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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/01/2006 28/09/2005 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Direção

John Fawcett

Elenco

Maria Bello , Sean Bean , Maurice Roëves , Abigail Stone , Sophie Stuckey , Richard Elfyn

Roteiro

Stephen Massicotte

Produção

Paul W.S. Anderson

Fotografia

Christian Sebaldt

Música

Edmund Butt

Montagem

Chris Gill

Design de Produção

Eve Stewart

Figurino

Ffion Elinor

Direção de Arte

Ed Walsh

Escuridão
The Dark

Dirigido por John Fawcett. Com: Maria Bello, Sean Bean, Maurice Roëves, Abigail Stone, Sophie Stuckey, Richard Elfyn.

Em circunstâncias normais, eu provavelmente teria percebido que Escuridão seria um filme ruim já aos cinco minutos de projeção, quando o roteirista Stephen Massicotte utilizou um dos truques mais irritantes e previsíveis do manual do gênero terror, incluindo uma seqüência de pesadelo – algo que normalmente indica falta de imaginação e desespero para aumentar o tempo de duração do projeto. No entanto, eu não poderia ter este pressentimento aos cinco minutos de filme, considerando que já o tivera aos 30 segundos, quando o nome de Paul W.S. Anderson surgiu como um dos produtores do longa – e, infelizmente, eu só posso dizer uma coisa favorável a respeito do responsável por filmes como Resident Evil e O Soldado do Futuro: ele divide dois nomes com o diretor de Boogie Nights e Magnólia.

Inspirado em livro de Simon Maginn, Escuridão traz Maria Bello como Adèle, uma mulher problemática que, depois de ficar algum tempo separada do marido, resolve encontrá-lo no país de Gales, para onde ele se mudou. Viajando ao lado da filha adolescente, ela tenta se reaproximar da garota, com quem vem tendo sérios desentendimentos – e seu isolamento torna-se ainda maior ao perceber a ligação cada vez mais estreita entre o marido, James (Bean), e a filha, Sarah (Stuckey). É então que Sarah desaparece no mar, vítima de um aparente afogamento, e Adèle descobre que, no passado, dezenas de integrantes de uma seita se atiraram no mar exatamente naquele lugar – e, sendo este um filme bastante inteligente, a heroína logo conclui que (preparados?) a filha só pode estar sendo mantida prisioneira entre o mundo dos vivos e o dos mortos. E é então que surge uma garota, Ebrill (Stone), supostamente morta há 50 anos, que agora parece querer (pergunto de novo: preparados?) tomar o lugar de Sarah como filha de James.

Ah, mas a garotinha logo revela ter más intenções – algo que deveria ter ficado claro quando descobrimos que somente sua presença maligna seria capaz de provocar a morte de dezenas de ovelhas e... Um momento. Pessoas saltando de despenhadeiros? Ovelhas morrendo misteriosamente? Uma garotinha de natureza sobrenatural e afeita a crueldades? Substitua `ovelhas` por `cavalos` e teremos... tchan!... O Chamado! Não é à toa que o cineasta John Fawcett filma os personagens suicidas saltando de maneira idêntica à mãe da temível Samara no longa estrelado por Naomi Watts. Se a história não pode ser original, por que a direção deveria ser?

Escuridão é um daqueles filmes repletos de correntes de ar, de sussurros ouvidos pela casa e de acordes altos e súbitos na trilha sonora sempre que alguém surge em cena. Há um momento, então, que beira o ridículo: Sean Bean e Maria Bello estão concentrados em um buraco na parede (não perguntem!) quando, de repente, escutam uma voz de criança cochichando: `Eu sei onde ela está!`. Quando se viram, percebem que Samar... perdão, que Ebrill está no aposento e a menina, já com voz normal, começa a explicar o que sabe. Por que, então, ela sussurrou inicialmente? Porque o diretor julgou que seria mais `arrepiante`, só isso.

Demonstrando ter um talento à altura do produtor do filme, Fawcett apela para todos os truques básicos da profissão: sempre que quer indicar uma cena tensa, emprega a câmera na mão de forma absurda, criando movimentos caóticos que provocam mais náusea do que medo – isso quando não cria planos subjetivos sem o menor significado ou lógica (observe quantas vezes a câmera é posicionada no nível da superfície da água, como se representasse o olhar de... sei lá, um tubarão? Um peixe-palhaço? Uma alga?). Além disso, o diretor encontra um parceiro de crime no montador Chris Gill e, juntos, criam seqüências com cortes rapidíssimos que jamais permitem que o espectador veja com clareza o que está acontecendo na tela. Somam-se a estes fatores a fotografia óbvia, com seus flashbacks superexpostos, e a trilha sonora que confunde volume e clima: para criar uma atmosfera de suspense, o compositor Edmund Butt parece acreditar que basta acrescentar uma trilha que ensurdeça a platéia. (Será que seu sobrenome é uma referência ao local de onde saem suas idéias?)

Encerrado com um terceiro ato inacreditavelmente pavoroso (o roteirista parece ter enlouquecido durante os trabalhos e, sem perceber nada, continuado a escrever), Escuridão é pior do que um filme ruim: é um filme ruim que se recusa a chegar ao fim, inventando novas e absurdas maneiras de continuar a torturar o espectador. Sempre que a projeção parece chegar a uma `conclusão` (se é que podemos chamá-las assim), o roteiro dá uma de Jason Voorhees e volta dos mortos para aterrorizar os vivos.

Ainda assim, é possível que algumas pessoas saiam do cinema dizendo que se assustaram com o filme. Isto, no entanto, não representa mérito algum: os sustos aqui são provocados não por uma história amedrontadora ou por uma narrativa tensa, mas por explosões sonoras. Para saber se um longa é assustador em função de sua história ou de trapaças técnicas, basta responder a seguinte pergunta: se você estivesse dormindo no cinema, seria assustado do mesmo jeito? Se a resposta for `sim`, siga este conselho: em vez de gastar dinheiro com o ingresso, peça para um amigo gritar `Bú!` quando você estiver distraído. O resultado será exatamente o mesmo.
``

13 de Janeiro de 2006

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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