Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
18/02/2005 | 07/01/2005 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
101 minuto(s) |
Dirigido por Geoffrey Sax. Com: Michael Keaton, Deborah Kara Unger, Chandra West, Ian McNeice, Nicholas Elia, Mike Dopud, Connor Tracy.
Vozes do Além começa não apenas com uma citação de Thomas Edison, mas com uma definição de dicionário para o chamado `Fenômeno da Voz Eletrônica`, ou FVE, que diz respeito aos supostos sons e imagens de espíritos captados por aparelhos de rádio e televisão fora de sintonia. Assim, a primeira impressão é a de que o filme, escrito por Niall Johnson, irá abordar o assunto de forma séria, usando-o para contar uma história assustadora. Infelizmente, esta impressão se desfaz antes da metade da projeção, quando o longa vira uma verdadeira bagunça e se transforma numa versão fantasmagórica da extinta série de tevê Early Edition, que girava em torno de um sujeito que recebia, todas as manhãs, o jornal que seria publicado no dia seguinte (o que lhe dava a oportunidade de salvar aquelas pessoas cujas mortes haviam sido noticiadas ali).
Dirigido pelo britânico Geoffrey Sax, que estréia no Cinema depois de passar vários anos comandando produções para a tevê, Vozes do Além traz Michael Keaton como o arquiteto Jonathan Rivers, cuja esposa, Anna (West), desaparece misteriosamente. Ainda esperançoso em revê-la com vida, ele recebe a visita de Raymond Price (McNeice), um sujeito que afirma ter captado uma mensagem de Anna em seu equipamento de som. Apresentado ao FVE por Raymond, Jonathan logo se torna obcecado pela `técnica`, montando um pequeno laboratório em sua casa – e é então que começa a gravar aparições que, surpreendentemente, o avisam de tragédias que ainda não ocorreram.
Durante seus primeiros trinta minutos, Vozes do Além realmente soa promissor: retratando com competência o sofrimento do protagonista, Keaton cria um personagem com quem o público tem facilidade de se identificar – e sua determinação em receber algum sinal da esposa funciona simultaneamente como recurso dramático e para estabelecer um crescente clima de tensão. Além disso, por alguns instantes o filme parece sinceramente interessado em estudar a reação de uma pessoa enlutada e o processo de negação pelo qual todos passamos ao perder alguém próximo: um período inicial de pesar profundo durante o qual até mesmo o mais cético dos indivíduos daria um braço para ter a certeza de que o ser amado encontra-se feliz em `algum outro lugar`.
Pena que, como expliquei no parágrafo inicial, a intenção do roteirista Niall Johnson e do diretor Sax era apenas a de criar um daqueles filmes de terror barato que, por provocarem dois ou três sustos no espectador (algo sempre fácil de se conseguir), arrecadam o bastante nas bilheterias para permitir que os principais envolvidos no projeto possam comprar um carro ou um iate novo. E como concentrar a história em telas com estática poderia cansar o público, o roteiro logo dá um jeito de incluir outros fenômenos `sobrenaturais`, chegando a ponto de mostrar rostos fantasmagóricos surgindo em nevoeiros. E se o conceito de mensagens espirituais vindas do futuro já soa suficientemente absurdo, espere até conhecer o trio de `vilões` criado por Johnson...
Comandando o longa com a mão pesada de quem está acostumado a criar cenas óbvias que prendam a atenção fugaz dos telespectadores, Sax mina os esforços de Michael Keaton (um ator que admiro) ao jamais gastar um minuto que seja para estabelecer melhor as motivações dos personagens. Quando Anna desaparece, por exemplo, Jonathan não parece nada abalado, como se o fato do carro da esposa ter sido encontrado abandonado à beira de um rio fosse algo corriqueiro. E por que ninguém jamais levanta a possibilidade de que as mensagens capturadas por Raymond possam ser fruto de interferência nas transmissões (um argumento comum daqueles que questionam o Fenômeno da Voz Eletrônica)? E mais: por que, oh, Céus, Jonathan jamais volta a visitar um médium, preferindo gastar seu tempo em uma atividade claramente menos eficaz na comunicação com os espíritos? E já que toquei na questão, onde ele consegue tanto tempo para dedicar ao seu novo passatempo? (Ele pede que a secretária desmarque seus compromissos `para os próximos dias`, mas só.)
Mas não é só isso: para estender a duração do filme e justificar o preço do ingresso, Niall Johnson ainda inclui vários personagens que não exercem absolutamente função alguma na narrativa, como a ex-esposa e o filho de Jonathan (a não ser, é claro, que alguém considere aquela patética cena final como justificativa suficiente). Mas o elemento mais ofensivo à inteligência do público é mesmo o sujeito que surge do nada no terceiro ato e cuja rápida aparição anterior é relembrada em um flashback ridículo apenas para que o diretor possa dizer: `Viu? Não tapeamos ninguém! Ele já tinha sido visto antes!`.
No final das contas, a confusão criada pelos realizadores de Vozes do Além é tão grande que até mesmo o herói parece se esquecer de que seu propósito inicial era o de estabelecer contato com a esposa morta.
Assim como nos esquecemos de que, em algum momento, tivemos a esperança de ver um bom filme sobre fantasmas.
18 de Fevereiro de 2005
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