Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/03/2008 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Craig Gillespie. Com: Seann William Scott, Billy Bob Thornton, Susan Sarandon, Ethan Suplee, Amy Poehler, Melissa Sagemiller, M.C. Gainey, Brent Briscoe, Kurt Fuller, Melissa Leo.
Se há uma lição a ser aproveitada com relação a este Em Pé de Guerra é a de que talvez não seja prudente julgar um cineasta a partir de seu primeiro trabalho: afinal, depois de estrear com este fraquíssimo Em Pé de Guerra (rodado em abril de 2005), o diretor Craig Gillespie realizou, no ano seguinte, o sensível (e infinitamente mais complexo) Lars and the Real Girl – e chega a ser difícil acreditar que o mesmo diretor tenha comandado duas produções tão distintas em um espaço de tempo tão pequeno, já que ambas chegaram às telas norte-americanas com uma diferença de apenas um mês entre suas estréias.
Escrito pelos também novatos Michael Carnes e Josh Gilbert, este Em Pé de Guerra nos apresenta a John Farley (Scott), bem-sucedido autor de um livro de auto-ajuda que retorna à sua cidadezinha natal a fim de receber uma homenagem de seus conterrâneos. Lá chegando, porém, ele descobre que sua mãe (Sarandon) está namorando ninguém menos do que o temido sr. Woodcock (Thornton), professor de educação física que o torturou na infância com seus métodos brutais de ensino. Determinado a por um fim no relacionamento, Farley se une a um velho amigo (e também ex-vítima de Woodcock) com o objetivo de descobrir algo que possa levar sua mãe a romper com o sujeito, mas, no processo, acaba se entregando às inseguranças que lutou tantos anos para superar.
O principal problema de Em Pé de Guerra é de óbvia constatação: os dois personagens principais são igualmente insuportáveis, deixando o espectador à deriva com relação ao processo de identificação com o que ocorre na tela. Se Woodcock é um brutamontes sádico, Farley é um filhinho-de-mamãe inseguro e imaturo que imediatamente põe em risco a própria carreira enquanto tenta alcançar uma vitória insignificante diante de um inimigo que nem sequer o reconhece – e Seann William Scott, embora tenha carisma e algum talento cômico, jamais nos convence da insanidade temporária que toma conta de seu personagem (e simplesmente não acreditamos que ele realmente abriria mão de aparecer no programa de Oprah, por exemplo, apenas para boicotar o padrasto, já que não há urgência na questão). Além disso, as reações exageradas de Farley revelam uma personalidade desagradável, o que cria sérios problemas para um filme que depende de nossa simpatia pelo protagonista.
Billy Bob Thornton, por sua vez, volta a encarnar o tipo sacana cuja amargura é ventilada através da agressividade dirigida a todos que cruzam seu caminho; e sua grosseria é ressaltada através do machismo repulsivo com que trata a namorada, que recebe constantes tapas na bunda e é tratada como um mero objeto sexual - algo que, infelizmente, ela parece apreciar (e é ainda mais lamentável que ela seja vivida por Susan Sarandon, uma atriz conhecida por sua personalidade forte e por seu engajamento político fora dos sets). Mesmo repetindo boa parte da composição que empregou no infinitamente superior Papai Noel às Avessas, Thornton acaba surgindo como o ponto forte de Em Pé de Guerra em função de sua presença intimidante – e é incrível como ele consegue transformar a expressão “Pergunta retórica!” em uma piada recorrente que acaba funcionando até moderadamente. Em contrapartida, a comediante Amy Poehler, sempre caricata, cria um tipo absurdo que não se encaixa na lógica daquele universo, ao passo que Kurt Fuller vem transformando sua presença num sinal claro de produções medíocres.
Sem conseguir dominar o tom da narrativa, Gillespie oscila drasticamente entre a farsa, o besteirol e a comédia de situação, errando claramente a mão em cenas pavorosamente artificiais e sem graça como aquela no restaurante, quando vários personagens repetem a informação de que a mãe do protagonista está transando com o sr. Woodcock (cujo sobrenome, aliás, já é uma piadinha boba e de mau gosto juvenil). Tentando ocasionalmente extrair humor através da estilização, o cineasta também fracassa em sua tentativa pouco imaginativa de apresentar seu “vilão” através de uma câmera lenta em contraluz, além de decepcionar na condução artificial do terceiro ato, que inclui uma resolução fragilíssima e frustrante em seu maniqueísmo. Infantil também em seu esforço de fazer psicologia barata ao usar o pai de Woodcock como explicação para as atitudes do sujeito, Em Pé de Guerra finalmente desmonta ao não exibir a mesma coragem de Papai Noel às Avessas, já que tenta (sem sucesso) humanizar de alguma forma o personagem de Thornton, que deixa de funcionar como antagonista sem tampouco se estabelecer como figura mais simpática.
Encaixando uma piadinha final que ficaria mais à vontade numa sitcom da Rede TV!, o longa não apenas acaba se revelando terrivelmente sem graça como também assusta por sua moral torta, condizente com a do personagem-título – a menos, é claro, que você, como o filme, também concorde que a melhor maneira de criar adultos fortes seja torturando crianças que se encontram acima do peso. Se este for seu caso, posso adiantar duas coisas: 1) o sr. Woodcock se transformará em seu novo ídolo; e 2) torço desesperadamente para que você não trabalhe na área da Educação.
06 de Março de 2008
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