeiem o lugar e recolham o seguro).
Ainda assim, estes quatro homens aparentemente tão frios possuem uma forte ligação uns com os outros; ligação esta que não é apenas uma questão de conveniência, mas de amor verdadeiro, fraternal. Aliás, Singleton emprega um bom tempo durante o primeiro ato para ilustrar a relação entre os irmãos, limitando-se simplesmente a estabelecer a dinâmica daquela estranha família. É uma decisão corajosa, já que de certa forma interrompe o fluxo da narrativa, mas absolutamente correta: todo o investimento emocional do espectador naqueles personagens é construído justamente a partir daqueles momentos aparentemente insignificantes para a história.
Da mesma maneira, o roteiro supera as expectativas do gênero, revelando-se bem amarrado e infinitamente mais complexo do que parece a princípio (embora alguns detalhes das reviravoltas vistas no terceiro ato não façam muito sentido quando analisados em retrospecto, quando já saímos do cinema). Sem jamais se esquecer de seus personagens – mesmo os secundários -, os roteiristas encontram funções importantes para cada uma daquelas pessoas, o que torna a trama ainda mais coesa e satisfatória do ponto de vista estrutural. E o que é mais admirável: ninguém sofre uma daquelas `transformações` artificiais tão comuns nas produções hollywoodianas, tornando-se `bonzinho` da noite para o dia. Elliot e Lovett conhecem seus personagens e os respeitam, mesmo que estes não sejam cidadãos exemplares.
E não são mesmo: encolerizados com a morte da mãe, eles não demonstram qualquer piedade em sua trajetória rumo à vingança, chegando a executar alguns de seus inimigos mesmo depois que estes já foram desarmados e encontram-se indefesos. Vale dizer, a propósito, que eles não têm qualquer ilusão sobre o próprio caráter: quando Jeremiah, o únicos dos quatro que parece ter se regenerado, argumenta que a mãe `seria a primeira a perdoar os assassinos`, um dos irmãos responde imediatamente: `Nem todos podem ser santos`. Aliás, aí está outro mérito do roteiro: os diálogos são, em sua maioria, muito bem escritos. Gosto particularmente da forma com que o vilão Victor Sweet (vivido de forma genial pelo ótimo Chiwetel Ejiofor, de Coisas Belas e Sujas) explica sua raiva ao descobrir que seus subordinados contrariaram suas ordens para contratar matadores que morassem em outra cidade:
`Você não paga uma prostituta para transar com você, mas sim para ir embora depois. É por esta razão que contratamos matadores de fora da cidade: para que partam.`
Explorando com talento o potencial do roteiro, John Singleton comanda com segurança as seqüências de ação, merecendo destaque uma perseguição de carros que acontece durante uma tempestade de neve, à noite, e um tiroteio pesado entre `mocinhos` (sim, entre aspas) e bandidos no final do segundo ato – e, hoje em dia, fazer boas seqüências de perseguição e tiroteio é algo raro, já que já vimos praticamente tudo o que há para ser visto no gênero. Além disso, Singleton consegue ótimas atuações de todo o elenco, merecendo destaque Mark Wahlberg (um ator discreto, minimalista, por quem tenho imensa admiração), Tyrese Gibson (que foge do estereótipo do bruto grandalhão e cria um personagem que sabe pensar) e Terrence Howard (como o tenente Green, que vive bons momentos dramáticos ao longo da história). Por outro lado, o cineasta comete um grave equívoco ao acrescentar pequenos flashbacks engraçadinhos durante os créditos finais, fugindo completamente do tom adotado até então.
Considerando-se a eficácia deste ótimo filme de gênero, confesso que fiquei bastante curioso para assistir ao original, Os Filhos de Katie Elder, protagonizado por John Wayne e Dean Martin em 1965. Se a regra geral de que `o original é sempre melhor` se aplicar também a este caso, certamente devo ter deixado de ver um autêntico clássico – e preciso corrigir esta falha o mais rápido possível.
16 de Setembro de 2005
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