Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
03/03/2006 | 22/06/2005 | 4 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
116 minuto(s) |
Dirigido por Craig Brewer. Com: Terrence Howard, Anthony Anderson, Taryn Manning, Taraji P. Henson, DJ Qualls, Ludacris, Isaac Hayes, Elise Neal.
É incrível que, com mais de dez anos de carreira, Terrence Howard tenha recebido, nos últimos meses, vários prêmios como “Ator Revelação” por seu desempenho fabuloso neste Ritmo de um Sonho. Pois é com orgulho que afirmo ter reparado em Howard já em seu primeiro trabalho importante em um longa, Mr. Holland – Adorável Professor, no qual ele viveu um aluno sem o menor tino musical que, para conseguir se manter no time da escola, se esforça ao máximo para ganhar créditos extras tocando tambor, conquistando o respeito de Holland e do espectador apenas para, tempos depois, ter a vida desperdiçada no Vietnã. É uma participação pequena, mas marcante. Porém, não posso dizer que sempre o admirei: sua atuação como Cassius Clay no péssimo O Rei do Mundo era errática; seu vilão no pavoroso Vovó...Zona era patético; e suas aparições em Olhar de Anjo e Ray não me inspiraram sequer a comentá-las. Mas eis que chegamos a 2005 e, de repente, Terrence Howard surge em nada menos do que três ótimos filmes nos quais cria personagens marcantes e totalmente diferentes entre si: o angustiado diretor de tevê de Crash – No Limite; o reservado tenente Green de Quatro Irmãos; e, agora, o cafetão em plena crise da meia-idade de Ritmo de um Sonho.
“Cafetão em crise da meia-idade”? Taí uma descrição que jamais pensei que escreveria, mas não há forma mais precisa de explicar a natureza do ambíguo DJay, vivido por Howard de maneira complexa e visceral neste longa escrito e dirigido por Craig Brewer. Responsável por três prostitutas (uma das quais se encontra nos últimos meses de gravidez), ele vende drogas para complementar sua renda e é graças a esta atividade que é informado de que o famoso rapper Skinny Black (Ludacris) estará na cidade para as comemorações do 4 de Julho, quando, então, precisará de um fornecedor confiável. Pouco depois, DJay reencontra um velho amigo de colégio, Key (Anderson), e o convence a participar de um projeto ambicioso: gravar uma fita demo a ser entregue a Skinny Black. Compondo um rap sobre sua vida como cafetão, o protagonista sonha em finalmente escapar da existência miserável e criminosa que sempre teve.
Anti-herói mais adequado às produções da década de 70 (o título do filme, diga-se de passagem, surge no melhor estilo da época, acompanhado até mesmo do velho aviso de “copyright”), DJay surge em cena como o marginal que é: um inescrupuloso e violento explorador de mulheres que não hesita em botar um bebê para fora de casa quando vê sua autoridade ser questionada pela mãe do garoto. Frustrado com a própria vida, ele se entrega a questionamentos constantes sobre o futuro, mas, mesmo durante as conversas mais casuais, podemos perceber que suas amantes-funcionárias jamais abandonam uma postura receosa – e quando ele se levanta subitamente, a frágil Shug (Henson) não consegue evitar um salto de medo, certamente traumatizada por inesperadas agressões passadas.
E é aí que o talento de Terrence Howard se mostra fundamental: caso DJay fosse visto como um canalha unidimensional, Ritmo de um Sonho fracassaria de forma colossal, já que jamais nos permitiríamos estabelecer uma identificação com alguém tão desprezível. Assim, o ator acrescenta uma surpreendente suavidade à sua performance, falando com uma voz sempre tensa, sim, mas sob controle. Além disso, há sempre uma frustração comovente em seu olhar – um detalhe importante que torna o personagem acessível ao público. Para completar, DJay se mostra capaz de atitudes surpreendentemente doces e generosas, evidenciando resquícios de humanidade por trás de sua fachada durona.
E há, ainda, sua música. Através de seus versos, temos acesso às suas motivações e receios – e, assim como a comédia stand-up, o rap é bem mais eficaz quando o artista fala sobre algo que lhe é familiar, o que justifica a decisão de DJay de cantar sobre sua atividade profissional. Aliás, é importante salientar que a música composta para o longa, It’s Hard Out There for a Pimp, mostra-se perfeita por conseguir conciliar duas tarefas difíceis: nos fazer acreditar que aquelas pessoas, com seus recursos escassos, poderiam criá-la; e soar suficientemente atraente para justificar o entusiasmo de seus autores. E não deixa de ser tristemente engraçado ouvir a participação das prostitutas como back vocals, já que as mulheres estão sendo levadas a cantar sobre o fato de serem usadas como mercadoria. E o mais incrível: apreciam a oportunidade.
O elenco feminino, diga-se de passagem, é irrepreensível: como Nola, Taryn Manning surge como uma mulher simples e até mesmo ingênua cuja fidelidade para com DJay é simultaneamente inexplicável e lógica. Enquanto isso, Paula Jai Parker encarna Lexus com um convincente ar de desafio, já que está certa de que o cafetão jamais poderia dispensar sua funcionária mais “lucrativa”. Para finalizar, Taraji P. Henson destaca-se como a vulnerável Shug, que, apesar de ter um medo imenso do protagonista, é obviamente apaixonada por este – e, de certa maneira, Ritmo de um Sonho também pode ser visto como a (tocante) história de amor entre estes dois personagens.
Enfraquecendo-se um pouco no terceiro ato, que se revela “arrumadinho” demais, o filme abandona a atmosfera de convincente brutalidade para se entregar a uma conclusão tipicamente hollywoodiana – um erro crasso, já que aqueles personagens simplesmente não se encaixam em um final tão artificialmente conveniente. De todo modo, Ritmo de um Sonho merece créditos por seus dois primeiros atos e pelas performances excelentes que oferece. E estou certo de que o futuro de Terrence Howard continuará a deixar Mr. Holland bastante orgulhoso.
19 de Janeiro de 2006
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