Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/01/2010 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por David Bowers. Com as vozes de Freddie Highmore, Nicolas Cage, Bill Nighy, Charlize Theron, Samuel L. Jackson, Donald Sutherland, Nathan Lane, Kristen Bell, Eugene Levy, Ryan Stiles.
Antes, uma confissão: nunca assisti a um episódio da série de animação protagonizada por Astro Boy e nem li qualquer uma de suas aventuras nos quadrinhos. Sim, conhecia a importância da criação de Osamu Tezuka para a popularização do mangá no Japão pós-Guerra e também no estabelecimento da estética do anime, mas não os elementos narrativos relativos ao personagem: para mim, Astro Boy se resumia às aventuras de um menino-robô. Assim, quando finalmente assisti a este longa, fui pego completamente de surpresa pela complexidade dramática da história e, principalmente, pelo pathos contido na narrativa.
Escrito pelo diretor David Bowers ao lado do roteirista Timothy Harris (cujo melhor trabalho, Trocando as Bolas, deu lugar a uma série de comédias frágeis nas duas décadas seguintes), Astro Boy se passa na futurista Metro City que, depois de ver o lixo e a poluição tomar conta da Terra, só encontra uma solução para o problema: desenvolver um mecanismo para que possa flutuar a milhares de metros da superfície, permitindo que seus habitantes continuem a atirar dejetos no planeta sem que isso afete a cidade. Além disso, os robôs criados por um brilhante cientista passaram a auxiliar a população em todas as tarefas, das mais complexas às mais prosaicas – o que, no entanto, parece não ter sido o bastante para que o Dr. Tenma (Cage) encontrasse tempo para ficar ao lado do filho Toby (Highmore), um garoto brilhante, mas solitário. Certo dia, um acidente envolvendo um robô dominado por uma poderosa “substância vermelha” resulta na morte do menino e, arrasado, o cientista decide criar um robô idêntico ao filho e que conte também com todas as suas memórias.
Sim, o garoto morre – algo que eu definitivamente não esperava ver em um longa de animação voltado para o público infantil. Porém, se este incidente já seria o suficiente para que eu visse Astro Boy com outros olhos, o que veio em seguida se revelou ainda mais surpreendente: num misto do que ocorria em Frankenstein e aquilo que Kubrick/Spielberg adotaria(m) em A.I. – Inteligência Artificial, o dr. Tenma não apenas repudia sua criação como ainda se vê estranhamente enojado diante do amor que esta lhe dedica. Mais infantil e ingênuo que Toby, Astro Boy (nome que ele assumirá posteriormente) não compreende por que o pai o rejeita, mas sofre como uma pessoa real. Enquanto isso, o Presidente Stone (Sutherland), responsável pelo acidente que matou Toby, continua determinado a declarar guerra ao povo da superfície (uma população miserável que rejeita a tecnologia) com fins eleitoreiros, já que o conflito poderá ajudá-lo a se reeleger.
Como podem ver, embora seja uma aventura colorida e barulhenta, Astro Boy traz, sob a superfície, uma série de temas surpreendentemente adultos – e mesmo que nem sempre estas alusões mais ambiciosas consigam se encaixar naturalmente na história (as menções a Trotsky e Lenin soam gratuitas e deslocadas), de modo geral o roteiro é inteligente ao desenvolver sua história de forma a prender a atenção das crianças enquanto estimula a curiosidade dos adultos. Além disso, em vez de fazer referências gratuitas a outras obras (algo do qual a série Shrek abusa), o filme apresenta de maneira orgânica elementos como o pequeno grupo de crianças comandadas pelo inventor Ham Egg (Lane), que surge quase como um parente do Fagin concebido por Charles Dickens em seu Oliver Twist (além disso, a similaridade entre Astro Boy e Pinóquio é óbvia). Sim, há piadinhas que remetem a E.T., Pulp Fiction e O Homem de Ferro, mas mesmo estas são desenvolvidas com sutileza, jamais surgindo gratuitas ou como uma sátira barata apenas para divertir o público mais velho.
Com uma direção de arte correta que apresenta Metro City como uma cidade suficientemente intrincada e moderna, Astro Boy também investe em cores brilhantes e intensas e numa fotografia geralmente calorosa e agradável. E se o personagem-título consegue se manter fiel ao design original de Tezuka, é curioso observar que o presidente Stone, embora dublado por Donald Sutherland, parece trazer os traços de Nicolas Cage, que empresta a voz ao pai do herói, o que não deixa de ser curioso. Seja como for, o diretor David Bowers (do divertido Por Água Abaixo) consegue manter a narrativa sempre fluida e envolvente, acertando particularmente na seqüência em que o menino-robô descobre ser capaz de voar, já que somos perfeitamente capazes de sentir a exultação do personagem diante da liberdade conquistada.
Apresentando ainda uma ameaça real que nos faz duvidar da vitória do herói (algo sempre importante numa trama como esta), Astro Boy pode não ser tecnicamente perfeito, já que a Imagi Animation está longe de ser uma Pixar, mas acerta no mais importante: cria e desenvolve um personagem carismático, complexo e tocante. E que, portanto, merece sua própria franquia nos cinemas.
22 de Janeiro de 2010
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