Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
18/04/2008 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Robert Luketic. Com: Jim Sturgess, Kate Bosworth, Aaron Yoo, Liza Lapira, Jacob Pitts, Josh Gad, Sam Golzari, Laurence Fishburne, Kevin Spacey.
Há cerca de três anos, fiz um breve comentário em meu blog sobre o regular documentário Breaking Vegas, que, inspirado no livro Bringing Down the House, de Ben Mezrich, contava a história real de um grupo de estudantes do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) que montou um elaborado esquema para arrecadar fortunas nas mesas de blackjack (ou “
Adaptado por Allan Loeb e pelo péssimo Peter Steinfeld (Quem Não Matou Mona? e A Máfia Volta ao Divã), o roteiro acompanha o jovem gênio Ben Campbell (Sturgess), que, sonhando cursar medicina em Harvard, precisa conseguir os 300 mil dólares necessários para bancar a faculdade. Aluno do MIT, ele logo atrai a atenção do professor Micky Rosa (Spacey), que o convida a participar de um grupo formado por estudantes que, praticantes da contagem de cartas, conseguem aumentar consideravelmente as chances de vitória no blackjack – com a vantagem adicional de, agindo em grupo, dificultarem o trabalho dos cassinos de identificá-los.
Infelizmente, logo de início os roteiristas já adotam uma estrutura óbvia ao decidirem amarrar a narrativa com o desejo do protagonista de ir para Harvard: se até funciona como motivação para que ele entre no grupo (embora, sejamos sinceros, não seja preciso muito incentivo para topar ganhar dinheiro de maneira honesta* e divertida), a idéia da entrevista com o representante da faculdade é artificial e absurda, trazendo a implicação de que o fato de se envolver com brutamontes de Las Vegas poderia impressionar um acadêmico em busca de um aluno “perfeito”. Como se não bastasse, os roteiristas ainda apelam para um dos recursos mais batidos do gênero: o do herói que tem de ir ao inferno e voltar para aprender a valorizar o que tinha antes de tudo começar.
Para que isto funcione, porém, o personagem de Sturgess é subitamente transformado num babaca colossal, numa metamorfose abrupta e implausível que rivaliza apenas com o momento (igualmente artificial) no qual ele abandona qualquer estratégia e joga de maneira descuidada pela primeira vez – uma atitude inexplicável que é adotada pelo roteiro com o claro propósito de criar um conflito que conduza a trama ao seu terceiro e pior ato. Infelizmente, isto acaba comprometendo também o desempenho do carismático Jim Sturgess, que, depois de surgir em Across the Universe, ganha, aqui, sua primeira chance de carregar uma produção como protagonista; e, embora faça um bom trabalho, as mudanças bruscas impostas pelo roteiro fragilizam inquestionavelmente sua composição. Além disso, é absurdo (e mesmo risível) que um “gênio” como Ben Campbell seja capaz de uma imbecilidade como guardar todo o seu dinheiro num mesmo (e óbvio) lugar.
Da mesma maneira, Kevin Spacey fica preso a um personagem igualmente manipulado pelos roteiristas para preencher as necessidades imediatas da trama – e, ainda que crie uma figura bem mais interessante do que o caricato “Mr. M” apresentado pelo documentário de 2004, o ator acaba sendo sabotado pelo ridículo terceiro ato do longa, que o obriga a tomar atitudes inconcebíveis para um sujeito em sua posição. E se Laurence Fishburne interpreta uma figura anacrônica por natureza (figuras como aquela desapareceram de Las Vegas juntamente com a máfia), Kate Bosworth, linda, pouco mais faz do que surgir como o interesse romântico do herói, embora possa se divertir aqui e ali com os disfarces e sotaques adotados por sua personagem.
Responsável pela boa comédia Legalmente Loira, mas também pelo pavoroso A Sogra, o diretor Robert Luketic muitas vezes parece não perceber estar comandando uma produção supostamente dramática – algo que fica patente na terrível cena
Curioso, também, é observar como a necessidade de obter uma censura leve para o filme obriga Luketic a enquadrar várias strippers de maneira absolutamente inofensiva, revelando pedaços de pernas e braços enquanto evita mostrar partes mais “comprometedoras” de seus corpos – e, neste aspecto, o cineasta faz um bom trabalho. Aliás, também é interessante a maneira como ele (ao lado do diretor de fotografia Russell Carpenter) ilumina a cena
Roteiro este que, como já dito, afunda de vez no terceiro ato quando se entrega a reviravoltas frágeis e perseguições sem a menor intensidade com o intuito de tentar amarrar a trama de maneira supostamente impactante e surpreendente – sem perceber que, no processo, fragiliza a história, expondo de vez sua artificialidade com um desfecho não apenas maniqueísta, mas terrivelmente infantil.
* Embora seja algo que os cassinos proíbam com veemência, chegando a banir jogadores de suas mesas, contar cartas não é uma atividade ilegal.
Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!