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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/05/2004 21/05/2004 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
87 minuto(s)

Viva Voz
Viva Voz

Dirigido por Paulo Morelli. Com: Dan Stulbach, Vivianne Passmanter, Betty Gofman, Kiko Mascarenhas, Fábio Herford, Otávio Martins, Luciano Chirolli, Graziella Moretto, Ernani Moraes, Paulo Gorgulho, Supla.

A única coisa que você precisa saber a fim de se divertir com Viva Voz é que o filme não se passa no mundo real, mas em uma espécie de `dimensão paralela` na qual todos os personagens parecem estar sob o efeito de anfetaminas. Particularmente, só vim a perceber este fato depois de cerca de 10 minutos de projeção: até então, o comportamento aparentemente exagerado das pessoas na tela soava inexplicável para uma comédia tradicional – algo que o longa não é. Na realidade, Viva Voz pode ser perfeitamente encaixado em um subgênero que fez muito sucesso nas décadas de 30 e 40 e que gerou clássicos como Aconteceu Naquela Noite, A Ceia dos Acusados (e suas continuações) e Jejum de Amor, entre outros: estou falando, é claro, da screwball comedy e de seus tipos excêntricos, seus diálogos ágeis e afiados e sua visão ácida das classes mais altas. Com isso em mente, encarei com naturalidade a aparição de dois policiais, durante o terceiro ato da história, conversando casualmente sobre o que seria `melhor`: perder uma perna ou um braço.

Escrito por Márcio Alemão (a partir de argumento concebido pelo diretor Paulo Morelli), Viva Voz conta a história de Duda (Stulbach), um empresário que está prestes a receber uma quantia em dinheiro que lhe permitirá expandir seus negócios, deixando-o milionário. Decidido a mudar de vida, Duda resolve romper com sua amante, Karina (Moretto), e tornar-se um homem honesto (deixando, por exemplo, de sonegar impostos). Porém, em seu último encontro com Karina, seu telefone celular é acionado por engano, permitindo que Mari (Pasmanter), sua esposa, escute tudo o que está acontecendo do outro lado da linha. Enquanto acompanha indignada a infidelidade do marido, Mari percebe que ele pode estar prestes a levar um golpe do sócio, que pretende roubar o dinheiro destinado aos novos investimentos. Para complicar ainda mais a situação, dois ladrões iniciantes, Alicate (Martins) e Monstro (Herford), seqüestram Duda e Karina – sem imaginarem as confusões que o incidente provocará.

Depois de estrear na direção de longas-metragens com O Preço do Paz (que, curiosamente, permanece inédito no Brasil), Morelli comprova sua habilidade como cineasta ao conferir agilidade e descontração a esta comédia, mantendo a narrativa sempre em movimento - e até mesmo a transmissão das ondas do celular é ilustrada por um bom plano envolvendo efeitos visuais. Aliás, os efeitos criados em computador também são utilizados eficientemente (e de forma discreta) na seqüência em que vemos um grave acidente de automóvel (e utilizar o aumento da ferrugem na calota do carro é uma maneira criativa de indicar a passagem do tempo). Com um clima de constante alto-astral, o filme contém várias reviravoltas, incluindo uma que quase compromete a trama por ser pesada demais (felizmente, ao contrário do que ocorria em Durval Discos, Viva Voz logo corrige o problema com outra reviravolta, mantendo a diversão da experiência).

Já o elenco, que se mostra afinado na maior parte do tempo, tropeça apenas quando permite que o espectador perceba sua vontade de provocar o riso, como se os atores estivessem se esforçando para fazer rir - o que, obviamente, provoca o efeito contrário (Pasmanter, em particular, comete este erro com freqüência). Dan Stulbach, por sua vez, é um protagonista carismático, e a insegurança crônica de Duda acaba se tornando uma das piadas recorrentes da produção (ainda assim, confesso que imaginei como o ótimo Daniel Dantas se sairia neste papel, que parece escrito sob medida para seus maneirismos característicos). Finalmente, o carioca Kiko Mascarenhas consegue a proeza de transformar Flavinho, o secretário gay de Duda, em um dos personagens mais engraçados da trama sem cometer o erro mais comum entre os atores que vivem homossexuais em comédias: carregar na composição. Flavinho tem seus trejeitos particulares, sim, mas jamais se torna uma caricatura grotesca como aquelas vistas nos programas de humor da tevê brasileira.

É claro que nem todas as piadas vistas no filme funcionam – e nem sei como poderiam, já que praticamente todos os diálogos envolvem algum tipo de tirada. No entanto, ao contrário do que ocorria em Todo Mundo em Pânico 3 (que também apostava na quantidade de gags), Viva Voz mantém o espectador sempre com um sorriso no rosto. Isto quando não estamos gargalhando incontrolavelmente. E, antes que alguém questione o absurdo da duração das baterias de celular vistas no filme ou o fato de que a ligação jamais cai, lembre-se: os aparelhos também estão sob o efeito de anfetaminas.
``

15 de Maio de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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