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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
26/08/2005 29/07/2005 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
98 minuto(s)

Procura-se um Amor que Goste de Cachorros
Must Love Dogs

Dirigido por Gary David Goldberg. Com: Diane Lane, John Cusack, Dermot Mulroney, Elizabeth Perkins, Christopher Plummer, Stockard Channing, Ali Hillis, Jordana Spiro.

Depois de assistir a este Procura-se um Amor que Goste de Cachorros, confesso que fiquei curioso para ler seu roteiro, adaptado pelo próprio diretor Gary David Goldberg a partir do livro de Claire Cook. Aliás, acredito que o filme funcione bem melhor no papel, já que é repleto de diálogos espirituosos como aqueles que transformaram Harry & Sally – Feitos Um para o Outro em um clássico moderno. Porém, um bom roteiro pouco significa sem uma direção adequada – e, infelizmente, Goldberg não foi capaz de explorar corretamente sua própria adaptação.

Não que estejamos falando de um roteiro brilhante, impecável: apesar dos ótimos diálogos, Procura-se um Amor que Goste de Cachorros tem sua parcela de equívocos, a começar pela péssima idéia de dar início à projeção com uma série de `depoimentos` que tentam justamente resgatar a sofisticação da narrativa de Harry & Sally, mas que aqui soam forçados e sem a menor graça. Além disso, ao acompanhar as trajetórias de Sarah (Diane Lane) e Jake (John Cusack), o filme muitas vezes apela para `coincidências` absurdas a fim de resolver impasses da trama – o que salienta a artificialidade da história. E, embora o anúncio pessoal que leva o casal a se conhecer realmente tenha a frase `Deve gostar de cachorros`, este é um elemento absolutamente incidental do roteiro, sem importância suficiente para justificar o título. (Por outro lado, devo reconhecer que Deve Gostar de Cachorros é bem mais charmoso e apropriado para uma comédia romântica do que Sou Voluptuosa, outro item – bem mais destacado, diga-se de passagem - do anúncio de Sarah.)

Porém, o grande problema do filme é mesmo a direção sem energia de Goldberg, que parece adotar o estilo Walter Avancini de comandar seus atores, obrigando-os a praticamente sussurrar suas falas. Há uma diferença entre conversar como adultos normais e agir como indivíduos semi-comatosos – e é isto que ocorre aqui. Sim, o casal principal se encontra em uma fase melancólica, mas isto não significa que o longa tenha que mergulhar nesta mesma melancolia. Em Sintonia de Amor, outro belíssimo exemplar do gênero `comédia romântica`, Tom Hanks era um viúvo deprimido, mas isto não impedia o filme de contagiar o espectador com a força de sua narrativa. Já Procura-se um Amor que Goste de Cachorros revela-se uma produção sem entusiasmo ou vida, o que é fatal para seus propósitos.

E isto é realmente uma pena, já que Diane Lane e John Cusack são intérpretes carismáticos e competentes, criando personagens que certamente poderiam brilhar caso não estivessem cercados por figuras unidimensionais como `a irmã intrometida`, `o pai carinhoso e meio doidinho`, `o canalha galanteador`, `o melhor amigo mulherengo` e, é claro, o irritante `casal gay assexuado` (esta é uma regra de filmes como este: os homossexuais têm que ser engraçadinhos e sexualmente inofensivos – algo como um `bichinho de estimação` da mocinha. Desta maneira, os cineastas podem `provar` que não têm preconceito algum, quando, na realidade, estão praticando um tipo ainda mais perverso de intolerância.).

Além disso, o roteiro abusa dos diálogos expositivos (`Você se separou há oito meses!`; `Você deixou Lisa levar tudo!`, `Fui casado por quatro anos!`), o que sempre indica uma certa preguiça por parte do roteirista. E, ainda que a seqüência envolvendo a busca por um preservativo seja eficiente, o filme volta a se comprometer ao deixar buracos grotescos para trás: como, por exemplo, Jake se sustenta, já que `nunca` vendeu um barco e não tem outras fontes de renda aparentes? E por que o personagem de Dermot Mulroney mora em um casebre se tem dinheiro suficiente para comprar um ótimo carro? Como se não bastasse, Goldberg ainda inclui uma seqüência na qual Sarah assume diversas personalidades (com direito a figurinos e maquiagens elaborados) ao sair com seus pretendentes – algo que, sem dúvida alguma, despertaria o interesse de qualquer atriz, mas que simplesmente não condiz com o caráter da personagem.

Utilizando a trilha sonora para pontuar cada sentimento imediato da protagonista – um excesso curioso para um diretor que parece apreciar (até demais) a contenção -, Procura-se um Amor que Goste de Cachorros é um filme bobinho e dispensável. Ah, sim: e que não tem nada a ver com gostar ou não de cães.
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25 de Agosto de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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